Creative Commons License


Bem-vindo ao Duelos!
Valeu a visita!
Deixe seu comentário!
Um grande abraço a todos!
(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




terça-feira, 30 de junho de 2009

Tema do Mês de Junho: “A Vida Continua...”

.
.
Caríssimos amigos:
.
.
Estamos publicando, pela primeira vez, os posts referentes ao “Tema do Mês”.
.
Hoje só foram postados os textos relativos ao tema.
Os textos recebidos que versam sobre outros assuntos serão publicados amanhã.
.
.
.
Participantes
.
.

Adir Vieira
.
.
Ana
.
.
.
.
Ninguém Envolvente
.
Penélope Charmosa
.
.
.
Agradeço a todos que participaram!
.
.
Um grande abraço!
.
.

Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Ana

Kbçapoeta é único, profundo, intimista, por vezes hermético. Este post foi um dos primeiros que ele publicou no Duelos. Li e reli várias vezes e, em todas elas, o choque diante do desfecho foi o mesmo. Muito bom autor o Kbça, muito bom o poema!



A VIDA CONTINUA
(KBÇAPOETA)

Quando nasci perguntei:
Por quê?
Quando esse porquê foi resolvido
Já era resposta obsoleta
Sendo resposta obsoleta
A vida continuava vazia
Sendo vazia
Obsoleto tornara-se meu viver
decidi passar a propiciar como cupido
Um delicioso e sensual encontro
A navalha deslizando em minha garganta
Nua
A seiva vermelha jorra aos borbotões
E a vida continua
.
.
.
Visitem Kbçapoeta
.

A Vida Continua... - por Adir Vieira

São sete horas da noite. O dia todo choveu e as folhas caídas das árvores me falavam, entre um balançar e outro, da melancolia.
Tudo ao redor reverenciava a tristeza daquela mulher. Parecia que todos deveriam sentir, como ela, que os dias seriam cinzentos para sempre.
Acabo de chegar à Igreja, onde será rezada a missa de sétimo dia do seu marido.
Eu e outras tantas amigas prostradas na escadaria da Igreja, meia hora antes da cerimônia, a esperávamos ansiosas, buscando tentar saber o que dizer ou fazer no momento do encontro. Todas nós nos entreolhávamos, como a pedir socorro umas às outras.
A viúva, coitada, nesse momento, precisaria de braços mais que acolhedores... Compreensivos e silentes, como sua grande dor...
Todas nós conhecíamos sua vida até ali, vivia em constante lua de mel. Por mais de quatro décadas, nunca, em tempo algum, a tínhamos visto separada fisicamente do marido. No mercado, onde duas vezes por semana, religiosamente, os dois iam às compras, caixas e atendentes os tinham como exemplo de companheirismo e harmonia. Nos almoços de negócios do marido, quando adentravam o salão do restaurante, de braços dados, demonstravam naturalmente o amor que os unia e chamavam a atenção dos presentes pela sua felicidade contagiante. Em convívio com os netos, nos finais de semana, mais pareciam pais e educadores do que, propriamente, avós, apesar de sua idade avançada, pois seus atos eram totalmente contrários às rebeldias dos idosos, à falta de calma que tempera os ânimos do mais vividos. Faziam questão de ter e com facilidade mantinham o frescor da juventude, dos tempos áureos.
Não fosse por tudo isso, a surpresa quando foi anunciada a morte pegou-nos a todas nós desprevenidas. Durante todos aqueles anos de convívio direto, fora gripes e achaques naturais da idade, não conhecíamos nem participamos de doenças em um ou em outro.
Ali, na escadaria da Igreja, esperávamos encontrá-la miserável, em frangalhos mesmo, pelo acontecido.
Eis que uma porta de carro se abre e ela, auxiliada pelo motorista, surge com o mesmo sorriso de sempre a nos cumprimentar.
Ela sim, surpreendida com o nosso semblante sofrido, parece querer nos consolar, quando, sem deixar espaço para as nossas lamúrias, resume com firmeza tudo o que cercou o falecimento e finaliza confiante e cheia de esperança, dizendo que, apesar de tudo, a vida continua...
.
.
Visitem Adir Vieira
.

