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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tema do Mês de Setembro: Abandono

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Caríssimos amigos:
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Hoje foram publicados apenas os textos referentes ao Tema do Mês:
“Abandono”.
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Participantes
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Aaron Caronte Badiz
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Ana (2)
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Dália Negra
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Lélia
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Luiza
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Penélope Charmosa
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Saulo Rosa
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Soraya Rocha
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Vicenzo Raphaello
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Muito obrigado a todos que colaboraram com esta “blogagem coletiva”!
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Um grande abraço!
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Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Soraya Rocha

Para o tema Abandono, nada mais forte e significativo do que esta poesia que nos traz a perplexidade diante da realidade atual. Perplexidade esta que deve se tornar ação, até que estes fatos não passem de lembranças más.



O HOMEM NO LIXO
(ANA)

Ontem, andando na rua,
Vi um homem adormecido
No meio de sacos plásticos.
A sua cama era o lixo.

Parei ao olhar praquilo,
Olhei e tudo parou...
Sequestrou-me o inusitado,
Minha cabeça pirou.

É o cimento da calçada?
O lixo é mais confortável?
Os sacos são travesseiros?
Mas... e o cheiro insuportável?

Eu não entendia niente,
Os neurônios não agiam,
Não enxergava mais nada,
Os meus pés não se moviam.

Não havia mais trabalho,
Ponto a bater, o horário,
Chefia, clientes, agenda,
Desconto no meu salário.

Éramos eles e eu:
Homem, lixo, catatonia,
Sono, sujeira, susto,
Cansaço, imundície, agonia.

Um esbarrão me acordou
Do estado de letargia,
Consegui dar alguns passos
Em direção ao meu dia

Que agora não era meu,
Era deles totalmente:
Mais que imagem, uma verdade
Paralisando a minha mente.

Fui zumbi até a noite
Na hora em que fui dormir.
Fui arrumando a cama,
Mas parei pra refletir.

Sentei no chão contra a parede,
Relembrando aquela cena:
O sono profundo e calmo
Numa face tão serena...

Ele teria bebido,
Tanto que nem percebeu
Onde descansava o corpo
Em uma noite de breu?

Pensei: só pode ser isso...
Ele estava sem noção,
Dormiu sem ter consciência,
Não agiu por opção.

Então eu dormi tranquila...
Não foi algo voluntário...
Ninguém agiria assim
De modo tão temerário...

Então, na manhã seguinte,
Me arrumei, comi, saí,
Me dirigi ao trabalho,
Nem pensava no que vi.

Até que, no mesmo local,
Não cri no que o olhar via:
No mesmo lixo de ontem
Uma família dormia.
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Inspirado em O Homem no Lixo é Lixo, de Alba Vieira
e Escuro, de Luiz de Almeida Neto.
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Tudo Passa - por Alba Vieira

Quanta coisa abandonamos pelo caminho!...
Sonhos, crenças, amigos, ideais...
O tempo traga, sem percebermos,
Tudo a que não nos ligamos mais.

Só fica para sempre (se é que isso existe)
O que passou a fazer parte de nós,
Aquilo que regamos com a água bendita do amor,
Que olhamos, e lembramos, se estamos sós.

Abandonamos o que aos poucos em nós perde o viço
E somos deixados por quem se desinteressou...
Mas há coisas que acabam dando sumiço,
Mesmo se delas cuidamos com amor.

É que cada coisa na vida tem seu tempo
E há o tempo certo de cada coisa nos deixar.
Melhor seguir praticando o desapego,
Viver o momento inteiramente, ser capaz de abandonar.

Ousar seguir prendendo-se a nada,
Voar mais alto, se preciso for,
Pois os únicos laços, nesta longa estrada,
Que jamais se rompem, são os do Amor...




Visitem Alba Vieira
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Minha Querida: - por Aaron Caronte Badiz

Vivemos juntos há anos. Já fomos mais que irmãos, já fomos amantes, já fomos muito amigos, já fomos confidentes. Houve um tempo em que nós éramos um: a mesma forma de pensar; todos os medos expostos, você sempre buscando meu colo, se aconchegando no meu ombro para contar suas desventuras e seus dias; as noites em claro entre sorrisos e lembranças; as refeições temperadas a reflexões, divagações e análises existenciais.
Hoje continuamos aqui, juntos, mas somos dois. Eu sempre no escritório, você na cozinha. Ouvimos músicas diferentes; não assistimos aos mesmos programas; os relatos de seus dias são curtos; meu colo não te abriga mais; seus medos (se é que os tem), você os enfrenta sozinha; meu ombro está esquecido, apenas se curvando cada vez mais facilmente ao peso dos dias; as noites são de sono escuro e silencioso; as refeições são acompanhadas pelas notícias dos telejornais, que nem comentamos, pois refletem, monocordicamente, este mundo errado em que vivemos.
Então eu me pergunto e te pergunto: será que já nos conhecemos tanto e equilibramos tão bem dentro deste estado humano, que as palavras não são mais necessárias; ou será que, em algum momento de nossa jornada, sem sentir, nós nos abandonamos?
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Abandono - por Adhemar

Nas canções que eu canto
tu me lembras sempre;
pra secar teu pranto
eu fiquei ausente...

Também,
não te escrevo mais!
Qual sentido tem
querer-te e ter paz?...

Também,
qual é o meu caminho?
Quis ter-te comigo
e fiquei sozinho...

O caminho vai
muito além dos cantos,
das canções que canto
pra secar meu pranto...


