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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Tema do Mês de Dezembro: A Morte

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Caríssimos amigos:
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Hoje foram postados os textos referentes ao tema do mês de dezembro: “A Morte”,
sugerido por Leo Santos e vencedor da enquete de novembro.
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Participantes:
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Aaron Caronte Badiz
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Ana
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Dália Negra
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DEP
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Lélia
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Penélope Charmosa
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Muito obrigado a todos que colaboraram com esta “blogagem coletiva”!
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Um grande abraço!
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Aglutinar - por Renata Zonatto

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A.mor.te
Em+boa+hora...
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Sem Fugas - por Davi Rodrigues

O que tens em teus olhos, que os aplaca sob o capuz?
Que sorrateiro caminhar me impede de ouvir tua chegada?
Andas acaso a me observar enquanto vagueio sem rumo ao luar?
Ou me espreita nas longas noites de bebedeiras?
Talvez se camufle na fumaça, após cada tragada...
Está em algum asilo ou pronto socorro, com o prontuário nas mãos?
Atrás da barra de direção, plataforma de metro, andaime, palafita...?
Talvez agarrada à cintura de um homem-bomba qualquer...?
Qual vazio deste porte pode ser preenchido?
Nas ondas do mar, na cadeira do escritório?
Ônibus, trens, helicópteros, camas...?

Talvez me encontre dia qualquer...
Não me importa
Se puder ter a chance e essa já tive, quero olhar bem no fundo dos teus olhos e dizer-te:
Morra de inveja!
Não vivi fugindo de ti!
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A Morte - por Leo Santos

Perdida entre extremos, vaga, uns a põem no começo, outros, no fim da vida. De qualquer modo, no caminho eterno, é sinal verde para que avancem nossos reconhecimentos ao encontro dos desafetos; afinal, mortinhos da silva, jamais usarão isso contra nós.
Daí, o dito que certas pessoas ficam boas depois que morrem. Será por isso que, às vezes, nos fazemos de mortos?
Os egípcios enchiam os túmulos de tralhas que seriam necessárias na “outra vida”. Os cristãos são exortados a encherem de boas obras a vida, para terem, enfim, um tesouro no céu.
Há também os suicidas, que apostam nela como quem compra um bilhete lotérico “no escuro”. Desses, versou Napoleão: “Não há nada de grande em acabar com a própria vida como quem perdeu tudo no jogo; resistir a um infortúnio imerecido requer muito mais coragem”.
O fato é que, se ela for simplesmente o fim, será o galardão da maldade. Aqueles que, temendo seu assalto, cercaram-se com as grades do prazer desmedido e irresponsável. Todavia, os “bens” do corpo não transcendem ao apetite dos vermes... que dizer da alma e do espírito? Aquela, é a pessoa-em-si, este, o ser-em-Deus. Aquele que foi e voltou - aliás, o único -, ensinou que o espírito, por ter morrido, carece nascer de novo; senão, restará apenas a pessoa-em-si, com seus muitos desejos viciados sem meios para os suprir; uma eterna crise de abstinência, um fogo que nunca se apaga, um inferno. Não é de estranhar que, para tais, a morte assuste tanto, uma vez que enseja a castração do livre-arbítrio, a colheita das escolhas de quando se tinha escolha. Não assusta, pois, a morte-em-si, antes, as consequências, afinal, como disse o Quintana, “a morte não é assassina”.
Seu peso, talvez, seja diretamente proporcional às ilusões que acalentamos, como versa o poema que segue:
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Relevos

Pro jovem,
a morte é um precipício,
o desperdício de tudo
o que pensa ter para viver;

Ao adulto parece um monte,
horizonte extático,
onde, mais dia menos dia,
fará a subida;

O ancião
passeia com ela pela campina,
traquina criança festejando a absolvição,
de sua sentença de vida.

É que a voz das paixões seduziu ao mancebo,
ilusões. O que nunca terá,
mas teme perder;

O homem maduro, pelo caminho trilhado,
não se engana, antes, resignado,
dá sua mão ao porvir;

Enquanto o ancião que já morreu tudo,
celebra a liberdade,
antes de dormir.
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Visitem Leo Santos
Mário Quintana
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Paulinho Moska e “O Último Dia” - por Alba Vieira

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Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia

Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Corria prum shopping center
Ou para uma academia
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria

Andava pelado na chuva
Corria no meio da rua
Entrava de roupa no mar
Trepava sem camisinha

Meu amor
O que você faria?
O que você faria?

Abria a porta do hospício
Trancava a da delegacia
Dinamitava o meu carro
Parava o tráfego e ria

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria...
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Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Alba Vieira

Sobre o tema Morte, nada no Duelos calou tão fundo quanto este maravilhoso poema de Ana, que eu destaco aqui para apreciação dos leitores.
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RESTOS MORTAIS
(ANA)

Três mulheres tocam o enterro
Três mulheres choram o morto
Três mulheres vêm da capela
Três mulheres levam o corpo

Cada uma um casebre vazio
Por viuvez ou abandono
Muitas outras partiram antes
Sem lágrimas, sem consolo

Na rede descansa o padre
Em seu derradeiro conforto
Está calada a voz de Deus
Mais um implacável desgosto

Carpem sem dor, outra vez
O mesmo ritual longo
Um a um à terra tornam
Cumprindo o destino roto

Carcará aguarda, cruel
Da morte sentindo o gosto
Não se passa uma semana
Estará o banquete posto
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Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Ana

Bem, não é segredo que sou fã do Leandro. E este poema demonstra o porquê. Você está fazendo falta por aqui, filósofo-poeta!
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O SAL DA VIDA
(LEANDRO M. DE OLIVEIRA)

