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Eróticos.)




quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Múmia - por Leo Santos

Sem a vara de Moisés, sangue nas águas,
corre o rio, ou correm mágoas?
Suporta ácidos, e tantas máculas,
Ainda a mordida, de tantos Dráculas.

Segue sereno, só por seguir,
se fezes navegam, não vai resistir;
quando o homem tem sede, está bem ali,
mas se é muita sede, não está nem aí…

Doa cascatas, empresta espelhos,
pra Narcisos, ou monstros quaisquer;
sentenciado, estoico, bebe a cicuta,
e não chama ganância de bela mulher.

Executado, seu fantasma assombra.
então os peixes, morrem de medo;
sepulto no próprio leito, cova rasa,
múmia exposta, tétrico brinquedo…



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A Banalidade da Morte - por Duanny

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Um dia ensolarado, com um calor tremendo e o ar abafado, não era um bom cenário para um velório, as ruas estavam mais desertas, as pessoas mais caladas, nada se via, nada se dizia, mas o que pensar quando a morte se aproxima tanto de você?!

Eloiza nunca tinha ido a um velório antes, mesmo quando seu pai morreu, não porque ela só tinha 8 anos, mas sim porque não era uma boa hora para ver seu pai dentro de um caixão.

Chegando à porta do velório teve a impressão de todos estarem olhando para ela, corroendo-a, explorando com os olhos seu interior, investigando seus segredos, mastigando abusadamente seus desejos mais obscuros, mas ela só conseguia ver olhos marejados, cheios de ódio e com um brilho de saudade, não um brilho qualquer, um brilho que deixava rastros, poderia cegá-la se ela tivesse coragem de encará-los, mas para Eloiza ter suas lembranças mais pavorosas sendo arrancadas por um olhar era demais para ela. Preferiu simplesmente entrar, o mais silenciosamente que pôde, mas isto parecia inútil, todos a ouviam, todos a viam, seus pensamentos estavam gritando para todos aqueles ouvintes melancólicos que ela estava ali por pura consideração a uma amiga, não conhecia a Falecida, só estava ali por consideração; mas porque todos a olhavam, todos a invadiam, entravam e saíam de sua mente descaradamente, sem nenhuma cerimônia, porque?

Eloiza procurava sua amiga como uma desculpa para se livrar de todos aqueles invasores, era o único velório do dia e ela estava lá paralisada, estática, ao lado de um caixão aberto. Havia algumas pessoas sentadas ao seu redor, mas a única que tocava no cadáver era ela, a filha, cercada por uma tristeza... Seus olhos não tinham o mesmo brilho dos outros, pelo contrário, estavam opacos, opacos pela solidão que agora tinha se apoderado de todos os cantos daquele coração, Eloiza se aproximou da amiga, ela a fitou com alívio, mas o que dizer agora? Perguntar “tudo bem?”, não, não tá tudo bem, dizer o quê quando a mãe de uma amiga falece? Ela preferiu o mais óbvio “meus sentimentos”, foi a única frase que se ouviu pronunciar dos lábios de Eloiza, a amiga retribuiu com um abraço, frívolo, em respeito.

Pela primeira vez Eloiza olhou para o caixão, era uma mulher já idosa, mas dava para se notar que era vaidosa o suficiente para pintar os cabelos e esquecer que o tempo a invadia. Ela poderia estar dormindo, sim, poderia, mas aquele caixão era demasiadamente desconfortável, tinha em volta muitas flores, ela não poderia se mexer, não daquele jeito, nas mãos havia rosas e uma bíblia, mas ela continuava ali, dormindo.

Não a conhecia, nunca tinha visto aquela mulher antes, mas um sentimento pavoroso tomou posse do coração de Eloiza, ela estava ali dormindo, sim, dormindo, não podia se mexer, mas não era isso que a assustava, ela não respirava, os pulmões não tinham mais ar, nas veias o sangue não corria mais, mas ela estava ali dormindo. Eloiza queria gritar, “ela não tá respirando”, queria acordá-la e falar com ela, queria ouvir a voz daquela desconhecida, mas ela não exalava vida, não havia presença, somente o corpo, a coisa mais mórbida que ela já tinha visto.

Eloiza ficou um tempo paralisada observando o cadáver, nunca tinha visto nenhum, por um momento começou a imaginar todos os entes queridos que já partiram dentro daquele caixão desconfortável e os imaginou também sendo enterrados. Como poderiam enterrar aquela mulher que, mesmo não respirando, continuava dormindo, continuava, ali presente?

Eloiza virou as costas e saiu do velório, agora ela tinha o mesmo brilho nos olhos, conseguia ver aquela mulher idosa dormindo em meio a flores, que ainda iriam apodrecer embaixo do solo, junto com os vermes mais nojentos, que iriam se alimentar de uma carne que não sangrava mais, que não sentia mais, uma carne em decomposição, esquecida, deixada em um lugar em que somente a memória poderia visitar. Naquele mesmo dia Eloiza decidiu ser cremada e depois ter sua cinzas jogadas em uma roseira, não queria dormir em um caixão desconfortável, queria fazer parte do perfume, queria exalar e participar da felicidade dos corações apaixonados, mesmo que ela se encontrasse decomposta, sozinha, derrubada e morta.



“A verdade é que todo mundo vai te machucar, você só tem que decidir que lado vale a pena sofrer.”
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Duas Coisas Tão Distintas Como “Meu Amor” e “Meu Amor” - por Violeta

Meu amor, basta ouvir a entoação. Repara, quando digo “meu amor” digo-o de forma diferente de “meu amor”. É bem claro, se digo “meu amor” não digo “meu amor”. Entendes, meu amor? “Meu amor” chamo a quem gosto e por quem tenho estima. Já “ meu amor”… não. Não chamo a ninguém. Devo ter chamado “meu amor” a duas pessoas na minha breve vida, mas não volto a dizer. Não. Fechei quem de direito à chave e não volto a abrir. Acabou. Acabou e não há mais “meu amor” para ninguém. Fico com os “meus amores”. Pessoas de quem gosto e pelos quais tenho uma leal estima e que vão deixando marcas… marcas bonitas de serem sentidas.
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Desenho de Violeta
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