(p/ BSF)
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Visitem Adhemar
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Abandonados por Nós Mesmos - por Adir Vieira

Abandonados estamos de nós mesmos. Quantos de nós ainda nos olhamos com aqueles olhos benevolentes da descoberta? Quantos de nós, tomam conta do corpo, dos pensamentos... Quantos de nós se dedicam a si mesmos, como pessoa, única e exclusivamente. Não sei se por medo de ir fundo nas descobertas talvez desagradáveis que compõem até o ser mais preparado, ou mesmo se por desleixo por se considerar já pronto ou, apenas, por ter que cuidar da sobrevivência.
O que sei é que o abandono de nós mesmos já se dá desde muito cedo, quando abrimos mão de nossos mais ínfimos desejos em prol de outros, seja da sociedade que nos rodeia ou da própria família que nos exige cada dia mais concessões.
Estou aqui na janela do meu quarto e acabo de levantar. Em frente a minha janela, o pátio de garagem do prédio vizinho. São apenas seis horas da manhã, mas dois meninos gêmeos, de apenas sete anos, acompanham e são puxados pela mãe para o carro e mostram visivelmente que preferiam estar na cama sonhando sonhos azuis.
A mãe, ao mesmo tempo em que os força a entrar no carro com uma das mãos, com a outra penteia freneticamente os cabelos.
Dois tipos de abandono: o da mãe por si mesma em fazer valer sua sobrevivência e o dos meninos em deixar pra trás seus primeiros desejos de dormir e sonhar.



Visitem Adir Vieira
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Abandonada - por Alba Vieira

Sozinha entre iguais desconhecidos
E abandonada pela sensatez
Disfarço e ando solta. Faz sentido?
Incrível essa minha desfaçatez!

Pareço pensar como todo mundo
Ninguém imagina o que em minha mente vai
Se pudessem lê-la nesse segundo
Veriam, claramente, a causa dos meus ais.

É que meu universo é tão sombrio
Que parece para nada haver esperança
Eu me debato sempre nesse caudaloso rio
Enquanto aguardo (paradoxo) a bonança.

E vou tocando os dias sempre iguais
Fazendo só o que deve ser feito
Sem cor, sem brilho, só fatos banais...
Pois que o problema é o olhar que não endireito.

Chamem de depressão ou de falta de graça
Não importa o nome que se dê
O fato é que não consigo escapar da trapaça
Que o mundo fez comigo ou eu mesma fui capaz de fazer.

É isso mesmo, vejo claramente agora
Não é Deus nem o mundo, sou eu que me abandono
E pra poder dar uma reviravolta nessa hora
Ao invés de me vitimizar, só tendo comigo o definitivo confronto.



Visitem Alba Vieira
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Tributo aos Meus Amigos - por Alessandro Santos

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MEDO DO ABANDONO
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Tenho medo de ser abandonado
Não abandonado por meus amores
Pois são estes efêmeros.
São chamas que se apagam
Ao balancear de ventos fortes
Que anunciam as tempestades.

Tenho medo que me faltem os amigos
Que eles me abandonem
Que me falte o brilho de seu sorriso
E a melodia de suas vozes
Ao entoar lindos hinos de alegria.

Tenho medo que as amizades virem cinza
Em meio ao fogo de um momento
A raiva de um instante
A discussão de um minuto
O estopim de uma palavra
Mal dita e mal entendida.

Tenho medo de que a distância
Por mais perto que pareça
E mais longe que seja
Seja um precipício, intransponível
Vigiado por um rio profundo
E inquietante em seu percurso,
Que evita que nos aproximemos novamente,
Que lembremo-nos dos bons tempos.

Tenho medo de que meus sonhos
Se tornem ambiciosos demais
E sufoquem os sonhos de meus amigos
Tenho medo de que meus sonhos
Se tornem inquietantes demais
E que em busca de realizá-los
Eu me esqueça de minhas amizades.

Tenho medo de acordar
E descobrir que as amizades
Eram apenas sonhos.

Tenho medo de dormir
E descobrir, ao acordar,
Que meus amigos se foram.

Tenho medo de dormir novamente
E mais uma vez acordar
Dormir, acordar,
E não desfrutar do prazer que amigos nos dão.

Tenho medo de ser eu
Sem ter você, amigo
Companheiro, chato
Brilhante, sincero,
Falso, inteligente...
E todas as faces que você tem
Quando eu preciso delas
E, mesmo sem dizer nada,
Você sabe qual deve usar.

E ao mesmo tempo em que tenho medo
Tenho esperança
Esperança de que nunca me faltem amigos
Esperança de que nunca eu perca amigos
Esperança, ESPERANÇA.

Tenho esperança
Esperança de que as cinzas das discussões
Geradas em meio ao fogo de um momento
Em meio à raiva de um instante
Em meio à discussão de um minuto
Em meio ao estopim de uma palavra
(Mal dita e mal entendida)
Seja matéria-prima da ressurreição
Assim como Roma voltou das cinzas,
Assim como a fênix ressurgiu das mesmas.
Ambas mais fortes, mais inabaláveis,
Mais tudo.

Se eu acredito serem possíveis tais coisas?
Eu acredito em tantas coisas más que o mundo me impõe
Que acreditar em meus amigos
E a infindável amizade entre nós
É uma das maneiras de ser feliz.

A certeza de uma vida repleta de amigos
É combustível suficiente
Para a certeza e o desejo de viver.

E assim
Tendo a esperança do meu lado
Meu medo se dissipa
Esperança, como dizem,
É a última que morre
E enquanto ela não morrer a certeza continua
E uma luta também:
Viver com um infinito de amigos
E ter um infinito de amigos pra viver.



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Abandono - por Ana

Eu te abandono agora
E sem dor na consciência.
Esgotei todo o amor
E a minha paciência.

Por anos me dediquei,
Em troca só veio coice.
Inteligência é pra isso:
Um dia passar a foice.

Vai cuidar da tua vida,
Que da minha cuido eu.
Eu fico melhor sozinha.
Sai do meu pé, Zebedeu!

Eu levo aquela ampulheta,
Tu fica com a frigideira,
Também vou levar a mala,
Pode ficar com a fruteira.

