“Cartas de Amor”.
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Aaron Caronte Badiz
Muito obrigado a todos que colaboraram com esta “blogagem coletiva”!
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Meu amor,
Andava pelo parque e me sentara à sombra de uma árvore, curtindo a manhã de sol e a suave brisa que fazia com que aqueles atletas de fim de semana não suassem tanto, não cansassem tanto.
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Bom dia minha sempre cara,
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Foi ontem e foi há mil anos, tenho pensado em ti como não se deve pensar, meu espírito deixa a condição de sombra alçando um voo de condor, no pensamento, vou dar em paragens do desconhecido entrando por lugares que jamais ousei. Depois do pouso, é como eu passasse em revista a minha vida, ouvindo o eco dos perdidos sonhos. Como tudo já foi belo... Minhas mãos carregam diamantes desbotados, arrancados da terra distante da inocência; hoje, não brilham mais. E cada nome é um fantasma, e cada assombro traz na boca o sabor acre do sangue paralisado. Há um segundo tudo era azul mas, como é inútil eu tentar iludir a mim mesmo... Agora, depois desse tempo cinza, venho a uma sala que já não cria. Depois daquele horizonte baço não desejava mais que um pouco de luz, e tu colocaste o sol a meus pés. Mas como posso querer dizer como é se sentir vivo outra vez? Como é ser desacreditado na vida e ao passo do teu menor sorriso entender que tudo é possível?
Há pouco tempo vim saber teu nome, embora conhecesse a tua vinda desde antes do sempre. Eu conheço tua respiração e cada passo de tua estrada, sei que não posso evitar as feridas do caminho, mas posso oferecer meu bálsamo pra trazer conforto a seus pés. Às vezes me coloco em um ponto remoto e fico a observar nós dois, me perco e cismo que você é um anjo, porque o teu rosto me faz pensar em Deus. E tremo por cada polegada de teu corpo, e por cada sulco que o exílio tenha gravado em tua pele. Permaneço não aqui, estou no pretérito, revendo coisas que não existem mais... Rasgo o tempo com a memória, no regresso febril das impossibilidades, os nomes pelos quais chamei pensando ser você passam por mim, como um desfile de almas que passa ao purgatório. E reencontro minha confiança; meu escudo e lança, no teu nome sem nome, no teu santuário sem corpo.
Tenho em ti tudo quanto há de belo e puro nessa terra amaldiçoada. Todavia, a alma é vil e meus sentidos profanos. E, quando mais, saio louco por entre bosques e abismos, em noites sem lua e sem alento, me odiando por maculá-la em pensamento. Quero estar em ti antes mesmo de minha chegada, quero arrancar teu sexo com meus dentes pra que te conserves pura de mim. A alma bestial vacila ante o sacrário que és, dá-me de beber o teu sangue, dá-me de comer tua carne, morra em mim pra que eu renasça em ti. Imola-te em meu nome, e esse sacrifício será o sinal de um mundo novo...
Minha cara, meu não existir e meu Ser sem termo. A você tudo de melhor.
Porto Firme, 31 de agosto de 2009.
*Thay, a você o meu carinho e as minhas reverências.
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Escrevo esta carta para dizer que depois de tantos anos tentando esquecê-lo, vi você ontem à noite saindo do shopping sozinho e era dia dos namorados. Naquele instante, tudo voltou: nosso esbarrão engraçado no parque de diversões, o primeiro encontro com aquele beijo desajeitado de despedida, os passeios, a primeira briga debaixo da chuva, os carinhos (muitos) e a separação quase sem motivo.Imagem: Galeria pública de Niamh
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Não sei o que faço aqui escrevendo-lhe estas linhas. Acho que não tenho mesmo vergonha na cara. Depois de tudo o que você me disse, ainda tenho coragem de lhe procurar!
Mas é que o amor é cego, é surdo, é idiota mesmo.
Na ausência do objeto do amor, fazemos tudo, tudo mesmo para tentar preencher este vazio que se instala e que nenhuma outra pessoa consegue preencher. E aí, escapam pela mesma fenda que se abre no nosso peito, o amor-próprio, a vergonha e a sensatez. E um grito desesperado se faz ouvir pedindo que volte aquele que se fez dono do nosso coração sem ter pedido licença.
Assim, estou aqui implorando para que volte pra mim, não para encontrar a pessoa que você pensou que eu era e que por não ter conseguido concretizar quando vivemos juntos, se decepcionou. Mas para descobrir aquela que sou na realidade, com luz e sombra, de carne e osso, de mãos ternas e unhas afiadas, que sabe calar e que pode gritar para que sua voz seja ouvida.
Eu tenho o direito de me fazer conhecer e de lhe pedir que seja homem e que enfrente o despertar de um sonho bom. Quero que acorde e venha comigo construir um amor verdadeiro, feito de acertos e erros e superação.
Estou aqui porque sei que nos amamos. Eu sei o quanto o amo e, como você talvez ainda não tenha compreendido a dimensão do seu amor por mim, sou eu quem deve pedir: volte, tente me encarar e encontrar no fundo do meu olhar o lugar que é só seu, onde nossas almas se encontram e se reconhecem.
Te amo.
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Resisti a escrever-lhe por este tempo, já que palavras não teriam como expressar completamente o que sentia. Agora, sabendo que é a única forma de estar outra vez em contato com você, envio-lhe esta carta. Você pensa que o que senti por você esvaiu-se? Engana-se. É um fogo que se nutre com o passar das horas de sua ausência. E que ilumina até agora todo o meu ser que só sobreviveu à sua partida para reencontrá-la uma outra vez. E que espera ansioso por este momento, pode ter certeza disso.
Era uma mulher de estatura média, porém passava despercebida por onde quer que fosse. Ninguém a enxergava, ninguém a via.
Você, por acaso, já reparou como os dias de chuva são deprimentes?! Não, não é porque esses dias te inspiram um automático tédio, ou porque o céu nublado e aquele vento frio te fazem lembrar de coisas tristes ou no que você poderia estar fazendo se estivesse um sol daqueles.
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