Escuta que quero te falar em segredo
Escuta bem, quero falar baixo,
Porque o sussurro é tão mais belo que o grito
E a palavra dita com cuidado mais esmerada.
Ouve e guarda como um selo o que te digo.
Guarda em teu lembrar somente,
Porque o que direi não mudará nada,
Sequer a mim.
Escuta meu silêncio de planície,
Minhas mãos desertas, meu sonho perdido...
Nunca se muda aquilo que não se permitiu mudar.
Escravo caí de joelhos ante a rocha silenciosa
O oráculo hediondo se me afigurou,
E eu me vi moço e eu me vi desesperado.
Tempo tem seu próprio tempo,
E o tempo do tempo foi veloz demais
Para nosso passo vacilante.

Escuta as rugas de minha alma
Elas são vales e rios, montanhas e planícies.
Quero teu amor suicida!
Amor que se mata e torna a viver
E torna a sofrer e a morrer d’enganos.
Porque sob minhas asas
Não houve acomodação à tua dor,
E agora em meus olhos não há espaço
Senão para o teu vulto sorrateiro.

*********

Ignora minhas palavras, o verbo confunde.
Eu falo do que não foi vivido ou do que tenha sido há tanto,
Que não foi possível nenhuma sinapse de lembrança.
Aguarda no silêncio das colinas sombrias,
No oco das cavernas que somos nós.
Quero escavar a terra com os dentes,
Tragar o mar com minha boca e estômago,
Quero estuprar o útero da terra
Pra que eu a veja renascer dele.
Minha memória é uma nau perdida
A navegar oceanos de tempo e espaço.

Minhas velas desfraldadas
Buscam a esmo teu norte,
Minha boca de pasmo e exaustão
Já não sabe dizer o teu nome.

*********

Agora que tudo se perdeu em nós
O mundo soa remoto,
O ar soa espesso.
Se eu fosse um cão
Talvez teria mais afeições com a vida.
Mas sou homem
E dessa deficiência estou fadado.
Minha eterna amiga,
Meu corpo sem vida,
Minha vida sem termo.
Embora o mundo seja desfigurado
Ante o espelho, comigo sempre estás...

Escuta minhas palavras que não querem eco
Além do silêncio de tua ausência.
Escuta como a canção mais elevada
Como a dor de homem que homem não quer ser,
Como um beijo de fúria em teu peito
Resoluto.
Que essas palavras não valem nada,
Que essas palavras valem tudo.
Elas são o sal da língua
A semente da vida nova.
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Dedicado à minha grande amiga, dizem que partiu no dia 27 do último mês.
Mas como pode estar ausente, se está dentro de mim? Não sei se posso crer na morte
quando ainda existe tanta vida. Penélope, foi rápido demais... A você os meus carinhos
e as minhas alegrias perdidas. Te encontro breve, te encontro sempre...
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Postado, originalmente, em 08/07/09.
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Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Dália Negra

Profundo. Sensível. Verídico. Inesquecível.
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EPITAFIANDO NO UMBRAL
(KBÇAPOETA)

Aqui jaz um menino,
Que nunca ficou velho.
Um cérebro que talvez fique a maquinar;
estratégias,
para explorar esse lugar.
Tenho terra, flores e vermes.
O que mais posso querer?
Quando em pé comia o alimento,
Que a terra dizia merecer.
Nada mais justo!
Doar-me às larvas.
Voltar para terra,
com esses olhos;
que ela há de comer.
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Visitem Kbçapoeta
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Sem Escapatória - por Ana

Falar sobre morte é difícil,
Falar sobre morte é grave.
Para alguns, é tema-tabu,
Para muitos, um entrave.

A morte não é passageira,
A morte não é condutora,
A morte não é caroneira,
A morte não é cobradora.

É, sim, estação final
Que tantos temem na vida,
Tentando ir mais devagar
Ou enganar a prometida.

Ela fica lá, tranquila,
Aguardando estes viventes,
Cumprindo a sua missão,
Dedicadíssima aos clientes.

Tarefa simples, não é?
Apenas sentar e esperar
Que se apresentem os sujeitos
A caminho de outro lar.

E enquanto ela, silêncio,
Por aqui um escarcéu:
Tantas almas temerosas
De irem pro beleléu.

E quando saltam do trem
Dos trilhos desta existência,
Alguns dão muito trabalho
(Ela há de ter paciência):

Se esgoelam, enlouquecidos,
Esperneiam, inconformados,
Tentam dar meia-volta,
Esmurram os portões fechados.

Ela aguarda, compreensiva,
O fim daqueles vexames
E encaminha estes frouxos
Para a tal sala de exames

Que consiste no seguinte,
Que passo a vos explicar:
É local pra refletir,
Relembrar e avaliar

A vida que se deixou
(Dizem isso muitas crenças).
E também há julgamento
Seguido pela sentença.

Que pode ser boa ou ruim,
Mandar pra cima ou pra baixo.
E você, ali, tremendo:
“Onde será que eu me encaixo?”.

Êta, coisa complicada
Ser gente ou ser pós-humano!
Sempre no maior stress
(Não dá pra ser leviano...).


Tendo em vista estas coisas,
Eu paro e fico a pensar:
No que se refere a nós mesmos,
A morte é o menor pesar.

Brabo é o tal tribunal,
A tal retrospectiva,
Culpa, arrependimento...
Sem fala argumentativa.