Contradição - por Alba Vieira

Quando você se foi, de tão grande a dor, pensei que fosse arrebentar. Meu peito doeu quando seu espírito deixou o corpo e me senti completamente esvaziada e perdida. Estava em choque. Não conseguia acreditar.
Desde a semana anterior à sua morte, eu sabia que ia acontecer e imaginava como seria. Mas, na hora, foi algo totalmente novo e inesperado. Precisei então tomar as providências cabíveis e ao mesmo tempo queria estar ao seu lado, ao lado daquele corpo de quem eu já cuidava há tanto tempo e com tanto zelo. Seguiu-se uma espera de incalculável tempo, arrumei sua roupa, seu corpo foi guardado e enfeitado de flores coloridas que eu dispus misturando com outras de pétalas brancas, como que pintando um quadro, como tantas vezes eu fiz com as tintas pra depois mostrá-lo e você me dizer que gostava que fosse bem colorido, usando muito vermelho, amarelo, azul, verde, rosa etc. etc. No dia seguinte, lhe fiz todas as homenagens que consegui fazer, algumas secretamente, que só eu poderia entender e me amparei como pude, para suportar a dura realidade, a sua falta.
Seguiram-se outros acontecimentos dolorosos na família que tentavam ocupar minha mente e minhas horas, talvez na tentativa da Vida de me desviar da minha própria dor. Cuidados necessários a outras pessoas me impediram de assistir à sua missa de sétimo dia, algo totalmente inusitado e extremamente doloroso para mim, mas que me ensinou na prática a me desdobrar, estando ao mesmo tempo em dois lugares: naquele onde eu era necessária em corpo e no outro, mentalmente, onde meu coração desejava. Assim, fiz tudo que devia fazer, embora emocionalmente estivesse paralisada pela dor da sua morte.
Chorei o quanto pude, sozinha. A pior dor foi a da primeira noite sem você, uma dor visceral que me causou frio extremo e me corroeu por dentro.
Então percebi que devia sobreviver, que tinha que desarrumar a casa e tratei para que não houvesse uma desestruturação maior da família. Agi como você agiria, fiz da melhor forma que consegui. Tudo se harmonizou na medida do possível considerando-se que era a perda da matriarca, em torno da qual tudo e todos giravam.
Aí, aos poucos, eu fui podendo entrar em contato com a minha própria dor: eu precisava tê-la de volta, não me acostumava à sua ausência nos meus dias e noites. Sofri e chorei e me senti perdida e sozinha, mesmo no meio dos outros que eu amava. Ninguém seria capaz de preencher o seu lugar na minha vida que, entretanto, devia continuar.
Encontrei como saída para enfrentar o sofrimento, escrever para você o quanto fosse necessário. Eu lhe contaria toda falta que você me faz, tudo que fosse acontecendo em minha vida, pediria seus conselhos e orientações como sempre fiz.
O tempo passou, eu melhorei, ainda sofro, choro, meu peito ainda dói, minha garganta aperta quando sinto a vida agora tão diferente e vazia.
Nesse momento, eu me pergunto quem sou se sempre só fui aquela que a seguia e amava com veneração.
E a cada dia tomo contato com uma parte de mim que ainda não conhecia, como se, aos poucos, fosse nascendo, podendo sem você, ser inteiramente. Ser infeliz por tanto amor, por não tê-la junto e porque a vida continua.
Até que fique apenas a saudade que faz companhia na ausência e acalma a dor da perda, trazendo quem se ama para perto outra vez com as lembranças felizes quando for necessário.



Visitem Alba Vieira
.

