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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




terça-feira, 2 de março de 2010

Diarreia Mental - por Fatinha

Querido Brógui:

Como hoje é domingo, não vou lhe servir uma edição requentada. Pra você, com amor, uma fresquinha.
Estava eu folheando a revista em busca de alguma coisinha leve para ler, o que é difícil atualmente em meio a essa crise no mercado financeiro que deixa até os modestos poupadores de cabelo em pé. O pior é que quanto mais os especialistas tentam me tranquilizar, mais nervosa fico, porque esses caras… não sei não. Mas, enfim, encontrei uma pérola que estimulou a minha produção de veneno. Pegue rapidinho seu soro antiofídico pra se garantir.
O título da entrevista com a atriz Cláudia Alencar é: “Ama a si próprio como a ti mesmo”. Vou repetir: “Ama a SI próprio como a TI mesmo”. FALA SÉÉÉÉRIO, como dizem meus alunos. Num relance, a dona já diz a que veio. A cidadã já começa mal, misturando a primeira com a segunda pessoa. Normal.
A atriz bate ponto na telinha na novela pra lá de trash “Os Mutantes”, da Record, que, a propósito, aconselho dar uma olhadinha por três minutos. Não passe desse tempo, os danos cerebrais podem ser irreversíveis. Tudo certo, tá ganhando seu dinheirinho honesto, mas isso não é salvo-conduto para abrir sua torneirinha de asneiras.
Numa tentativa de travar um papo-cabeça com a entrevistadora, a criatura diz que o “ama ao si próprio como a ti mesmo” vem da filosofia hinduísta que deu origem ao cristianismo. Hã? De onde ela tirou essa informação? Deixa pra lá.
Gentilmente, ela é corrigida: “Não seria ama ao próximo como a ti mesmo?” OK. Há vida inteligente no mundo jornalístico. Ponto para a entrevistadora.
Acho que a atriz leva muito a sério sua filosofia de vida. Só quem ama a si própria como a ti mesma tem uma autoestima tão inabalável a ponto de falar tanta abobrinha com tanta autoridade sem perder o rebolado. Admirável.
Sentido firmeza nas suas palavras, ela continua a bostejar, afirmando que os físicos dizem que com a maternidade a pessoa entende o lado divino do ser humano e passa para uma segunda dimensão. Deixa eu ver se eu entendi: de acordo com a física, há uma segunda dimensão, que tem a ver com o lado divino do ser humano e só quem tem passe livre para essa dimensão são as mães. Tenho amigas que são mães e que jamais mencionaram ter mudado de dimensão. Será que as mães podem transitar livremente entre as dimensões? E por que elas nunca me contaram como é por lá? Será que é algum segredo guardado tipo aquelas sociedades secretas? Vou investigar isso, detesto me sentir excluída. Se há uma outra dimensão, eu quero ir, nem que tenha que ter um filho para isso.
Para finalizar a diarreia mental, a moça, que também escreve poesia, arremata: “A ansiedade é falta de delicadeza com o andar da natureza.” Deixa eu ver se entendi. (…) Não, não entendi.
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.Postado, originalmente, em 12/10/2008.
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.Visitem Fatinha
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Belphegor - por Leandro M. de Oliveira

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Vento norte que em rota inesperada faz desnorte. Esse ar, essas ruas, esse cadáver, eternamente jaz, flutuando sobre mim. Queria uma emoção leve que fizesse do tempo um exercício comum, como não consigo, caminho como quem se suicida, ou tomo o ônibus que leva a um país inverossímil. A persistência que parece insustentável, o ermo feito indizível. Tudo é partida. Subi o monte com grandes expectativas, quando lá cheguei só havia pedras e árvores. Buscar uma explicação é ter a alma pelo avesso, e eu como nada sei da direção comum, meto a mão no que sinto como um tumor que cresce de dentro pra fora. Viver custa caro, nisso tenho sido obrigado a por de própria algibeira. Por mil anos trabalhei no silêncio, obsoleto, agora minhas estão deformadas e minha vista cegou-se na incomensurável espera. Para o serviço de recenseamento seria eu excesso de contingente ou morto não declarado? Situação ingrata, ter de ser pertencido por alguma parte sem ser pertencido por parte alguma. Nessa terra devassa nem amargor é capaz de definir o meu amor. Todo sacrifício é degradação, toda vez que abro uma janela a paisagem persiste a mesma.

O silêncio às vezes é entrecortado pelos sons dum animal errante. O silêncio é um mistério inominável aos que carregam uma turba pelas ventas. Deus é som, animal, ou silêncio? Há tanta metafísica nas coisas ordinárias que a crença já não é algo mais tão seguro, os inquisidores tiraram férias... Não, não tiraram.
Apaixonar-se é ter nostalgia da perdida infância. Isso seria uma observação ou uma epígrafe? Talvez uma boa coisa pra se escrever nas paredes de um urinol público. As necessidades sempre fazem o homem parecer mais profundo. Irremediavelmente, a nostalgia tateia memórias além da memória, desce ao porão escuro agitando o pó já assentado. Na treva não há o que se contemple. Lá embaixo todos os sepulcros foram lacrados. Acaso existem infravermelhos pra se enxergar o escuro da alma? Na impossibilidade das respostas vou, com um cemitério na cabeça, com o universo todo por sobre os joelhos.