E a gente, em polvorosa,
Ali, no maior desarranjo,
Sem saber se nos espera
Enxofre ou coro de anjos.
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Manuel Bandeira e “A Morte Absoluta” - Enviado por Penélope Charmosa

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento.
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: “Quem foi?...”

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.
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Duas Datas e um Nome - por Runa

Duas datas decoram a lápide velha
sobre o musgo da terra revolvida.
Um principio e um fim.
A definitiva duração de uma existência
reduzida ao mármore frio dos números;
herança derradeira de um sonho corrompido,
a ser devorada pelo vazio silencioso.

Por cima dessas duas datas,
que traçam o diâmetro de uma vida
cujo circulo se fechou,
um nome esculpido com letras negras
é tudo o que resta de uma efémera história,
o parágrafo breve e derradeiro de uma página
abandonada ao rigor dos invernos
e à desolação sombria do esquecimento.

Ninguém mais recorda esse nome
que o chão um dia engoliu
no ermo incógnito das colinas,
onde a tristeza datada de uma lápide
retém o único sinal da sua passagem.
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Visitem Runa
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Um Dia... - por Aaron Caronte Badiz

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Um dia virá a morte.
Levará a mim ou a ela.
Verterei um choro longo
Enquanto existir a espera.

E esperarei tão triste,
Por estar assim sozinho,
Até que a veja chegando
De novo com seus carinhos.

Queria pedir aqui,
Agora que pensei nisso,
Que a morte nos leve juntos,
Morte, então, de sorrisos

Por nunca nos separarmos
De nós e de nosso amor.
Peço de novo, destino:
Nos leve juntos, por favor!
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Morte - por Lélia

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Foi um amor sem igual: adolescente, feliz, sonhador... Planos... quantos planos! Tantos beijos e tantas descobertas. Alguns anos de beleza e enlevo.
Um dia acabou. Tão triste, tão solitário depois...
Uma de outras tantas pequenas mortes numa única vida.
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Mortal - por Dália Negra


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Longos desertos. Rios de lava.
Tornados e furacões.
Maremotos e tsunamis.
Tempestades. Raios. Inundações.
Terremotos e avalanches.
Natureza em mim.
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A Morte Nossa de Cada Dia - por Alba Vieira

Votei neste tema tão inspirador e logo sabia que iria participar com algum texto. É que a morte sempre marcou a minha vida, desde pequena. Não que eu tenha perdido muitas pessoas desde cedo. Pelo contrário, perdi meu pai quando tinha 42 anos e minha mãe aos 49. A minha avó materna perdi aos 39 anos e antes disso, só um primo querido quando eu estava no ginásio e uma cunhada que era como uma irmã, aos 47 anos. Apesar disso, muito criança eu ficava inquieta e tremia só de pensar na possibilidade da morte dos meus pais, minha avó ou meus sete irmãos. Fantasiava sobre isso, me sentia atormentada por qualquer alusão à morte ou doença. Não foi por acaso que decidi ser médica. Talvez pensasse em poder superar a morte. Acho que todo profissional dessa área gosta de brincar de Deus. Só que ao longo de minha vida descobri que para tratar o medo da morte, o segredo é o mesmo que para lidar com outros medos. É preciso chegar perto, enfrentar ou pelo menos conhecer. O medo de algo desconhecido se intensifica, fugir de algo que se teme não é boa coisa. E como filha de Plutão que sou, de qualquer forma a morte iria correr atrás de mim, até que eu me tornasse sua amiga e assim ela deixasse de me incomodar.
E foi dessa forma que presenciei a morte de várias pessoas, desde quando estava na barriga de minha mãe, que fui atraída por uma especialidade em que durante mais de 20 anos fiz autópsias, até que há uns 10 anos me interessei por terapia de vidas passadas e estou mais ligada a esta prática atualmente.
Não sinto mais qualquer desconforto diante da morte, não porque não sofra com as perdas ou ache natural que o corpo deteriore. Aprendi a aceitar a finitude da vida e acredito mesmo que este detalhe seja um fator de enriquecimento da nossa existência. Mas gostaria que a morte fosse um processo natural, sem tanto estresse por negação e sem tanta parafernália, e sim como era antigamente. Mas tudo tem o seu lugar neste mundo e cada um morre conforme vive.
Penso que refletir sobre a morte todos os dias nos ajuda a evoluir, a tomar atitudes e fazer escolhas mais apropriadas na vida. Tenho habilidade para lidar com doentes terminais que têm muito a nos ensinar e creio que a morte sempre funciona como uma oportunidade para os que estão próximos, podendo ser um ponto de mutação, desde que seja encarada com a dignidade que desperta quando aparece em nossas vidas.
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Visitem Alba Vieira
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Dia de Todas as Noites - por Runa

Hoje é o dia em que te despedes
dos exíguos labirintos do destino
e dos gastos versos sem rima
de uma ilusão envelhecida.
Envolto no manto negro
que te cobre as chagas do corpo,
mergulhas num crepúsculo de cinzas
que lentamente devoram tua imagem
nos espelhos cegos do infinito.

O grito do silêncio ecoa ainda
na névoa da manhã estrangulada,
murmúrio de pedra fria
sobre a mordaça do mármore desvanecido,
onde ruidosamente desabam
frágeis alicerces de bruma
e os solitários sonhos que ergueste
no areal negro dos dias,
com o suor amargo de sangue espesso.