A Vida Continua... - por Ana

Tramo meus ardis sozinha, longe de você. E isso te interessa? Nem um pouco, eu mesma respondo. E vou vivendo, sonhando, querendo, deslizando, orientando minhas vontades para tão distante de seus caprichos e de sua cama. Desejo a sua morte, lenta ou fulminante... não importa. Eu quero é liberdade. Eu tive um sonho, nele você não estava e justamente por isto foi tão bom. Desapareça de uma vez antes que eu perca a cabeça. Não quero me prejudicar ainda mais por sua causa, não quero esta prisão, este caos, esta loucura. Não há entendimento, não há relação, nem ao menos um olhar. Solidões paralelas em mundos que se chocam, isto sim é o que há. Impossível prosseguir. Anos de maus tratos e eu ainda aqui, numa obrigação legal e imoral. Estou enlouquecendo, eu sinto. Há pensamentos nebulosos se formando dentro de mim, ânsias antigas que se agigantam e me dominam. Cada vez mais me delicio com este prazer futuro e me assusto por não encontrar remorso, mesmo procurando com os potentes holofotes de minha consciência. Sim, estou consciente, cada vez mais. É só isso. Devo agir. Foi o que aprendi desde cedo: não se deve reprimir os desejos. Sou uma boa aluna. Percebo nitidamente, agora, que completei meu aprendizado. Você sempre fez tudo que teve vontade, manifestou seus desejos de forma crua, direta, absoluta e cruel. Todas as vezes em que tentei me matar, agiu como se nada tivesse acontecido. Agora é minha vez de ignorar e a sua de ir embora. Esta limitação que te prende ao leito e te impede as reações me deu força e coragem para decidir. O travesseiro que te amacia os sonhos te trará sono eterno.
Está feito. E eu, liberta, sem memórias, apenas um caminho à frente. Antes de partir repito a seu corpo o que tantas vezes ouvi dos lábios de seu egoísmo: “Me importar? Eu? A vida continua.”.
.

Ad Infinitum - por Anin

Todos os dias elas se encontravam ali. No centro da sala, na mesma mesa. A vida escrita nos rostos. Mãos incertas. Olhos passivos. Iguais na sua diversidade.
Todos os dias as lembranças comiam no mesmo prato. E lágrimas furtivas enraleciam o feijão com farinha. O barulho das colheres coloria as pausas da memória. E as histórias ganhavam nova aquarela.
Um dia uma delas se foi. A cadeira ficou vazia. As outras três fingiram não perceber. Continuaram falando com a ausente. E até viam as lágrimas que ela escondia. E ouviam barulho de sua colher cobrindo o choro delas.
Foi assim durante dias. Até que a cadeira foi novamente ocupada. Os olhos das três acordaram. E neles a tácita certeza. Haveria sempre outras histórias ocupando cadeiras vazias. A vida sempre continuaria.



Visitem Anin
.

Quarto 22 B - por Duanny

.

.
.
.
O teto era de madeira, somente madeira; aparentemente dispensaram, mesmo que temporariamente, o uso do verniz. E nesse teto só há uma lâmpada, simples e sozinha, empoeirada e ignorável.

No quarto também havia um único guarda-roupa, mogno, de casal, trancado misteriosamente à chave, deixando minha curiosidade elétrica, capaz de ultrapassar o mogno e vasculhar seu interior em busca de um amante perdido. Aqui há também duas camas, de solteiro, obviamente ignorando a presença de um guarda-roupa para casal e se desfazendo em dois, um de cada lado, em mogno, propriamente dizendo.

Da janela, mediana, de madeira, pintada a verniz, eu vejo a rua, vejo a vida. É assim que ela entra, com o vento, mas o meu ventilador a captura antes que eu possa saboreá-la e a transforma em tédio. A cortina, azul, balança... ora com a vida ora com o tédio, o que faz o sono despencar sobre minhas pupilas e me querer fazer lutar contra tudo isso.

Posso ouvir o portão se abrindo, se fechando, e mesmo que você não esteja aqui, como o sol para iluminar minha vida, consigo sentir o mormaço da sua voz, a temperatura da sua pele, e então começo a soar saudade misturada com rancor e deixo tudo pingando no assoalho de madeira.

A vida lá fora, a que eu consigo ver, continua sem mim, ela se faz sem mim, como se pudessem me trocar por um programa ridículo da TV de domingo, como se a minha presença solitária nesse quarto pudesse ser apagada em segundos, e ninguém se lembrará de mim.

E eu continuo aqui, esparramada e confortavelmente extasiada em uma das camas, observando a vida, sentindo o tédio e o seu mormaço, pingando a saudade, e mesmo que tudo nunca volte ao normal, e mesmo que eu seja apagada de sua vida, continuarei aqui, no quarto, lutando bravamente contra minha própria coragem.



