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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sorte - por Ana Maria Guimarães Ferreira

Que sorte a minha, dormi e acordei mais velha, mais madura, mais autêntica.
Que sorte a minha, a chuva caindo nos meus óculos e embaçando minha visão não me permitiu ver as coisas à frente e esbarrei, caindo ao chão, e me vi com as mãos em cima de uma moeda de um tostão…
Que sorte a minha!
Que sorte a minha, acordar e constatar que estou viva, forte, saudável e feliz. Que posso programar aquela viagem a Buenos Aires, ver o tango, dançar o tango…
Que sorte a minha, ser dona da minha vida, dos meus atos insanos ou não, da minha alegria, dos meus pés que me levarão onde eu quiser.
Que sorte a minha, ter braços para abraçar, mãos para acariciar, rostos para beijar e filhos com quem sonhar.
Que sorte a minha, ter amigos verdadeiros, leais, humanos e justos que envelhecerão junto comigo e que me farão rir sempre.
Que sorte a minha estar viva!
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Mudança - por Ana Maria Guimarães Ferreira

Mudei-me com vocês. Vi cada cômodo, a decoração, os arranjos, os quadros do Jorge, a insensatez da cozinha com as iguarias que levarão qualquer vigilante do peso à loucura.
Mas vi o amor que quase não cabe em tanto espaço, em cada quadro, em cada poesia.
Vi a saudade da casa antiga repleta de sonhos e de lembranças.
Vi a alegria dos parentes chegando e saindo, levando consigo abraços e saudades.
Vi o sol mansinho chegando de manhã, tímido, a acordar vocês.
E, finalmente, me vi chegando na porta e sendo rodeada por dois grandes amigos num lar onde tudo cheira a lembranças, coisas boas e muito amor.


Resposta à “Mudança” de Adir Vieira.
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Mudança - por Adir Vieira

Estou de mudança. Enfim compramos o apartamento tão sonhado. Quisemos que fosse localizado numa rua tranqüila e arborizada, bem longe do burburinho do comércio.
Era imprescindível que toda a frente recebesse sol da manhã, para que no verão próximo e em todos os outros que lá passaremos, as tardes se encarregassem de esfriar as paredes, garantindo que o clima, à noite, fosse quase o ideal.
Embora o prédio tenha playground e duas grandes piscinas, o escolhemos, entre outros, porque essas áreas ficam bem destacadas do corpo predial e assim não seremos perturbados.
Como se situa em centro de terreno, todo o seu entorno é repleto de pequenos arbustos e folhagens coloridas e, logo na entrada, uma grande roseira de flores vermelhas que dão ao local uma vista deliciosa.
A portaria, embora luxuosa, possui apenas um grande sofá, propositalmente colocado na frente de uma parede espelhada e não permite, por seu arranjo, que moradores ou visitantes ali permaneçam por muito tempo, o que propicia a ausência total de desordem das crianças mais peraltas.
Quisemos também que fosse no sétimo andar, pois, assim, teríamos uma paisagem mais abrangente e ficaríamos alheios aos possíveis ruídos vindos da rua.
O que mais me fez apaixonada por ele foram os corredores amplos, em mármore branco, longos, para nos dar a impressão de caminharmos em purificação até chegar à entrada.
As duas portas de entrada – sala e área de serviço – em madeira branca com detalhes dourados, deram ao local um ar de suntuosidade aparente, convidando a quem chegasse a observar o bom gosto.
Escolhi para essa entrada os melhores limpa-pés. Nada de pequeninos: altos, sem frisos ou bordas, de cor marrom claro, perfeitos…
Ao abrir-se a porta vê-se um corredor comprido, espelhado, que, por seu tamanho, pode alojar um aparador igualmente branco, onde planejei colocar um vaso de cano alto e a caixa para correspondências trazida de Portugal.
A passadeira também foi comprada com critério. Nada de motivos florais ou linhas sem expressão. De cor caramelo forte forma, no centro, um desenho irregular que a fez diferente de qualquer outra.O corredor dá acesso aos três amplos quartos: o de casal com suíte de rainha, que decoramos de branco, com cortinas em tom pastel, o de hóspedes em tom verde clarinho e o destinado apenas ao repouso, decorado em amarelo suave. Este recebeu três grandes poltronas acolchoadas e de tecido com florzinhas miúdas, do tempo da vovó, uma mesa de centro para livros e revistas e vários almofadões espalhados pelo chão. Coloquei um vaso de plantas com uma grande folhagem junto à janela e não esqueci do carrinho de chá, em palhinha chinesa, presente de uma grande amiga numa viagem ao exterior.
Todos os quartos exibem, com galhardia, as telas pintadas por meu marido, motivo pelo qual esse apartamento tem um espaço somente para o seu trabalho de pintura. Seu novo atelier. Foi difícil arranjar, nos lugares certos, os inúmeros vidros de tinta a óleo, as pranchetas de vários tamanhos, cavaletes e telas virgens. No final tudo ficou lindo. Persianas quase transparentes cobrem o imenso janelão de frente para a rua, cenário perfeito para o trabalho do meu artista.
O corredor também dá acesso à sala de dois pavimentos, divina com seus sofás em tom ferrugem e uma obra de arte, uma figura de mulher, em mármore branco, de tamanho natural, em um dos cantos. Para a sala designei um dos seus quadros mais bonitos, tipo painel com uma moldura em madeira, inigualável. Foi o primeiro dos quadros que pintou e que fez com que eu o incentivasse para compor um grande acervo, hoje, com muitas e muitas obras de fino gosto.
No final do corredor, a cozinha, toda em amarelo claro, me diz onde estarei a maior parte do meu tempo. Adequadíssima e perfeitamente equipada, tem todos os apetrechos à mostra, à mão, já que o espaço assim o permite. Ali será o meu laboratório diário nas iguarias que pretendo preparar, a começar pelo almoço de inauguração do apartamento e mostra à família que hoje, numerosa, pode ser abrigada de uma só vez.
Não esqueci de colocar numa espécie de pedestal meus livros de receita preferidos. A bela fruteira vinda da Áustria será cuidada para que esteja sempre ornada com as frutas de minha preferência.Dois outros banheiros enormes em branco neve, com as louças em preto, darão, sem dúvida, à nossa higiene diária, um prazer e uma calma permanentes. Localizados um tanto distante das áreas comuns, garantem a privacidade necessária aos banhos de sais que, agora, serão costumeiros.
As áreas de serviço ficaram restritas à guarda de objetos e equipamentos sem utilização, tal qual um almoxarifado doméstico.
Enfim, estamos de mudança. Já contratamos duas auxiliares para a manutenção geral da limpeza, a cada semana.
O último caminhão segue agora com os nossos pertences finais.
Viro-me e, vendo meu cantinho totalmente vazio, a futura saudade não me deixa ir em frente.
Em poucos minutos vivo e revivo tudo o que aqui construí nesses quinze anos e, de repente, quase me arrependo de partir.
Enfim, estou de mudança... mas não totalmente feliz.
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Verdade - por Raquel Aiuendi