Lágrimas doentes te acompanham
à soleira adormecida do abismo,
ecos distantes de um adeus
plantado na frigidez dos ossos.
Hoje é o dia em que te despedes
do esplendor inacabado de uma quimera.
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Visitem Runa
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O Barqueiro - por Davi Rodrigues

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Moedas! Moedas! Moedas!
Quem quer tomar parte nessa embarcação?
Não quer mais a rotina?
Não tem mais pelo que se esforçar?
Moedas!
Você as possui aos montes
Acumulou sem se preocupar como
Traga-as!
Haverá espaço de sobra!
Para você e os tantos quantos compartilhem de sua cobiça...
Um cruzeiro eterno e sem volta...
Traga-me seus dracmas, dobrões, dólares de prata
Tudo é aceitável
Perpetue para sempre a sensação do ganho ilícito...
Jacte-se de sua arrogância
Moedas! Apenas uma por pessoa!

Delicie-se e regozije da presença dos anfitriões
Hades e Perséfone o aguardam...
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..........................................Visitem Davi Rodrigues
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Não à Morte - por Escrevinhadora

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Perdoem-me os amigos dos Duelos. Sei que este é um espaço democrático e que houve uma votação.
Sei também que a morte é um tema fascinante, por sua grandiosidade, por seu mistério, por nos colocar frente a frente com o medo inconsciente da nossa própria finitude.
Mas acho que o mês de dezembro não é adequado para se falar em morte.
Dezembro é Natal, é nascimento, é renovação. É o tempo em que os cristãos comemoram o advento de Jesus Cristo. É a época em que os não cristãos trocam presentes, enviam votos de felicidades, reafirmam a esperança no futuro.
A morte pode ser um assunto para o outono, ou o inverno. Quando as plantas perdem as folhas, os pássaros perdem as penas e até as cigarras deixam de cantar.
Mas dezembro não. Dezembro é verão, cânticos, luzes, festejos, confraternização. Dezembro borbulha como espumante sendo despejado numa taça.
Dezembro é o momento de enfeitar a casa, abrir o coração e celebrar a vida.
Porque enquanto houver no mundo uma mulher decorando uma árvore de Natal, uma criança esperando a vinda do Papai Noel, o milagre da vida triunfará sobre a escuridão da morte.
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Falando de Morte... - por Adir Vieira

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Há algum tempo não sei porque ou melhor, acho que sei porque, venho tentando dar um toque diferente a essa coisa de morte.
Palavrinha feia, que pela vida afora me arrepiou, hoje ela começa a ter um aspecto de normalidade.
Tenho me surpreendido pensando em familiares mortos, com a tranquilidade de vê-los ao meu lado, como se ainda estivessem aqui, coisa que há alguns anos não me arriscava a fazer.
Hoje, às vezes, me pego na alta madrugada às lembranças de familiares queridos, já no outro mundo.
Penso que a vida é perfeita. Fugimos da morte a vida toda, como se não fôssemos morrer. E é a própria vida que vai nos fazendo na velhice, caminhar ao encontro dela, com serenidade.
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Visitem Adir Vieira
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Álbum de Família - por Runa

Sobre o mogno escuro dos meus olhos
estendo o velho álbum de fotos de família
e deixo os mortos respirarem, por instantes,
a luz estagnada deste entardecer.

A preto e branco, os fantasmas da memória
regressam com seus fatos domingueiros,
sacudindo a poeira de uma resignada ausência.
As mulheres trazem sorrisos manchados de tristeza
evocando o fascínio das eras de outrora
sepultadas nas ruínas de uma névoa distante
e, os homens, cofiando longos bigodes,
conservam ainda o mesmo ar taciturno e pose viril.

Míticos rostos que perderam o dom da fala,
mas que as esponjas da morte não apagaram totalmente
lá nas tumbas frias e perdidas onde pernoitam.
Imagens que se acendem nas lareiras da saudade,
ao som melancólico de uma extinta banda de coreto,
rasgando véus e teias de um esconso abismo.

Durante algum tempo, suspendo a fúria dos relógios,
e deixo que os mortos, num pestanejar de cinzas,
cruzem as paisagens arruinadas da manhã,
recordando sua breve passagem pelo mundo;
antes de recolherem de novo ao vazio enclausurado
do abandono sombrio onde agora pertencem,
esgotando o brilho efémero que subitamente se dilui
no baque crepuscular da contracapa.
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.............................Visitem Runa
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O Amigo - por ZzipperR

Hoje, uma recordação me deixou aflito e com sensação de injustiça de Deus.
Por quê?! Estes pensamentos resolveram rodar a minha cabeça. Não caí num baixo astral porque éramos muito amigos e só recordações boas rodavam o meu coração. Tudo aquilo me deixou agoniado e depois de muita reflexão resolvi falar com Deus. Cheguei sem marcar hora, pois ainda não era a minha vez.
Não sei como, mas cheguei lá! Um tapete de nuvens só transmitia paz, nele passei por um ambiente vazio onde não havia ninguém para me receber. Tudo ali parecia tão vazio que pensei não existir, até escutar uma voz, muito calma, que parecia tão distante.

- Por que não se conforma? Tantos anos se passaram. Você não poderia estar aqui!

- Senhor! Por que separou nossos destinos tão cedo? Nós éramos tão jovens e eu tenho muita saudade dele.
- Hoje eu estou triste! Sentindo que ele está precisando de mim.
- Eu queria vê-lo de novo. Nem sei o que eu falaria, mas eu tenho certeza que seriam momentos felizes e inesquecíveis. Talvez falássemos da escola, dos jogos de futebol na USP e talvez não falássemos nada e deixássemos os corações conversarem.
- Desde sua partida, ainda sinto um vazio no peito e ouço canções marcantes em nossa vida, confesso que elas não me deixam triste e sim confortam o meu sofrimento.
- Senhor! Por quê? Ajude-me a entender.
- Dizer que as pessoas são substituíveis é uma grande mentira. Ninguém substitui um grande amigo. Quando se vai, ele leva um pedaço de nós que jamais será reposto.
- Hoje eu sinto que ele está precisando de mim. Como eu posso ajudá-lo?

