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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O Canto da Sereia - por Ana

Mora em mim uma sereia louca que melodia por anos a fio. Tento viver as horas em silêncio, tratar assuntos importantes com sobriedade, mas há um som macio insistente, uma trilha sonora incansável que acompanha tudo o que sou. Este canto não me chama: ele apenas se impõe. Lembra, persistente, que existem as movimentadas e lentas ondas do mar, a profundidade abissal negra e fecunda, as imponentes naus tragadas, as indigentes almas que vagam ao sabor dos rios submersos, as duras rochas fertilizadas, os extraordinariamente coloridos recifes de coral, a claridade molhada do sol, os grãos de areia entremeados de habitantes e as múltiplas pegadas que se vêem e vão. Porém, sua mensagem mais contundente trata da natureza das coisas: daquilo que pode existir sem nunca ter sido visto; do que se pode encontrar nas atmosferas das tantas possibilidades; dos seres considerados mitológicos apenas por conta das limitadas leis que regem a condição humana; das metades excludentes que formam, prodigiosamente, a perfeição.
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O Canto da Sereia - por Alba Vieira

Quem ainda não sentiu um apelo tão forte, de qualquer natureza, que fez com que sua visão ficasse ofuscada e partisse guiado apenas pela atração fatal em busca de alguma coisa que, sentindo ser verdadeira, perseguiu até o infinito, ultrapassando seus próprios limites e, talvez, tendo acabado a ilusão, se descobriu traído ou derrotado ante a verdade crua, exposta (a dura realidade)?
Como condição arquetípica, todos nós já nos encontramos enredados por ilusões (seja no amor, no trabalho, na família). E para alguns, mais afeitos às fantasias, isto pode ser muito freqüente.
Importante estarmos atentos ao examinar determinada questão ou nos relacionarmos com alguém, já que há sempre pistas que nos alertam para a possibilidade de tratar-se da fantasia (ouvimos o canto e não vemos a mulher linda). Há um quê de improvável, um certo véu nubla a nossa visão, as promessas ultrapassam nossas expectativas, a pessoa não aparece ou usa outras formas de comunicação virtual, a situação não encaixa com o contexto ou seja lá o que for. O certo é que algo nos faz duvidar da veracidade dos fatos ou da realidade e idoneidade das pessoas envolvidas. Entretanto, aquela parte de nós que sonha se deixa persuadir, cresce e segue enfeitiçada em busca do objeto do seu desejo. Até a derrocada final, quando cai atingida pela claridade ofuscante do real impiedoso que finalmente se mostrará.
Todavia, não é vetado ouvir o canto da sereia. Ainda que só nos deixemos embalar pela voz maviosa, sem cair no sono profundo da insensatez e depois jazer nas garras de algum monstro horroroso.
A fantasia alimenta a alma e pode ser o preâmbulo das grandes realizações e conquistas. Afinal tudo acontece, antes de se tornar realidade, em nossa imaginação.
É fato que nosso corpo e nossa mente podem responder prontamente ao que compomos em nossa imaginação, sendo possível alterar processos orgânicos e estados mentais com mudanças de humor ou mesmo curar doenças através de técnicas de visualização de imagens. Podemos nos beneficiar muito com isto. Como tudo no universo, ao considerarmos a ilusão - o canto da sereia - estaremos na dependência do ponto de vista, não sendo intrinsicamente bom nem mau, cabendo a cada um de nós, em cada circunstância, determinar o modo de vivê-la. Assim, em mar bravio, tanto pode o marinheiro recobrar as forças nos braços da sereia até que o pior passe, como segui-la, ignorando os perigos, sendo vítima de naufrágio fatal. A escolha é sempre nossa.
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