Enfim minha liberdade,
Não ter mais que te aturar.
No more engomar cuecas,
Ver Esporte Espetacular,

Nunca mais festas na laje,
Não mais churrasco domingo,
Nem desencravar tuas unhas,
Nunca mais pisar num bingo,

Não passar mal com teus puns
E teu cheiro de chulé,
Não aparar mais teus pelos,
Nem aturar a outra mulher

Ligando pra cá todo dia,
Gritando no meu ouvido,
Cobrando a pensão dos filhos:
Zezé, Luizinho e Fido.

Vou-me embora, já cansei!
Deixo o cachorro pulguento,
O Faminto é seu, se vira!
Acabou-se meu tormento!

O carro fica contigo
(Aquela banheira velha),
Vou levar os DVD’s,
Tu fica com a louça e a grelha.

Do resto não faço questão,
Nem da cadeira de vime.
Meu Deus! Eu tô exultante!
Ser tão feliz é quase um crime!
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Abandono - por Ana Lucia Timotheo da Costa

Barriga à boca
ela caminha.
Pés inchados,
sandálias velhas,
filho a caminho.
Sequer sonha,
sequer vive.
Apenas resiste.
Como pensar no amanhã
se não vive o hoje?
Mais um será cuspido
à terra do abandono.




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Abandono - por Ana Maria Guimarães Ferreira

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Abandono do lar
Abandono do incapaz
E do que é capaz
Abandono material
E do espiritual
Abandono intelectual
E do que não é normal
Abandono afetivo
Desapego emotivo

Quando você abandonou
Nosso lar,
Nossas coisas materiais
E espirituais
Nossos livros
Nosso encontro intelectual
Até mesmo nosso amor
Tudo o que era normal
De repente
Virou anormal

Senti o abandono afetivo
Do desapego
Do apego perdido
Do amor escondido
E reprimido
Sofrido
Sentimento invisível
Que me consumiu
Uma sensação
Estranha
Indecifrável
Esquisita
De que tudo
Tem um fim
Até os sonhos se acabaram
Se transformaram em nada
Em impossível
De ser
De ter
Sem você
Esse olhar inexistente
Que não sinto mais em mim
De tua voz agora muda
Que não fala
Aos meus ouvidos

Só sei
Que eu fui morrendo aos poucos
Em todos esses anos
Que fiquei esperando por você!



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Abandono - por Cacá

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“...Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam...”
(“Maior Abandonado”, Cazuza)
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Eu fui procurar uma senhora que vi no jornal. Lá na praça da rodoviária onde ela vive. O que me chamou atenção não foi o abandono. É que ela é da minha cidade, Itabira. Está aqui em Belo Horizonte porque os filhos a abandonaram ou ela abandonou os filhos. Não sei de quem partiu a iniciativa. Isso virou algo tão corriqueiro nas ruas das grandes cidades que esses seres são como elementos da paisagem urbana. Como postes que se mexem e têm vontades de vez em quando. Só são notados pelo cheiro que incomoda, pelas necessidades fisiológicas que fazem nas ruas. Mas esse não é um tema que eu quero para uma crônica sobre abandono. É um caso crônico de polícia, justiça, das injustiças que já não fazem tanta diferença a quase ninguém. É assim, dizem quase todos: uns vencem na vida, outros não. Têm milhares de argumentos, de justificativas, umas mais sórdidas que as outras. Têm até teorias sociológicas, psicológicas de que a desigualdade é inerente ao ser humano.

Atualização da teoria de Malthus. Aquele inglês que disse, no século dezoito, que a melhor maneira de se acabar com a pobreza era eliminando os pobres através da fome, das pestes e das guerras. Em certa medida, mesmo que não esteja nos programas de governo do mundo, tem dado resultado. Outro dia eu vi um senhor dando umas moedas para um homem imundo e maltrapilho na rua. O homem estendeu a mão para agradecer ao senhor e este recusou. Depois se virou para os passantes e com aquela fisionomia de asco (acho que era asquerosa), comentou “Tá louco, que nojo!”.
Ainda não é dessa forma que queria tratar do abandono em uma crônica. Que saco!

A senhora da entrevista era articulada no linguajar, disse que possuía casa, já teve trabalho, mas resolveu ir morar nas ruas. Quando a pergunta era sobre os filhos ela desviava o olhar despistando as lágrimas que insistiam em derrubar a sua altivez momentânea e vacilante.

A mídia faz sempre esses trabalhos maravilhosos. Mas fica lá num canto de página. O que importa mesmo à grande maioria é a chamada de capa, a manchete (resulta em venda imediata). O resto cai no esquecimento, no abandono também.

Já reparou que com o advento do “politicamente correto” o menor abandonado ganhou o eufemismo de menino de rua? Fica até mais fácil mantermos o estado de abandono com menos culpa. A semântica ajuda bastante nos gestos.

O abandono não encontra redenção em nenhuma teoria. Não sucumbe à insensibilidade. Saí daquela cena. Na mente, uma definição doída: a fotografia da indiferença jogada ao relento.
Não consigo falar mais nada.
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Visitem Cacá
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Abandono - por Dália Negra


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Eu te abandonei três vezes.
Tirei de mim, joguei, vivo, aos cães.
Eu te arranquei de mim. Peito aberto.
Rasguei o coração com os dedos.
Escavei com as unhas.
Até não haver nada de ti.
Revirei a alma, aflita, buscando tua presença.
Onde a encontrei, apaguei com a indiferença.
Nas profundezas sombrias de fogo e dor queimei as lembranças.
Em meu pensamento maldisse tuas cinzas e as arremessei no mar do esquecimento.
Limpei-me de ti. Peito fechado.
Mas junto contigo foram minha alma e coração.
E me ficaram as cicatrizes.
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Abandono - por Dan

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Abandonar uma pessoa é um ato de renúncia, desprezo, desleixo. Falta de amparo. Praticam o abandono os pais que deixam, sem justa causa, de prover o sustento, a guarda e a educação dos filhos menores de 18 anos.
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- Não foi assim que eu pensei, Roberto, queria uma família.
- Não se forma uma família da noite para o dia. E o garoto só está aqui há 3 meses.
- Reclamação da escola todo dia, assim vai ser expulso. Ele não tem jeito, nem é branco, eu queria um bebê, assim nem precisava saber que era adotado. Depois de hoje não fico mais com ele.
Daniel olhava para a janela do carro do juizado, pensando nestas palavras, nem as entendia direito, mas elas machucavam seu coração e faziam seus olhos encherem de lágrimas.