- Vá embora! Você já fez a sua parte.

- Senhor! Deixa-me vê-lo só mais uma vez?

- Não pode! Todos têm sua vez e a sua não chegou.

Tentei insistir novamente, mas a voz não saía.
Com um sentimento de ter fracassado comecei a sair. Enquanto saía, senti que alguém estava do meu lado, me consolando e aliviando minha dor.
Acho que era ele. Aquilo me deu a certeza de que a verdadeira amizade é eterna.
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Homenagem ao meu grande amigo “Osmar” do qual eu tenho muita saudade.

Zip...Zip...zip...ZzipperR

Coisa de amigo pra amigo, talvez seja até difícil de entender.
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Visitem ZziperR
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A Morte - Pelos Olhos de Quem Vê - por Alba Vieira

A própria morte pode parecer penosa
Mas a passagem não é assim tão ruim
No tempo certo todos estarão preparados
Ainda mais porque expirar não é o fim.

A morte dos outros pode ser ensinamento
Para aqueles que quiserem se aproximar
Verão tranquilidade nos olhos que se ampliaram
E já enxergam a luz que os guiará.

É momento de reflexão e lucidez
Onde cada coisa adquire o real valor
Existe a possibilidade de compreender
Que tudo é passageiro, exceto o amor.

É como se uma aura de verdade
Enchesse os lares onde alguém partiu
Cessam as contendas por iniquidades
Se a gente entende a vida como um rio

Tudo passa, nada permanece
Só se leva da vida o que se aprendeu
O amor que expressamos é a nossa prece
E nos liga para sempre a quem já morreu.
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Visitem Alba Vieira
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Morte - por Davi Rodrigues

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Do súbito desconhecido que tanto provoca
Dia-pós-dia
Sombra a se manifestar seguidora
Mesmo em dia sem sol
Noite sem lua
Dispersão de pensamentos noturnos
Fim de sorriso ao lembrar-se
Dignificadora? Cruel? Simples certeza?
A única que temos
E nem a queremos
Parte do que o obscuro busca
Tórrido ceifeiro
Foice na mão
Passos lentos
Desvia-te de mim!
Não tenho medo de ti
E quando chegares sem aviso
Com certeza, haverei saído...
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Em Construção - por Jeff Oliveira

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Mais que tudo serei feliz
Serei osso, serei carne,
mais divinamente humano
Serei constantemente
esse ser inconstante e paradoxal que é o ser humano.

Serei esse ser em construção, que tem direito ao erro
Mas que tem a capacidade de acertar da próxima vez também
Recomeçar, começar,
aprender que começo se escreve
com “C” ou não “C”? Duas opções. Eis, aqui estão!
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......................Visitem Jeff
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Viagem Terminal - por Runa

No coração das águas frias do inverno
Uma velha embarcação ruma ao poente
Arrastando o ranger do casco enfermo
Lambido pelo veneno da ferrugem decadente

Velas esfarrapadas na penúria do convés
Seguem o eco das algas estilhaçadas
Acendendo um rasto de rugas salgadas
Nos ossos apodrecidos das marés

Gaivota ferida dos cais de outrora
Sem asas para vencer o afago da corrente
E os ventos da tempestade que a devora

Atraída pelo cântico moribundo das sereias
Agoniza em soluços de espuma dormente
Ao encontro da bruma das últimas areias
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Visitem Runa
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O Dia em Que Morri - por Cacá

Minha morte se deu no sábado passado. Fui contar pra todo mundo e me disseram que foi um sonho. Mas eu estava acordado vendo tudo que se passava ao meu redor. Até dei uma ajeitada na posição. Não fiquei naquela clássica, de barriga para cima, com as mãos cruzadas sobre o peito. Virei de lado como faço para dormir todos os dias. As cores começaram a surgir numa sequência que acredito ser mais bonita do que a de um arco-íris. Se a história ficar parecendo coisa padronizada é porque a morte sem sofrimento deve ser assim mesmo. Naquele momento todos os pensamentos de apego às coisas terrenas passaram tão nítidos quanto rápidos na minha cabeça e confirmaram a certeza de que o que fica é que tem que ser resolvido. Não pensei em nenhum legado ou tive algum peso morto para levar comigo. O fato é que almocei regiamente, me deitei e, logo em seguida, me foi anunciada a sentença. Ocorre que fui acometido de uma alegria que ninguém deveria confessar sendo em caso de seu fim. Mas confesso que morri. E foi com uma alegria tamanha, que se fotografassem iam poder ver meu sorriso tenro, que é uma coisa que o agente funerário não consegue disfarçar na hora de vestir o defunto. Daí a dispensa da maquiagem que eles usam para recompor a cara digna para um defunto apresentar nas suas exéquias... Quem vai, vai satisfeito. Não me perguntem, depois, sobre como é o lado de lá, que isso eu acho que já vi foi em relato de quem esteve em coma desenganado e voltou. Eu, não! Eu fui mesmo. Só acordei com a cachorra latindo insistentemente no portão. Não deu tempo de saber. Nem de sofrer. E não quero incentivar a ninguém que esteja assim triste com a existência, achando-se no último estágio entre a realidade dura e uma tênue esperança de uma coisa melhor, pois a morte é única. Não dura mais que um parágrafo.
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Vai com Deus! Comigo Não. - (Anônimo)

Quem pensa que é simples a morte,
não sabe nadadinha de vida.
Não é um dia sem sorte,
é medida com luz estendida.