Visitem Duanny
.

A Vida Continua... - por Maelo

Trague o passado sombrio e solte à fumaça na atmosfera que balança as ondas. Respire fundo o ar de um novo dia e encare-o como uma oportunidade de construir um futuro brilhante. Justo. Ético. Sustentável.



Visitem Maelo
.

A Vida Continua... - por Manhosa

Recomeçar... é a vida...

Na conquista...
Todos os sentimentos atiçados...
Embarcar nos sonhos...
Viver os mistérios...
Delirar com as surpresas...
Buscar o todo... mesmo por caminhos incertos...
Voar muito alto... libertar a alma....
O coração batendo aceleradamente...

Amar.. fazendo o próprio caminho...
Sem medo... acreditando...
Se sentindo especial...
Sendo envolvida... acarinhada...
Sentindo que as estrelas brilham em razão de...

Nesta loucura de se fazer querer...
O querer... o ser... o ter... se confundem...
Misturam-se os sentimentos...
As vibrações são banhos de energias...
Os sonhos alcançam... os limites do finito...

Se...
A meta é atingida...
A felicidade é indescritível...
Mas...
Se...
Valeu pelo carinho do envolvimento...
Pelo sabor da paixão...

Recomeçarei... enquanto tiver vida...



Visitem Manhosa
.

Fúnebre - por Ninguém Envolvente

O suave cântico dos espíritos amedrontados
o levam daqui, para um moinho abandonado
(sua consciência)
Você os olha, porém não os vê
eu os sinto sempre ao meu lado
eles me assustam e sempre querem ficar aqui
onde as almas se apegam e não aceitam a própria morte.
Eu não sei como ajudá-los
a não mais respirar,
eu tento duramente parar esta sensação tão morta
mas é em vão.
O cântico prossegue e o culto às almas
perdidas, continua rumo a eternidade.
E o mundo real está cada vez mais fúnebre
existem mais espíritos aqui, do que
onde realmente deveriam estar.
Espíritos decadentes que fazem você e
sua consciência correrem para
um campo mental (sanatório)
mas não adianta correr...
Eles te encontram e seguram sua vida
para todo o sempre.
Se renda ao cântico fúnebre
e encontre a luz.



.

Vergílio Ferreira e a Nossa Morte - Citado por Penélope Charmosa

O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado.



In “Escrever”.
.

A Vida Continua... - por S. Ribeiro

Ontem minha epifania foi o cansaço. A epifania é se perceber mastigado pela burocracia, pelos governos, pelo desinteresse e o barulho que todos ao meu redor depositam no silêncio que cultivei até pegar aquele ônibus que no infinito surge e da demora se destaca; ele é uma carcaça e eu, seu miolo.
Meus dias de poeta se acabam, pois o que deve ser ouvido? O que de mim merece ser dito? Eu minto? Retorno ao silêncio, que é absoluto, e certo estou que no escuro sempre entendo a tudo e todos. Por quê?
A coragem em me matar foi afogada por Deus, Ele bem sabe. E sei que dum profundo céu preciso, para esquecer a juventude que pulsa e os amores não tidos e os sonhos não construídos e as memórias puídas...
Sei que sou pouco enquanto a vida me desloca sem pedir permissão ao meu senso de direção. Enfim de um equilíbrio tolo estou vivendo, talvez só precise de uma boca em meu pescoço. Enfim de um equilíbrio tolo estou fazendo o que acho melhor e meu corpo entende: continuar a passar.



Visitem S. Ribeiro
.

A Vida Continua... - por Tércio Sthal

Acenda a chama viva da esperança,
acenda a lanterna entre as sombras,
não poupe esforços, vá em frente,
vivendo a vida com plenitude;
como se fosse o único e último momento
ressuscite a criança em seu adulto vivo.
Semeie sonhos, esperanças, amor e fé,
tão intensamente quanto o pulsar do seu coração.

Se o sol não brilhar no céu,
e se as esperanças se forem,
saiba que isto não é o fim;
surgirão flertes e amores
a lembrar perfumes e cores
e, quando chover, a chuva trará,
o mais belo dos arco-íris
com o seu ajuste de cores.



Visitem Tércio Sthal
.