Todos os pais, adotivos ou biológicos, assumem riscos, criam expectativas e sonhos em relação aos filhos. Surpresas, dificuldades e decepções sempre poderão ocorrer, de ambas as partes. Diante das dificuldades encontradas, alguns pais pensam em devolver a criança.

- Ângela, se devolvermos o Daniel dificilmente nos deixarão trazer outro, dirão que não estamos preparados, e com razão.
- Olha meu estado. Tenho de aguentar as pessoas me olhando. O Daniel é diferente, Roberto, diferente de nós. Todos percebem isso. E sua índole não é boa. Quanto mais falamos, mais ele comete erros, mais ele faz questão de me humilhar perante os outros.
- Ele nem sabe o que é humilhar, só tem 4 anos, não abstrai as coisas.
- Não me venha com esse papo intelectual, não é você que passa o dia com ele, não é você que tem de aguentá-lo todas as horas.
- Ângela, você também trabalha, ele fica com a babá.
- Eu não aguento mais ele. Quero uma criança menor, e branca, que eu possa moldar que eu possa chamar de filho. É isso que explicaremos no juizado, tentamos, mas não deu certo!

Filho, pessoa que pula no nosso colo, que nos olha com carinho, que abre aqueles olhos esbugalhados e ri com aquele jeitinho maroto pedindo por amor e atenção. É só deixar de lado os preconceitos e olhar pra ele como alguém a ser conquistado.
A criança, por menor que seja, quando passada para a guarda de uma família tardiamente, já teve sua vivência de abandono e sofrimento. A adoção é, em primeiro lugar, um ato de amor, um ato de altruísmo, não de egoísmo, uma forma de partilhar este amor e este altruísmo é constituindo uma família. Adotar uma criança é amar quem já sofreu e está aqui...

Daniel sozinho no banco de traz no carro do juizado não entendia direito o que tinha acontecido com ele: primeiro foi retirado da mãe muito pequeno, para morar no abrigo, depois foi morar com uma família, que achou que era para sempre e agora esta voltando para o abrigo. Será que seu destino é ficar só? Por que ninguém o quer? Ele era feliz, ficou infeliz, depois ficou feliz de novo e agora novamente infeliz.
O que Ângela não sabe é que o abrigo não é um pet shop, e Daniel muito menos é um cãozinho numa vitrine. Ele é uma pessoa, na verdade uma pessoinha em carne e osso, que foi abandonado e emocionalmente abusado, por isso sua ambientação é muito difícil, pois nunca teve uma família só para si.

O carro finalmente chega ao abrigo, Daniel sai, a Diretora vai recebê-lo com um beijo e palavras carinhosas. Está muito triste e começa a chorar, mas logo reconhece os amigos e sai para brincar...
O que Daniel não sabe é que Roberto e Ângela são os seres mais burros do universo e não puderam ver a pessoinha extraordinária que estava na frente deles e o quanto é grande seu coração e o quanto é fácil de amá-lo, fácil de fazê-lo feliz, fácil de fazê-lo filho. Mas um dia ele vai pertencer a alguém. Alguém que o ame sem egoísmos, que o ame sem preconceitos. Alguém que o leve para casa e o faça se sentir bem.
Que o faça se sentir pertencer a alguém.
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Visitem Dan
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A Rosa Amarela - por DAS


Num certo momento da vida, nossas estradas se encontraram e tornaram-se uma só.
Por um tempo, plantamos flores ao longo do caminho e cuidávamos diariamente desse amor. Assim, a cada amanhecer, o sol banhava com sua luz esse jardim, cheio das mais variadas rosas e borboletas, tornando vivas suas cores e fazendo dele um imenso arco-íris!
Tudo era lindo e conseguia até ver um futuro. Bastava fechar os olhos e ele estava ali: um lugar mágico, cheio de vida, de sonhos... Era perfeito!
Eu pensei que fosse...
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.Como em todo jardim, as ervas daninhas espreitavam e os espinhos existiam.
Num certo momento da nossa estrada, o colorido deu lugar a um verde musgo, feio... Os espinhos, antes, quase inexistentes, tornaram-se fortes, aumentaram e passaram a ferir cada vez mais fundo.
Em desespero, tentei arrancar tudo com as próprias mãos, numa tentativa louca de fazer voltar o colorido, a paz... o amor...
Eu tentei de tudo!
Tirei forças de onde nem sabia que existia, mas, infelizmente, não foram suficientes!
De repente, eu estava só, sofrendo, com aquela dor invisível, mas tão insuportável... Minhas mãos sangravam, mas não tanto quanto meu coração!
Desabei no chão, sem forças. Senti frio, senti o vazio tomar conta de todo o meu ser... Não havia mais nada!
Eu estava perdida dentro da minha solidão, do meu desespero... Queria gritar por ajuda, por respostas, mas não conseguia! Só as lágrimas estavam ali comigo. Muitas delas!
E inundaram tudo ao meu redor...
Completamente entregue a esse universo de sofrimento... acabei adormecendo.
Não sei quanto tempo fiquei ali, morta pro mundo e querendo realmente estar morta, pois pra mim não havia mais nada à minha frente, só a escuridão da noite e aquele frio que doía tanto...

Quando despertei do meu torpor, abri os olhos devagar e respirei fundo. Tudo estava do mesmo jeito. As lágrimas haviam secado, mas uma nova enxurrada estava por vir, eu sentia.
Foi então que o vi...
Era pequeno e fraco, mas a cor prendeu minha atenção... Um botão de rosa de um amarelo muito vibrante bem ali, do meu lado... Tinha nascido no mesmo lugar onde minhas lágrimas haviam caído.
Um raio de sol o iluminou e aos poucos ele foi se abrindo, transformando-se. Fiquei paralisada. Prendi a respiração, com medo que um leve sopro pudesse matá-lo.