Igualzinho como é a vida,
dentro da complexidade
que também tem sua medida;
mas, já a luz, raridade.

Porque não é fácil viver,
tampouco morrer não será,
mas ainda assim vou dizer,
tua vida é Deus que te dá!

Dá um tempo de ouro medido
de acordo com seu merecer,
se faz dele tesouro perdido,
anula o valor de teu “ser”.

Põe novamente roda a girar,
girando em torno de você,
mas tem gente a esperar
essa criança amadurecer

que entra de novo no jogo,
esse de viver e morrer,
de “bucha” nesse teu logro
de recusa em crescer.

Entenda de vez que a vida
é só aprender a amar
e completa tua medida
pra tua luz alcançar.

Larga do pé dessa gente
que já aprendeu a perdoar,
parte de uma vez, contente,
pra morte te aconchegar.
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Recesso da Realidade - por Alba Vieira

Creio que essa época de festas, o Natal, pode ser sentida por muitas pessoas como um tempo em que elas têm o direito de estarem protegidas da realidade com suas dificuldades cotidianas, um tempo em que a fantasia impera e sonhamos com um mundo maravilhoso, cheio de cores, carinhos, presentes, desejos satisfeitos, pessoas afetuosas e gentis, esperanças, repleto de amor e abundância.
Cada um de nós tem todo o direito de viver este estado de espírito. Isto é lindo e cria uma aura de beleza que envolve aqueles que o vivenciam desta forma e se expande, afetando também aqueles que são menos dotados da capacidade de abstrair ou mesmo incapazes de ignorar que, apesar do Natal, o mundo continua o mesmo, apesar da enxurrada de propagandas dos lojistas e do apelo da mídia para atenuar o clima de horror que ela mesma alimenta durante todo o ano.
Entretanto, esta facilidade de podermos voltar a ser crianças, sentindo desta forma nas semanas das festas, que faz tanto bem a todos nós, pode ser exercitada, nos capacitando a mudar o nosso estado de espírito, mesmo frente aos momentos estressantes de perda e de dor, conseguindo estar em paz. É tipo poder ser feliz, sentir-se em paz sem que para isso tenhamos que esperar os fins de semana, as férias, as festas.
E creio que encontrar o sentido profundo de transformação, de renascer depois de uma morte simbólica, de deixar surgir o novo quando o velho já caducou em nossas vidas, a partir da elaboração, discussão e inspiração que vêm quando o tema é a morte, pode ser interessante apesar de ser dezembro.
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Duda, - por Leo Santos

Uma graça de menina cruzando a ponte entre os sete e oito anos. Por razões que desconheço, apesar de minhas muitas provocações, se fez minha amiga. Juntos fizemos progressos notáveis; ela que contava até dez em inglês, agora, já chega ao quinze... domesticamos as ondas do mar, passeamos pelo parque olhando as tartarugas, dividimos informações sobre placas de trânsito. Sua sede de saber é imensa, e como eu “sei tudo” está sempre bebendo em minha fonte. “Tio, o que é integridade? O que é exaltar? O que é um duque?” Se fosse para alguém adulto, eu poderia dizer que um duque é alguém exaltado, com presumida integridade... mas, foi uma pergunta de cada vez, e do alto de sua objetividade infantil, as coisas são ou não são, sem essa de presumido! Um dia, quando ela contar até cem, saberá que a “nobreza” às vezes disfarça algo vil, que não raro, a integridade não passa de fachada, e a exaltação humana é enganosa, (ela vai ficar Tiririca). Deixará, enfim, essa mania infantil de nos meter em saia justa. Já pensou se ela me perguntar que é ética, moral, cristianismo!? Voltemos ao que interessa: Sixteen, seventeen... Quando ela descobrir que a vida não é uma ciência exata, que se escreve nas entrelinhas, que se diz o que não se quer dizer, será, então, adulta. Estará pronta pra vida, digo, morta. “Aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino dos céus...” preciso aproveitar sua companhia enquanto ela vive...
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Extrema-unção - por Runa

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Suspenso sobre o pórtico exausto do abismo
cerca-te a vertigem derradeira do poente.
Dois braços estendidos em sinal de cruz
abrem caminho na cartilagem escura da noite,
onde amanhece um rumor de carpideiras,
entre o equilíbrio fugaz do último verso
e o silêncio súbito nas pálpebras do vento.
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Depois da Queda, o Tombo - por Fatinha

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Querido Brógui:

Estou fora do ar por esses dias por conta da queda que meu pai sofreu com a conseqüente fratura do fêmur. Não estou muito no clima de fazer gracinhas. Você entende, não? Tá muito difícil vê-lo daquele jeito, deitado em um leito de hospital, morrendo de vergonha por não conseguir dar conta dele mesmo, pedindo desculpas a todo o momento por estar dando trabalho, sentindo-se tão impotente. A coisa mais marcante que ele me disse nesses últimos dias foi: “Minha filha, a velhice é uma merda!” Eu lhe respondi: “Só há uma alternativa para a velhice. E essa, ninguém quer.”
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Postado, originalmente, em 10/11/08.
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Prioridade - por Leila Dohoczki

Ao norte da vida
Na linha que finda as horas
Já não haverá auroras
Nem a glória de existir.
Só o sul atrás de si
Contando a história
Que de olhos fechados se ignora
Dias tristes, se foi feliz...
No horizonte,
Uma única certeza:
A morte.

