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Eróticos.)




domingo, 12 de agosto de 2012

Arthur da Távola e a “Minha Criança” - Citado por Adir Vieira

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Nesses dias que antecedem o Natal e me deixam sem tempo para colocar no papel minhas próprias reflexões, divido com vocês esse belíssimo texto de Arthur da Távola.
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.“Peço licença para falar na minha criança, a que mora aqui dentro e não me abandonará jamais.
Talvez com a morte eu até regresse a ela.
Os quase setenta anos que dela me separam não a removem.
Ela ali está, magra e tímida, a me olhar e ditar comportamentos e reações.
Minha criança esteve em todos os meus filhos e aparece nos meus netos.
Ela se refaz da morte da irmã e abre os olhos para o mundo, com a certeza de que veio ao mundo para alguma missão, embora sempre se considere inferior ao tamanho da mesma.
Ela sente enorme saudade do pai e da mãe com quem o adulto já não conta salvo no exemplo, na saudade e nas orações quando me domina uma fugidia sensação de estarem, incorpóreos, a meu lado, mas sem se manifestarem.
Minha criança possui incomensuráveis solidões diante do mistério do infinito.
Ainda recua diante do violento, embora não o tema, e ainda se infiltra em episódios de distração e inocência inexplicáveis num homem com minha carga de vivências.
Minha criança ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu, tais a entrega e a total confiança no mistério e na proteção de Deus.
Ela carrega o melhor de mim, é portadora de meu modo triste de falar de coisas alegres e de algum susto misterioso sempre que se lhe impõe alguma expectativa de enfermidade.
Minha criança é inteira, mansa, bondosa e linda.
Eu a amo, preservo, e dou boas gargalhadas quando a vejo infiltrar-se nas graves decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas.
Ninguém a vê, salvo eu.
Ninguém a acaricia, salvo eu, que a estimo, procuro e admiro mais a cada dia e com quem converso histórias infinitas, que somente a imaginação pode conceber no universo maravilhoso da fabulação interior e solitária.
Diariamente passeio com minha criança e estou muito feliz por cumprimentá-la, levar-lhe balas, nuvens, aquele cão da meninice, as canções de minha mãe e os carinhos de meu pai.
Que eu possa acarinhar sempre minha criança, dando a ela a oportunidade de sonhar e ser feliz.
Seja feliz, minha criança!!!”
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.Visitem Adir Vieira
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Esquisitice - por Clarice A.

Ninguém sabia quando tinha começado aquela mania. Alguns achavam que foi quando casou com a Dona Valdice. Assim que perceberam, Seu Antenor (pela frente) virou Seu Ice (pelas costas).
O nome das filhas: Janice e Eunice. Era um homem de frases curtas talvez para facilitar a tarefa de terminar as palavras com ice. Devia ser seu mantra.
Apaixonara-se pela morenice e brejeirice de Valdice e agora mais velho não se importava com suas crendices e ranhetices.
Curtiu a meninice, peraltice, tagarelice, faceirice e meiguice das filhas.
Não o incomodavam a burrice, lerdice, cafonice ou gabolice dos outros mas detestava bisbilhotice, imundície, calhordice, gatunice, cretinice e invencionice.
Um dia, ao atender a campainha, um rapaz procurava pela Jan. Seu Ice disse-lhe que ali não morava ninguém com esse nome e o rapaz explicou-lhe que Jan havia dado aquele endereço. O rapaz já ia embora quando Janice chegou à porta e acenou para ele. Tentou explicar ao namorado que o pai não gostava que abreviassem seus nomes mas ele não gostou nada, e se ela não tivesse aparecido? Ele perderia a viagem e o encontro. Ficou a má impressão. O tempo passou, o namoro engrenou, casaram-se e o genro, segundo suas palavras, não tinha saco para as maluquices do sogro, os outros não ligavam, mas ele não ia bater palmas para maluco dançar.
Eunice casou logo depois e para felicidade do pai as duas engravidaram. Nasceram duas meninas e o avô deu suas sugestões de nome. As filhas gostavam de agradá-lo, era uma forma de retribuir todo amor dele à família. Eunice e o marido aceitaram de imediato a sugestão, gostaram do nome e a primeira neta recebeu o nome de Alice. Quando a menina de Janice nasceu, o genro achou de dar o troco ao sogro. Aceitava qualquer nome desde que não fosse o sugerido por ele. Dona Valdice, Eunice e Janice tentaram contornar, o avô estava tão feliz, já havia escolhido o nome de uma neta, vivia para a família, dedicação total, coisa raríssima, mas o genro estava irredutível. Janice não queria contrariar o marido mas não aceitava que ele nem sugerisse um nome. Pesou prós e contras e escolheu ficar do lado do pai, sabe que pode contar com ele, seu porto seguro é o pai. Usou com o marido argumento de peso. Não foi o pai quem deu o imóvel confortável onde moravam, a festa de casamento e ainda fazia o possível para facilitar as coisas para eles? Ele não aceitou? O marido rendeu-se ao argumento, pensando bem, tinham cobertura total dos pais dela e era melhor ceder. A condição era que gostassem do nome. A menina recebeu o nome de Berenice mas o pai só a chamava de Berê. Seu Ice achava idiotice do genro, um nome lindo como Berenice, chamar a criança de Berê, mas as coisas voltaram ao seu ritmo normal.
Seu Ice felicíssimo com Dona Valdice, Janice, Eunice, Alice e Berenice. Cuida-se bem, e faz questão que a mulher também se cuide. Evita aborrecimentos e raiva, inimigos da boa saúde. Vai regularmente ao médico, come com moderação, caminha diariamente uma hora e não tem vícios. Quando chegar a sua hora, certamente Deus olhará por ele e realizará seu último desejo: morrer de velhice.
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