Uma rosa diferente de todas que eu já tinha visto formou-se... Era linda!
Senti uma lágrima rolar pelo meu rosto, mas o motivo era diferente agora.
Não era mais por tristeza...
Respirei profundamente.
Agora era por esperança!
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Visitem DAS
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Abandono - por Edlúcia Ster

Brasil, 1914. Missionários salesianos chegam à Amazônia. Arrogam-se o direito de achar obscenos os corpos nus dos índios. Colocam roupas neles, sequestram as almas deles, apropriam-se da mente deles. Lançam sobre eles olhares que poluem, que transformam beleza em lascívia, pureza em pecado. Desde a chegada daqueles de além-mar, estamos à deriva, abandonados à nossa própria sorte. Foi catequese de um lado, escravidão de outro...
Abandonar a carne, tradução do termo latino que deu origem à palavra “carnaval”. Depois o significado seria invertido: abandonar-se à carne. Ou comer vorazmente a carne? Mergulhar na carne? Afundar-se na carne? Estar faminto como o carnaval que a todos devora? Devoramos carne, dia após dia: a carne exposta na violência, na sexualidade desenfreada (esvaziada, reduzida, simplificada, empobrecida, dessignificada)...
Abandonamos nós mesmos, abandonamos o outro. Colha o abandono: adote uma flor, um arco-íris, uma criança...



Visitem Edlúcia Ster
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Abandono - por Frederico Salvo

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Dentro de mim houve um dia,
Repleto de áurea alegria,
Um outro eu que hoje mora
Distante, pois foi embora
Perdido em melancolia.
Ficou tão somente a saudade
Que desde a mais tenra idade,
Covarde lhe perseguia.

E como foi isso, ora pois?

Foi sem dizer aonde ia
Numa noite em que chovia
À cântaros; que maçada:
Sozinho na madrugada
Partiu frente à ventania
Deixando no abandono
O peito que era dono
Daquele um que partia.

E o que levou consigo?

Levou a fotografia
D’um riso que pertencia
A um passado distante,
Uma graça emigrante
Que lhe fugira da vida
Fazendo entristecida
Sua doce fantasia.

Não havia outra saída?

Não. De fato não havia.
Era triste em demasia.
Como ave que não voa,
Harmonia que destoa,
Quimera que não pode ser.
No tal amor queria crer.
Infelizmente já não cria.



Visitem Frederico Salvo
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Abandono do Lar - por J.F. de Souza

fica a casa
abandonada

fiz de ti
minha morada

mas você foi
embora

agora,
estou


eu
e mais
nada




Visitem J.F. de Souza no seu blog pessoal e no Blog de 7 Cabeças
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Cadeira Vazia - por Ju Blasina

Teria te amado tanto
E por tantas vezes te faria sorrir
Teria te dado orgulho
E alguma preocupação, é verdade
Brigaríamos por vezes
Noutras te odiaria
Mas no final, tudo seria perdoado
E entre lágrimas e abraços
Voltaríamos a nos amar “como sempre”...
E nos momentos mais importantes da minha vida
Não restaria esta cadeira vazia.
Tua ausência sempre se fez presente
Posso ouvir, no silêncio, as palavras nunca ditas
Quando tudo o que me resta são memórias
Um tanto escassas, um tanto falsas
De alguém que mais imagino
do que conheço
E queira ou não queira
Por mais que eu negue
a saudade do que não foi
Onde quer que eu me esconda
Estarás sempre presente
Pois parte de ti, por menor que seja
Mora eterna em meu ser
E mesmo que nunca venhas
Sempre haverá uma cadeira vazia
Escondida, em algum lugar da minha vida
Ainda esperando por ti...




Visitem Ju Blasina
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Em Cenas - por Kamala Aymara

Eu abandonei a arte,
mas a arte não me abandona.
Em mim respira, vive,
arde, pulsa, SOMA!

Se a vida é um palco,
estou no camarim.
Encontrando personagens,
que ainda escondo em mim!

Ensaio.
Lá fora o espetáculo não para.
Paro.
Parem o mundo, eu quero subir!

Maquiagem, não uso,
dou cores à imaginação.
Figurino eu escolho.
Mudo em cada ocasião.

Da coxia ouço murmúrios.
...
Conseguirei me despir em cena?
Enceno?

Antes que subam as cortinas,
desesperadamente rasgo máscaras,
há muito entranhadas na pele.
Ex-pele!

Luzes!
Música!
Ação!

Eis o palco!
Ou picadeiro?
Qual é o número agora?
Não dá pra viver só de cenário...

Entro.
Olho.
Onde está a plateia?
Espero aplausos?

Eis que me deparo
com a minha imagem no espelho...
Frente a frente com a mediocridade.
Aos prantos, gargalho!

Meu maior crítico
mora dentro de mim.
Seria trágico,
se não fosse cômico!

MERDA!




Visitem Kamala Aymara
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Abandono Mesmo! - por Lélia

Eu te abandono mesmo. Já cansei de relevar, compreender, conversar. Não gosto de viver me enganando, acreditar em algo que não existe mais. Passou, acabou... e você já me provou isto de diversas formas. Chega! E não me olhe como se não soubesse que o fim seria desta maneira, como se eu o surpreendesse. Eu me vou com tudo o que é meu e deixo aqui o que te pertence. E deixo aqui você e todo o tempo em que vivemos aquilo que chamei de amor. Não levo nada além do que tem significado em minha vida. Estou te abandonando e nos abandonando, definitivamente.
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Abandonado - por Luiza

Arrasado, arrasto amores
Banido, bastam brigas
Andarilho apaixonado, ausento-me
Náusea, nada norteia
Doente, descubro dissabores
Olhos orvalhados, observo
Noite negra, nublada!
Obsoleto ocaso outonal.
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Abandonado - por madruga

Ai... ai... que dor é esta?... que mutila a minha alma,
envenena meus sentimentos e tira o fôlego do meu ser!
Ai como doí! não ter o que outrora tivera, segredos
de sonhos, prazeres, pecados e outros doces.
Quão mais eu não faria para reviver tudo um dia...
Renasceria imune à dor, pois beberia em ti o antídoto
do abandono....
Ai... ai... que bom seria!