Conhecer do atemporal é engenho nobre. Irrelevante; debruçar-se a isso num mundo mais raso que um prato de sopa. Bem vindo à época da produção em série. Ave, triunfo burguês! Quem roubou meu cantil? Tenho sede e não há água em canto algum. Depois de certo tempo no deserto as pessoas passam a fazer parte dele. Homens de areia, mulheres de nada, paços insólitos permeiam a cidade. O mundo existe em mim como existe uma bruma a cobrir a paisagem, como existe alojada uma doença a que se quer purgar.

Prometeu amarga um perene castigo. Mandado ao Cáucaso por ser um homem bom? Bondosamente imbecil, salvar os outros é perder-se a si mesmo. O caminho e a resposta vêem de dentro. Também não sei por que cargas d’água me ponho a assim pensar, se dessa feita ocorresse, a espeleologia cuidaria de todos os vazios. Mãos ao alto ao mistério, mãos ao chão na queda. A gravidade é sempre inconstante, pode ser que estar em paz seja fechar os olhos e abrir a boca. Consumir idéias alheias é a forma mais antiética de canibalismo. Todavia fomos salvos, a TV democratizou o saber e fez com que todos soubessem as mesmas coisas. Boa noite e merda!

Depois que a mídia se tornou o nosso aiatolá, existir ficou tão colorido, tão nauseantemente simplificado que nem o vômito surte mais efeito. Tomaria alcalóides e dormiria como um xeique enfeitiçado, as garrafas estão vazias. Tenho de beber da esquizofrenia coletiva e fingir um pouco de lucidez. Onde estão meus óculos? Onde está a forma pacífica de ver as coisas? Já que tudo é guerra coloco botas de borracha e busco despojos na fossa sanitária das consciências. Estão vazias, visceralmente apartadas. Belphegor trabalha às tantas. Abençoados os que não se arrependem, amaldiçoados os que os abençoam. Discursar é uma forma de fazer com que as pessoas não reparem nossas vidraças, toda palavra é agressão. A luz apagou, a tempestade não estiou. Pra onde fugir agora? Que lugar é possível sem que haja luzes, tempestades e memória? Fronteiras de meu reino, de tantas terras donde nunca ouvirei falar. O vento sopra a este bordo, o vento sempre soprou a mesma nota. Não escutar o arredor é ser ultrapassado pelas costas, talvez exista cera demais nos ouvidos. Quero partir em disparada, mas a letargia parece ter atrofiado meus membros.
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Haikai - por Marília Abduani

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Teu olhar de lamparina
Acende
a ternura mais fina.
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.............................................Visitem Marília Abduani
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Os Gatos - por ZzipperR e vestivermelho

A noite estrelada queria contar uma história de amor para o mundo, então trouxe seus encantos para nos atrair com seus segredos ocultos, escondidos na escuridão das páginas do seu livro.
Na varanda colorida pelas flores eu a via ouvindo a súplica da noite convidando-a para uma festa de máscaras com uma música penetrante e dominante levando-a para longe.
Olhando-a pensativa na linda varanda colorida fico imaginando:
“Se ela estivesse perto de mim, se até seus pensamentos estivessem dedicados a mim, eu faria ela se sentir do meu lado, se aquecendo no calor do meu amor que queima na alma.”
Eu sinto a vibração do seu amor chacoalhada pelo seu coração batendo tenso e emitindo ondas sonoras de amor por todo o seu corpo. Essas ondas de amor me atraem e eu a sinto bem próxima de mim. Essa vibração nos leva mutuamente a uma vontade de dançar irresistível, flutuando num som trazido pelo desejo de viver os segredos escondidos na noite iluminados pelas lâmpadas da praça da cidade.
Ela saiu da varanda e caminhou lentamente pelos telhados, até chegar a um mais baixo, bem próximo ao desfile dos mascarados enquanto eu a sigo num olhar atento, não quero que a minha gatinha se machuque, então coloco a minha máscara de gato e caminho sobre as telhas seguindo-a para protegê-la.
A gata esperou que eu me aproximasse, pegou em minha mão e saltamos para os braços aconchegantes da noite, fazendo parte da legião de mascarados que desfilavam entregues ao som do bloco dos mascarados.
Mascarada de gatinha, ela desaparecia entre os mascarados fazendo charminho, mas não tirava seus olhos felinos do seu gatinho, que a procurava insistentemente entre os foliões da noite.
A noite passa e leva os foliões embora deixando os dois mascarados sentados em um canto da avenida, cansados e felizes ao mesmo tempo.
Ela agarra o gatinho por trás com suas garras felinas, respirando pertinho dos seus ouvidos, curtindo e saboreando o doce do amor e esperando o dia clarear tirando as suas máscaras.
A gata caminha lentamente escalando os telhados e deixando o gatinho para trás enquanto ele pensa:
“Se ela estivesse sentadinha ao meu lado e não estivesse com os pensamentos distantes, entenderia tudo num simples olhar apaixonado pedindo:
- Entrega seu amor pra mim?”
Assim o amor vive correndo atrás do amor, pois o amor precisa de amor para viver. Se você estivesse comigo nesse momento teria carinho, amor e seria muito amada.
Os dois tiraram as máscaras e o dia clareou.
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