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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

INterna - por InEx TrEe FaLLs



Somos farpas de matéria

Somos o sentido contrário

O sentido númerico

Aquele que não se conta

Binário em segredo

Espaço entre o centenário



Confesso receio pelas dezenas

Sobrevivi a colisão de um auto

Entre o impacto da emoção

Recorto o cenário - retrato



Laboratório de imagens

Revelação em fatos

Vivemos entre fios

E vasos
 
 

A Prima de Hipócrates - por InEx TrEe FaLLs

A prima de Hipócrates

Psicodelia noctívaga, é domingo e o comércio está fechado. A segunda vindoura anuncia a rotina e mais uma semana que rompe o céu desbotado de um período chuvoso. Pensou nos desabrigados. As águas de um canal invadiram o grande centro comercial afetando a economia. Na sexta-feira do dia seis de maio escutou no recinto que o shopping seria fechado. Pessoas apressadas, receio de alagamento, enchente e aquela maré de gente. Era véspera de segunda...

Amanhecia, com a mesma intensidade que enxergava cores celestes . Pássaros a deslizar por entre nuvens. Apesar de nublado havia luz resplandecente. No céu a distante cor de suco alaranjado e sabor de algodão doce. Nuvens remetiam-lhe ao cheiro pueiril de um tempo remoto. Insone, Sonia, divagava entre a realidade e a fantasia. Foi quando uma folha desbotada caiu tocando-lhe os pés. Sentia-se ridícula, Quando foi a última vez que foi gentil com alguém de verdade? Desprezou a folha com indiferença no olhar. Sonia, já não sonhava. Por mais que tenha se dedicado como pesquisadora, a síndrome de Aycardi era um pesadelo. Culpava-se pelo passado.

Aquela mulher, outrora cientista, cuja epiderme fora tocada por uma folha que da natureza se desprendia, sentia no organismo a reação. A negativa, de um tipo sanguineo, respondia-lhe a experiência. Cobaia de um experimento de risco, tinha nas veias a doença e não o antidoto. Ninguém sabia ao certo o que aquele ser ocultava. Tampouco ela teria respostas. Restavam poucos dias para o derradeiro fim e a folha continuava no chão, até que ao cair uma outra, algo a sensibilizou impulsionando-a a olhar para a leveza daquela matéria desprendida.

Dominada por uma súbita esperança procurou por outras e viu nas anotações um cálculo até então despercebido. Seria a fórmula da cura? Quanto tempo de residência hospitalar e lágrimas abafadas por ter nas mãos o instrumento e não a cura. A imagem daquela criança fragilizada atordoava seus pensamentos. Por mais que estudasse a síndrome de Aycardi não compreendia.... enquanto uns lutavam para sobreviver outros pensavam simplesmente em morrer. Envergonhou-se ao lembrar do passado funesto. Quando jovem, rebelou-se afastando-se de tudo e de todos sobretudo de si mesma. Optou por caminhos que conduziam ao vício, ao suicídio da alma e consequentemente tornou-se alvo de desprezo. Desprezando a si mesma já nem lembrava das violências sofridas ou cometidas.

Sônia desistiu de sonhar quando se entregou à perigosas tentações. Arriscava-se entorpecida sem esperança alguma de mudar. O que a motivou a estudar medicina possivelmente foi o juramento feito a Hipócrates que por ironia viu morrer portador da tal síndrome. Seu primo, cujo nome remetia ao pai da medicina, não tinha forças para andar ou falar, mas enquanto viveu comunicou-se com o olhar e o exemplo de vida que só o amor de uma família pode acalentar. A paciência nem sempre é um dom, constatou Sonia, a paciência é um exercício por mim adiado. E pacientemente segurou a folha levantando-a como se pudesse enxergar naquela desbotada existência a transparência que tanto queria vislumbrar. Enquanto as horas passavam, exercitava a paciência. Guardou dentro de um livro a parte que se desenvolve no caule e nos ramos dos vegetais. Depois de tal episódio, inesplicavelmente caiu. A solitária taciturna tombou, possivelmente enfeitiçada, visto que sonhou plantando oníricas raízes cujo fruto era a resposta e também a cura.