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Abandono - por Mellon

É incrível como consegue ainda ter efeito sobre você. Antes de dormir você se vê procurando todos os motivos pelos quais isso não deveria acontecer. Não é uma coisa tão dramática quanto dizer que você gostaria de ser o protagonista de Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças.

Porque quando você esteve ali antes e nem pôde me olhar nos olhos. Porque você sabe que a Sra. Indiferença resolveu dar espaço para a Srta. Abandono.

E quanto tempo você vai esperar, apenas para dizer adeus? Quanto tempo até você aprender a deixar ir? O que você quer se tornar? É isso que essa pequena dama quer de respostas, porque só assim ela, a Srta. Abandono, poderá te abandonar.



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Fernando Pessoa, “A Minha Vida é Um Barco Abandonado” - Citado por Penélope Charmosa

A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
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Meu Abandono - por Poty

Abandonaste a mim,
Eu te abandonei.

Fui esquecendo
Meus sonhos,
Foi o meu fim...
Deste abandono
Não há como retornar.

Se foram minhas fantasias,
Eu as abandonei
Por causa de ti.

Não serei mais o mesmo
Por ter sido abandonado por você!




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Eu Ponto; Você Vírgula - por Principe Encantado

Hoje há vírgulas que tentam encerrar o texto vida de meus sonhos.
Éramos eu e você gritando os desejos de felicidade. São vírgulas que não conseguem terminar a saga de um amar que insiste agonizante em perdoar os erros que quebraram a pureza deste conto sem final feliz.
Vejo no horizonte o despontar de um sol redondo e ardente de dores, feito um ponto final no destino de um sonho de dois. Aproxima-se dizendo na poesia do alvorecer que agora não mais será um destino criado por dois amantes, mas o destino de cada um que se desata buscando seus rumos.
Hoje, há caminhos diferentes, o teu, o meu, e foram trilhados e dilacerados de esperanças mortas, vão fazer anos de buscas, iriam crescer sonhos.
Quando a solidão e o inverno chegarem, nossas camas vazias esperarão verões.
Sobrarão ilusões esperadas e não vividas.


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Cururupu - por S. Ribeiro

Do nada donde surge
esta impressão sincera,
defino certos caminhos que
não poderei seguir,
visto que desacatei as
autoridades desacatantes
e estou sem prefeito,
sem governador,
sem conselheiro,
sem a Força Nacional,
sem os espelhos;

e sou o próprio nada
donde a impressão
que agora é nada
surge,
e me faço qualquer
aos olhos de qualquer
um:
que me assaltem,
me comam,
me esmaguem.
Eu no Maranhão,
coisa aqui,
eu para ninguém,
eu para o Estado,
para o cão,
para Deus,
eu para o chão.




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Dormir Aqui e Amanhecer em Outro Lugar - por Saulo Rosa

Tudo aconteceu de repente, sem que eu tivesse tempo de me acostumar. Ontem eu vivia feliz com a minha família. Hoje acordei e a realidade era outra. Tudo se perdeu. Nem harmonia familiar, nem carreira, trabalho, sonhos, nem tampouco a saúde. Sou outro homem. Acordei com a sensação de estar em outro lugar. Um lugar lúgubre, sem amor, sem esperança. Tudo em que eu acreditava desmoronou. E, tão subitamente, que me encontro ainda tentando afastar os escombros e respirar um pouco o ar que é ainda possível sorver. Uma nuvem de fumaça encobre a paisagem e não me permite enxergar um palmo a distância, apesar de ter sido suficientemente forte para me desenterrar e ver um fio de luz. Sei que ainda há muito a fazer, dificuldades a enfrentar, emoções a deixar de lado até que possa me reerguer outra vez e buscar um caminho. Mas, nesse momento, fraquejo de novo e deixo a cabeça pender vertendo as lágrimas que me permitem lavar o rosto sujo e trazer um pouco de frescor à face e alívio ao coração, agora de pedra. Vou sobreviver, eu sei. Vou caminhar, embora trôpego e sair deste lugar inóspito onde acordei para a vida depois da noite inesquecível em que você me abandonou.
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Abandono - por Soraya Rocha

Dormir na calçada
Vender balas no sinal
Correr da polícia
Apanhar como um animal
Vestir trapos dados
Comer lixo
Fumar crack, cheirar cola
Brigar feito bicho
Viver sem família
Como um cão sem dono
Não verter mais uma lágrima
Este é o retrato do abandono
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A Carta do Pai - por Thiago Benício

Até parece que nada te dei. Tudo o que tem, sempre sonhei. Foi pra você que fiz, e hoje sei que pareceu não ser suficiente, Não tive a sorte como pai de ter um filho consciente. Agora estou deixado pra trás. Nem sei de minha morte. Procuro mesmo não saber. Espero que tenha sorte e que progrida sem desprezo. E aqui estou neste lugar, um lugar de abandono seu, não tem ninguém pra conversar e discutir um futebol. Se um dia vier me visitar, traga aquela camisa do meu time, juntamente com o jornal de esportes para discutirmos...