A sorte não faz destino
É um desatino viver assim
Levado pelo vento das horas
Como folha seca pelo jardim.

E se a foice da noite nos espera
Que sejam as horas mais belas
Desse entardecer, o agora.

Destruamos as bússolas!
Não marquemos as horas!
Não olhemos para o fim!

Encantemo-nos com as estrelas
Com as flores do jardim...

Quem vive encantado, não morre
Quem deixa felicidade, não tem fim.
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Sublimação - por S. Ribeiro

por enquanto sem rumo
vou ficando: um cupim sem asa
iças fenecidas (menos uma cópula)

tudo pede um pouco de razão
exige parte que você pode não ter
quiçá não ser

por isso o cancro dos caules
por isso a pétala que cai
sem causar dor

por isso meus olhos novos
anseiam luz na morte de tudo
durmo e acordo, esfarelo sonhos

no ônibus o que preciso é comum
só a necessidade nos faz irmãos
compartilho a flor que não gritou

o dia passando nem parece enxergar
a mão inteira que busca um pouso
a boca oferecida esperando gosto

por isso a lâmpada queimada por
isso o pé cego mata cogumelos:
assim caio em mim cogumelo pisado

assim recolho as provas de que já
me tocaram, já toquei, pretendo amar.
todo fim me faz assim
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Eterno - por Runa

O tempo esgotou-se, num abraço de névoa
que te gela a palidez escancarada da face.
A luz efémera que cobria teu vulto esmaltado
dilui-se no frémito que percorre o corpo corrompido.
Um canto lamurioso e derradeiro
acolhe os despojos de teu definitivo cansaço
que se mistura com as raízes ensanguentadas da terra,
recolhendo à matriz do silêncio que te gerou.

Envolto na cegueira desse abismo desperto,
atravessas os jardins de um horizonte fechado,
onde um giz de cinza risca na ardósia do crepúsculo
os traços difusos da sombra que um dia foste
e a lamúria do luar espanta os pássaros de musgo
entre o vazio eterno dos teus dedos.
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O Homem Morto - por ZzipperR e vestivermelho

Houve um grito na multidão, pessoas correndo para todos os lados, muita gritaria... O que está acontecendo? Eu não consigo entender, mas o óbvio estava ali, no meio de todos, caído no chão.
Não se aproximem. Um homem acaba de morrer.
Todos perguntavam: O que aconteceu com ele?
Eles estavam muito assustados.
Curiosos perguntavam: Ele foi assassinado? Onde está o assassino?
Nenhuma resposta aparecia.
Uma garota cigana com um lindo vestido vermelho entrou correndo. Agarrou o homem e começou a chorar.
Depois aos berros, gritava com toda a força do seu coração.
- Não morre, por favor.
Tarde demais. Por mais que ela implorasse e pedisse, o destino estava selado.
- Você está levando tudo que eu tenho, não morra.
Todos ficaram calados, não falavam nada, apenas olhavam.
Fiquei imaginando se aquele morto ainda pensava ou escutava o apelo daquela mulher. Confesso que não sei.
Cheguei perto e falei:
- Fique calma. Você não pode fazer mais nada.
Alguns minutos depois, perguntei para ela:
- O que esse homem poderia estar levando de você?
Ela não pensou e respondeu:
- Ele se foi e levou a minha vida, como eu viverei sem seu carinho, seu cheiro, seu calor, e aquele abraço apertado. Por que ele se foi?
Eu respondi:
- Dizem que o tempo é a solução de tudo.
Ela respondeu:
- Não! O tempo não pode vencer um contador de histórias. Elas são eternas, como as canções.
Finalmente eu perguntei:
- Como era o nome dele?
Ela respondeu:
- ZzipperR
Fiquei ali parado, olhando aquela cigana, com aquele vestido vermelho paixão, segurando seu grande amor nos braços, branco e gelado, repetindo: - Não morra, meu amor, não morra que eu preciso de você.
Gritava com um grito de dor.
- Agora que te encontrei, você vai embora, então me leva com você.
A cigana ficou ali parada e pensando durante um bom tempo, de repente ela levantou e saiu andando com passos firmes e devagar, sem pressa, como se já tivesse um destino traçado em sua mente.
Seguiu até uma grande árvore e falou:
- Eu quero ficar com você. Abraça-me!
Era uma enorme e linda árvore, lindíssima com seus galhos cheios de folhas verdinhas formando um espetáculo que todos que passavam por ela paravam tentando entender a garota.
Sentada na sombra da árvore a linda cigana com seu lindo vestido vermelho gritou bem alto olhando para o céu:
- Vou ficar aqui sentada te esperando. Venha logo me buscar!
Depois disso, todos que passam pela árvore ficam admirando a linda cigana com seu lindo vestido vermelho esperando que seu amor venha buscá-la.
Suas últimas palavras foram:
- Beija-flor! Vem! Que eu estou te esperando. Dias e noites passaram e ela sempre olhando para a árvore na esperança que ele voltasse.
Será que o amor é mais forte que a morte?
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VrummmmmZummmmm
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Honorável Dama da Vida - por Vera Celms

