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Eróticos.)




quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Passageiro - por Leo Santos

De repente quis
não mais escrever
sobre coisas que passam;
passei a não ter o que fazer…

Ora, tudo o que podemos,
é contar a saga de uma passagem,
na tola presunção de criar,
somente viajamos, com sonhos e bagagem.

Ficam pegadas, reles impressões,
enfim, nosso jeito com a leitura;
tíbias interpretações,
camufladas entre figuras.

Inevitável, o resignado, constatar
que tudo ficará pra trás;
no máximo como uma pista,
onde um especialista colherá digitais…
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Visitem Leo Santos
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Consciência - por Alba Vieira

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Sou independente por natureza.
Nunca suportei que me dissessem por onde devia ir.
A não ser a percepção do erro que, inevitavelmente, corrige a minha rota.
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.Visitem Alba Vieira..............
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Fuga - por Esther Rogessi

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Quando o homem foge de si,

Atravessa mares, vai a lugares

Aonde nunca pensou ir...

Em uma busca incessante,

Tamanha ânsia é seu existir.

Sobe as mais altas montanhas,

Desbrava matas, busca a exaustão...

Esmurra o vento... Luta é alento,

Em pura contradição...

Quando o homem foge de si,

Vai de encontro à aflição

Como insistir em procurar

É preciso antes se encontrar!...

Pois por mais voos que alce um pássaro

Preciso é a terra tocar...
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Memórias de um Seminarista (Parte XVIII) - por Paulo Chinelate

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Tão logo terminamos o retiro espiritual neste final de ano de 1963 fomos liberados às férias familiares.
Confesso que nunca estive tão ansioso por espairecer junto aos meus queridos pais e irmãos.
Têm-me ocorrido pensamentos de voltar definitivamente ao convívio dos entes queridos. Não que haja da parte do ambiente de internato algo que cresça repúdio por ele, pelo contrário, tenho vivido dias de maior integração com meus amigos. Mas a sensação de estar em lugar errado não desapega de meus pensamentos. Vou completar dezesseis anos dentro de quatro meses. Apesar dos motivos que me trouxeram ao seminário tenham sido outros que não o vocacional, durante estes últimos anos tinha já aceitado ser do ambiente religioso a dedicação de minha vida. Mas, há alguns meses que venho tendo frequentes inclinações a querer outra coisa que não a vida celibatária e “reclusa”.
Li e reli muitos assuntos da vida militar. Fascinam-me a vida da caserna, a disciplina de soldado, a possibilidade de ter um dia voz de comando e quem sabe galgar a carreira dos grandes heróis da pátria. Sou filho de um ex-combatente da última guerra mundial. Sempre que papai relata os feitos de batalha, como que um frenesi abate sobre mim.

Estou em Juiz de Fora para passar o Natal, fato que desde 1960 não ocorria.
Está sendo maravilhoso poder compartilhar momentos íntimos com meus nove irmãos. Agora somos dez. Mamãe há cinco meses recebeu a visita de mais um irmãozinho. Como praxe em toda família de italianos, fui escolhido, como o mais velho, juntamente com minha irmã Conceição, convidado a ser o padrinho de batismo do bruguelo. O Maurinho dá início a uma lista de afilhados que certamente terei por toda a vida. Se o ambiente pessoal familiar se modificou durante estes últimos quatro anos por conta do desenvolvimento de meus irmãos, o espaço físico também teve suas variações. Por conta de papai estar agora com trabalho fixo, tem aprimorado a casa adaptando-a tanto ao maior conforto quanto ao crescimento da turma.
Por tudo isto, tenho pensado em poder retornar ao ninho que eu abandonara só para ser uma boca a menos.
Os companheiros de rua e bairro, assim como eu, cresceram. Como é gostoso encontrá-los, não mais nas molequices de outrora, tempo que nos parece longínquo, mas agora às saídas da missa das sete da noite, ou nos papos de esquina da pacata Rua Inácio Gama no Bairro de Lourdes.
As visitas aos parentes é uma praxe que mamãe não perdoa. Em alguns momentos, estes passeios são puramente agradáveis. Visitar minhas primas Terezinha, Maristela, Lena e Marice Cal. Meus primos Waltinho, Zé Carlos, João Batista e Juarez. No entanto, a paparicação de meus tios e avós me incomoda. Sou visto como o “santinho”, o “padre” da família. Sentimentos vão de choque contra a minha breve intenção, ainda secreta, de sair do seminário. Permaneço, portanto, em palpos de aranha. Calo-me ainda. Não sei qual seria a reação de papai e mamãe quando e se eu decidir por isto.
Terminados os vinte dias de tão breve descanso retorno às lides, agora se apresentando rotineiras, do seminário.

Passados alguns dias das ainda vívidas férias, o quadro nacional é perturbado por densas e negras nuvens. A política, diariamente acompanhada pela voz do locutor da Rádio Globo, o Repórter Esso, Heron Domingues, avalio o distúrbio que o Presidente João Goulart vem trazendo à nação desde a renúncia de Jânio Quadros.
O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, achincalha o sentimento mais profundo, religioso, do Brasil fazendo publicar em primeira página uma estampa grotesca de Nossa Senhora Aparecida. Estão anunciando, em tintas pesadas o que será do Brasil caso opte pelo socialismo de cores soviéticas.
A condecoração do guerrilheiro Che Guevara por Jânio Quadros quando ainda presidente, a visita do presidente Goulart à China Comunista, o envio de caravanas de políticos, professores e estudantes à Cuba e à China, apoio governamental a invasões de terras pelas ligas camponesas lideradas pelo deputado comunista Francisco Julião, apoio de ministros à subversão da ordem, ataques diretos de políticos do Governo aos Estados Unidos, pregação oficial contra a hierarquia militar, e principalmente a presença do Presidente da República discursando frente a uma gigante manifestação de soldados e cabos contra oficiais e ministros, no Rio de Janeiro.
A Igreja, a imprensa, os empresários, as classes profissionais, as donas de casa e os militares protestam perante a conturbada economia brasileira enfrentando inflação com índices mensais superiores a 50%, elevado desemprego e baixo crescimento.
Tudo isto acompanhado com voracidade pelos nossos ouvidos, inda que adolescentes, já educados a discernir o joio do trigo.
Março terminou com notícias de movimentos sociais e militares. João Goulart foi deposto. Queira Deus que tudo serene. Que a paz retorne ao nosso sofrido povo. Dizem que está uma situação de guerra. Temo pelos meus familiares. Aquece o desejo de estar com eles.
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Visitem Paulo Chinelate
Ernesto Che Guevara.

Augusto dos Anjos e “A Aeronave” - Citado por Penélope Charmosa

Cindindo a vastidão do Azul profundo,
Sulcando o espaço, devassando a terra,
A Aeronave que um mistério encerra
Vai pelo espaço acompanhando o mundo.

E na esteira sem fim da azúlea esfera
Ei-la embalada n’amplidão dos ares,
Fitando o abismo sepulcral dos mares
Vencendo o azul que ante si s’erguera.

Voa, se eleva em busca do Infinito,
É como um despertar de estranho mito,
Auroreando a humana consciência.

Cheia da luz do cintilar de um astro,
Deixa ver na fulgência do seu rastro
A trajetória augusta da Ciência.
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