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Que o Vento Passe! - por Thiago de Sá

Que loucura! Eu sei que ela não me quer. Dói-me saber que com outro ela está. Que aflição presa no peito, esse grito que me rasga querendo sair. Nos olhos a cega escuridão que me cega a revelar os dois juntos. A névoa dos meus pensamentos torna ébrio o meu raciocínio. A espada da verdade matou a esperança de que ela poderia ter algo comigo, com outro sim, mas comigo não. Fica a forte desilusão, onde me cabe agora não suportar a dor que pesa dentro das minhas veias e coração... E sim fazê-la cessar. Mas, como, se o meu pensamento cai em desalento só de recordar a quimera de não haver me declarado antes? Me deparei com a pura verdade: meu coração fracassou e o dela está apaixonado.



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Abandono - por Vicenzo Raphaello (Erótico)

Como de costume, ele chegou pela manhã.
Sentou-se na mesa e esperou, olhou para aquele lugar feito para ela, simples, despojado, poucos móveis, móveis que ela havia escolhido, tudo feito ao seu gosto, a cama meio japonesa, o biombo meio translúcido, o grande espelho ao lado da cama, testemunha muda daqueles encontros, nas paredes apenas uma foto, uma pequena foto dela.
Levantou-se, foi até a geladeira da garrafa de vodka, serviu-se, pegou uma folha de papel e tentou escrever, mas nada lhe vinha à mente.
A porta abre, ela entra como sempre com aquele sorriso, desta vez porém, diferente.
Aconteceu algo? - perguntou tentando decifrar aquele sinal.
Ela responde com um beijo doído, morde-lhe os lábios, arranhando suas costas sobre a camisa ainda não tirada.
Era o início de mais uma luta, beijos molhados, sugando o ar que não alcançam os pulmões, arfam os peitos, as mãos procuram o calor dos sexos, já sem roupas enroscam-se, as línguas sugam o sabor salgado dos corpos suados, sexos umedecidos, sentados brincam, abre seu sexo, com delicadeza vai mordiscando, vai lambendo, língua atrevida que se atreve a tudo, neste corpo que tudo permite.
Com o calor do seu corpo na sua boca, ela suga sua alma, suga seu ser.
O telefone toca, num pulo ela atende, junto à parede ajoelha-se.
Sim...
Depois...
Agora não...
Mais tarde...
Já vou....
Não, já estou indo....
Lágrimas escorrem de seus olhos.
Com a cabeça encostada na parede balbucia palavras, ele percebe o significado do momento.
Levanta-se, encostado nas suas costas, apoiado na parede, sua mão se agita, explode num silencioso gozo sobre o corpo da amada, na última e simbólica marca de posse, antes do abandono.
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Oração dos Corações Abandonados - por ZzipperR e vestivermelho

Há tanto tempo estou sentado aqui sozinho, jogando pedras na água e pensando, mas de que valem todos esses pensamentos sem você? Eu preferia não pensar em nada e ter você ao meu lado amenizando esse sentimento de estar abandonado. Não consigo sair daqui se você não me ajudar!

Nesse mundo louco de corações abandonados, nos esquecemos de viver e nos trancamos em uma caixa de ilusões, alucinados em pensamentos inversos, que embaraçam o sentido do nosso raciocínio e a pessoa vibra em nosso pensamento, manuseando cada ideia, misturando o passado e as intenções futuras, trazendo a cegueira da loucura e martelando a cabeça com vontades e desejos criados por uma força sensorial descontrolada num ideal inexistente de amor solitário.

Um dia o amor apareceu em minha vida vestida de branco como um fantasma tocando suave e gentil. Um vírus carinhoso em minha mente, que imaginava estar dançando no paraíso, quando na realidade estava vagando no inferno, queimando no fogo do desprezo, abandonado pela garota de vestido branco, que me assombra com sua música, dançando no meu mundo e me deixando na marginalidade da paixão.

Não sei quais são as regras do amor... A garota de vestido branco vive em dois mundos, dividida entre Orkut e blog, com isso divide o seu amor em dois, enquanto eu vago no mundo criado pelo amor da poesia rosa. Uma poesia de amor perfumada, colorida e romântica que atordoa a cabeça e descompassa o coração deixando a alma louca.

As horas passam rapidamente e levam os dias embora. Com eles passam as semanas, os meses e os anos. Passando, passando e me levando junto no tempo, que passa por mim sem eu sentir, apenas sinto a sua falta, mesmo estando com os cachorros, que estão sempre à minha volta. Eu não consigo ficar sem eles, mas eles me lembram você e essas lembranças me fazem sofrer demais por estar abandonado pelo seu amor.

O pensamento solitário me leva a uma meditação profunda olhando as ondas misteriosas do mar e eu chego à conclusão de que o mar é apaixonado pela areia, tocando-a incansavelmente com suas ondas e acariciando o seu corpo, que suga carinhosamente suas águas. O mar tenta chamar a atenção da areia para ele com toques diferentes, tocando-a com ondas diferentes, às vezes mais agressivo com ondas fortes, outras vezes mais carinhoso com ondas suaves, num toque de amor eterno, que prova o amor entre eles. Olhando esse toque carinhoso, eu sinto a sua falta e nesse momento perco o controle do amor que transborda, não cabendo no peito e sufocando a alma que grita por você, te procurando na saudade que dói e encontra apenas um coração abandonado no caminho, deixado para trás pelo seu amor. Mas onde andará você? Quem estará recebendo o seu carinho, os seus beijos e o seu calor no meu lugar?
Vejo os cachorros correndo e falo baixinho para você sentir, falo com a alma para você:
- Olha, Linda, como eles cresceram nesse tempo em que ficamos distantes e abandonados.
Percebo que estou chorando e olho para o Fred e a Petra correndo na praia e flutuo como um pássaro que voa sem conseguir pousar. Um rio que perdeu o seu fluxo e parou de correr ou uma gota de chuva que não consegue cair por não se encontrar no mundo e se perdendo no espaço, caindo, caindo, apenas caindo abandonada e solitária.

O barulho das ondas me trazem de volta:

Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Hei linda! O que você fez?
Vou correr com os dois filhotes de aviãozinho e com lágrimas nos olhos, mas não vou embora dessa casa. Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Agora vou ensinar eles a nadarem na praia, mas não sei se eles gostarão da água salgada. Corram, seus cachorros bobos, que eu vou atrás.

Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

As ondas estão muito fortes!

Vem Fred! Vem Petra! Corram com o papai. Vamos que chegou a hora de ir embora. Eu não vou deixar vocês aqui! Vamos que aqui acabou o sonho, aqui agora é o mundo real. O papai não gosta do mundo do Orkut. Vamos para o mundo do papai, o mundo dos blogs, o mundo do sonho, da fantasia, da mágica e correr naquele pântano maravilhoso. Não mexam nas coisas da mamãe, nem olhe para o mundo do orkut dela, Vem Petra!..Vem Fred! Entrem no carro que agora vocês vão fazer parte da história. Esperem! Deixem-me fechar a porta do Orkut.

O tempo passa e o som daquela música não sai da minha cabeça, me trazendo de volta ao mesmo lugar, onde encontro o nosso mundo abandonado e nele está você, jogando pedras na água e esperando por nós, louca por carinho.

Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Vem linda! Vamos dar comida para os cachorros. Eles ficam andando no meio dos nossos pés e mordendo a perna dela famintos de saudades. Eu deito e eles sobem em cima de mim mordendo a minha orelha. A Petra está faminta e quer comer a minha orelha. Ela morde doído com esses dentes fininhos! Eu vou morder a orelha dela para ela sentir como dói.

Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Correndo para as ondas e matando a saudade desse mundo abandonado.

Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Chuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Zzip...Zip...Zip...ZzipperR e vestivermelho.
VruummmmmmmmmmZummmmmmmmmm


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Abandono - por Alba Vieira

Como o patinho feio que sendo cisne entre os patos, sem saber quem realmente era, sentia-se diferente e era quase sempre rechaçado pelos falsos iguais, eu vivi antes de encontrar você.
Mas, quando nos olhamos pela primeira vez e o impacto do encontro de almas iguais se fez sentir e foi com o tempo se manifestando e trazendo para nós duas a tranquilidade de saber que era possível sermos e nos expressarmos exatamente como éramos, tudo mudou e abriram-se portas para nós. Seguimos depois por caminhos diferentes. Entretanto, sabermos que cisnes existiam acalmou nosso coração que, apesar de participar de outras histórias, sempre bateu com a esperança do reencontro e, finalmente, a paz. E assim se deu num dia inesquecível em que foi possível explodir o amor verdadeiro e, desde então, entrelaçamos nossas almas e deslizamos suavemente no lago azul chumbo da vida, sendo o que somos, felizes, irradiando a luz de oitavas superiores. E o que parecia abandono, a sensação de estar perdido como um extraterrestre, mostrou-se reconhecimento e êxtase.



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Anti-abandono - por Ana

O amor chegou ao fim...
(Ai de mim!)
Minha vida está pelo meio...
(Que receio!)
E se eu ficar pra titia?
(Quem diria...)
Se nunca mais me casar?
(Que azar!)
Viajar com as amigas?
(Ai, que vida...)
Só cuidar dos filhos dos outros?
(Que desgosto...)
Morar sozinha com meu cão?
(Decepção...)
Nem um beijo, um abraço?
(Que fracasso!)
Só comida congelada?
(Que furada!)
Entrar na crise da meia-idade?
(Que maldade!)
Ir ao cinema só?
(Ai, tem dó!)
Invejar beijo de novela?
(Só velha...)
Só uma chave da porta?
Nem morta!

Vou é continuar por aqui!
(Ai de mim!)
Com o coração partido ao meio.
(Que receio!)
Prefiro ter companhia
(Quem diria...)
Que nunca mais vai me amar.
(Que azar!)
Passei de amada a amiga...
(Ai, que vida...)
Viverei como um rei deposto.
(Que desgosto...)
Enterrarei o coração.
(Decepção...)
Eu vou virar um bagaço.
(Que fracasso!)
Dona-de-casa e mais nada.
(Que furada!)
Até a terceira idade.
(Que maldade!)
Até que retorne ao pó.
(Ai, tem dó!)
Vou invejar beijo de novela...
(Já tô velha...)
Mas não há só uma chave da porta.
E estou morta.
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Abandonou-me - por Poty

Abandonou-me quando nasci...
Fui deixado em alguma porta de estranho...
Fui jogado na lata lixo...
Virei menino de rua,
Moribundo,
Maltrapilho,
Morei na FEBEM...
Assaltado,
Assaltante me tornei.

Fui aprendiz nos bancos da praça
Comi do lixo
Lavei carro no sinal
Me prostituí,
Violentado fui.

Fui rejeitado por tua intolerância de ser mãe...
Faltou afeto
Desde que era feto,
Sou desafeto
Sem teto.

Por causa do teu
Abandono
Nem vida tenho.

Em sua fúria repentina me abandonaste.



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Abandono - por Alba Vieira

Quantas de nós se abandonam
E já nem sabem ao menos quem são.
Deixaram pelo caminho perdidos
Crenças, sonhos, amores, vocação.
E foram sendo levadas
Pelo que era esperado delas.
Seguiam com a manada
Cegas, sem vontade, acuadas.

Hoje são encarquilhadas na mente.
E no coração em pedaços, sangram.
Viraram frangalhos, robôs dementes.
Enterraram fundo a natureza selvagem, o âmago.

É preciso tentar voltar a ser.
Descobrir quem somos na realidade.
Não há mesmo o que temer
Em se mostrar na sua verdade.
E isso é revitalizante para o corpo:
Voltar a ser animado pela alma liberta.
E, sem amarras, quebrando as defesas, inverter o jogo.
Brincar, fluir, soltar a voz, deixar as janelas abertas.

A mulher selvagem não segue regras simplesmente.
Espontânea e solta, olha para o abjeto com coragem.
Vive o amor, o sexo, solta o espírito, é coerente.
Expressa sua verdadeira natureza, não importa a imagem.



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