Quero aqui homenagear o ausente.
Alguém a quem muito respeito quando presente,
Que a todos faz chorar,
Que a muitos faz orar,
Que a alguns faz resvalar.
Incontestável, não aceita negociar.
Chega, verifica a situação e consigo leva,
Sem choro nem vela.
Missão cumprida, a nenhum pedido releva.
Vem resoluta,
E de quem sofre, abrevia a luta.
Espreita, teimosa, a quem já viveu toda a vida
E resolve, num repente, na distração do escuro do quarto,
E se anuncia inconteste só no amanhecer.
Nada questiona, pois não faz concessões.
Nada importa, nem idade, nem crença, nem convicções,
Leva a quem muito nos importa,
Leva àquele que “roeu a corda”
Não se anuncia antes, não pede licença e, atrás de si, nem fecha a porta...
Leva mocinho e bandido,
Não deixa explicação nem aviso,
Impoluta dama de negro, servil,
Arranca e leva o ser amado, o astro e a estrela,
Insinuante, majestosa, hostil,
Mansa, densa, larga, plena, porque não fico feliz ao vê-la?
Sua chegada causa comoção,
Na sua saída, emoção...
Honorável dama da vida
Que, de assalto, chamamos MORTE!!!
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A Morte... - por vestivermelho

A morte
Sempre enfeitada com flores coloridas, vermelhas e brancas
Todo os tipos e formatos, delicadas ou rústicas
Perfumadas, onde tudo parece calmo

A morte...
Vem misteriosa e permanece misteriosa
Poucos reconhecem sua chegada
Uns temerosos, outros querendo que ela nem venha
Mas ela vem
Sorte de quem se preparou para recebê-la:
Reconhece e parte tranquila na escuridão do desconhecido
Outros não a reconhecem, e temem
Luz é colocada em forma de velas
Como se marcando o local para que os anjos da morte encontrem o caminho de volta de onde vieram.
Um dia irei te encontrar vestida de cetim vermelho
Pois em qualquer lugar esperas por mim
E no teu beijo provarei o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Morte, o grande mistério da vida...
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Baguaçu - por ZzipperR

Ao longo da vida, todos nós carregamos lembranças de histórias contadas pelos nossos pais, tios ou outras pessoas.
Não sei porque, mas estas histórias estão sempre fazendo parte do nosso inconsciente, conectadas ao nosso imaginário dando a impressão e a sensação de que a história também fez parte da nossa vida, ou está sempre fazendo. São lembranças, lembranças e lembranças que dão vontade de querer saborear mais um pouquinho daquela magia que traz consigo um pedacinho de carinho e companhia de quem nos contou.
Tantas vezes meditando em busca das histórias que fizeram parte da vida de meus pais, aquelas que eles contavam quando eu era criança na minha querida infância e não sou capaz de recontar, mas elas estão aqui, vivas na minha mente, de tempos em tempos girando nas minhas lembranças, vivas como eu, e me fazem flutuar no tempo atrás delas com uma vontade louca de contá-las.
Baguaçu no interior de São Paulo faz parte dessa história. Eu nem era nascido ainda, mas lá viviam meu pai, minha mãe e meus irmãos, em um lugar distante de vizinhos e da cidade. Não tinha luz e a água tinha que ser buscada em uma nascente longe da casa.
Tudo isso é normal, menos as histórias que meu pai trouxe de lá, como a história de uma cidade chamada Borboleta, nome dado à cidade devido a uma mulher que na lua cheia se transformava em uma grande borboleta e voava pela cidade, até o dia em que ela apareceu em um bar. Ela era enorme e as pessoas tinham medo dela, porém um homem não! Ele pegou uma garrafa, quebrou e golpeou a linda borboleta. O golpe foi fatal e ela, na medida em que ia perdendo seu encanto, ia se transformando em uma linda mulher. Não sei até onde esta história é verdade, mas fico feliz de compartilhá-la.
Baguaçu era misterioso, alguma coisa estranha acontecia ali, alguma coisa macabra que ninguém conseguia entender, a morte não dava tréguas, levava todos os moradores deixando as casas vazias, um mistério sobrenatural. Naquela cidade todos morriam rapidamente, uma senhora já tinha perdido todos seus filhos em questão de dias. O que está acontecendo aqui? Ninguém sabia explicar. Inclusive meu pai foi vítima da morte, já tinha perdido dois filhos, a morte levou dois irmãos meus em Baguaçu. Meu pai não teve dúvidas, pegou minha mãe e os filhos que sobraram e fugiu da morte indo embora da cidade e nunca mais voltou.
Acredite! Estas histórias são verdadeiras. Se não acreditar, aqui está um convite para você passear e conhecer Baguaçu. Se você voltar conte a sua história.
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Sobre a Morte - por Alba Vieira

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Não há porque se inquietar
Se não existe outra opção
Afinal, a morte é só mais um bilhete
Rumo à próxima estação.

Morte é convidada ilustre
Que sempre causa um frisson
Às vezes chega, mas não fica,
Só deixa no ar a transformação.

Há os que aceitam o convite
E partem com ela de braços dados
Se não é o momento, não ultrapassam o limite
Mas voltam, certamente, transformados.
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Cada Vez que Respiramos - por Runa

Cada vez que respiramos,
um incêndio de sol
rasga, num sonâmbulo equilíbrio,
a bruma cega do mármore,
abrindo uma nova janela
no litoral negro do abismo.

A pulso,
um pássaro de oxigénio
escala a engrenagem metálica
de um sinuoso horizonte,
irradiando,
num silêncio de narinas,
o cristal sereno das marés,
pousadas numa ilusão de eternidade.


A mortalha breve do tempo,
aspirando o pólen matinal,
suspende o abraço de gelo
que cerca a métrica azul
de uma metamorfose de estrelas,
adiando uma vez mais
o bordado húmido da terra
e resgatando, ao pranto dos labirintos,
o voo suspenso da quimera,

cada vez que respiramos,
iludindo
o murmúrio transparente da morte.
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