Eu sei que meus olhos pensam
E minha boca é bastante cautelosa
E, quando não, é passiva…
Minha revolta é tanta
Que tenho medo da retórica
Que quer se expandir
para além;
além de mim
existe a força inevitável
incontrolável, razão da vida…
que anula paixões e mágoas
que É sobre tudo o que chamamos…
amor;
que domina e prepara
para o final,
o final das dialéticas
quando não mais seremos duas naturezas,
para o encontro
com o Verdadeiro:
AMOR.
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Francisco Otaviano em “Soneto” - Citado por Penélope Charmosa

Morrer, dormir, não mais: termina a vida
E com ela terminam nossas dores,
Um punhado de terra, algumas flores,
E às vezes uma lágrima fingida!

Sim, minha morte não será sentida,
Não deixo amigos e nem tive amores!
Ou se os tive mostraram-se traidores,
Algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é pobre no mundo; que me importa
Que ele amanhã se esb’roe e que desabe,
Se a natureza para mim está morta!

É tempo já que o meu exílio acabe,
Vem, pois, ó morte, ao nada que me transporta
Morrer, dormir, talvez sonhar, quem sabe?
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Sensibilidade - por Raquel Aiuendi

A luz brilha pra quem
Tem visão ou sensibilidade
À flor da pele e da vida
Até para o uso do bem
Temos toda a liberdade
Mas vê o que diz a bula
Pois nesse mundo toda lida
Te promove ou encabula
A poesia nordestina
Tem destaque nacional
E a cultura brasileira
Tem um valor especial
Em nações estrangeiras
Tudo que é quente, ferve
Ninguém segura
O jogo de cintura
E a nossa verve.
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Apenas Juntando Letrinhas - por Alba Vieira

Se por falta de tereré
Hoje não escrevo nadinha
Dou meu jeito, não perco a linha
Escrevo qualquer coisinha
Sigo meu trem de letrinhas
Escrevendo, indo em frente
Alegrando tanta gente
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Confiança - por Passa-Tempo

Me olha com essa cara de apaixonada,
Essa cara de sedução,
É o bastante pra eu te contar meus segredos,
Me colocar em sua mão.

Viro as costas e saio,
Chega outro em meu lugar,
Fala tudo o que eu disse,
inventa o que não falei.

Ele vem atrás de mim,
Mas da morte não tenho medo,
Só não quero morrer cedo.

Você me fez acreditar naquele assunto de amar,
E esses dias fiquei sabendo,
O desgraçado está a me caçar.
Pra mim é fácil te perdoar,
Difícil é voltar a confiar,
Em alguém que já tentou me matar.
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Wanderley Mendes Gomes em “Meia Lua” - Citado por Elyana Cordeiro

Meia Lua é a fase,
meia noite é a hora,
meio tarde é o momento,
meio triste estou agora.
Meio só, você não veio,
meio morto agora estou,
meio desgosto que me abate,
meia fé… você ligou!!!
Meio crente de sua chegada,
meio lento o tempo a passar,
meio sono estou ficando,
meio olho a te esperar.
Meio Sol já tá surgindo,
meio dia já chegou,
meia vida te esperando,
para declamar-te meu amor.
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Conceitos - por Raquel Aiuendi

Quem me vê criando, conversando e brincando pensa que eu trabalho a mente ou com a mente o tempo todo. Não, é a mente que me trabalha, é minha aliada no meu processo evolutivo.
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Lá no Céu - por Kbçapoeta

Lua cheia
é o arco Íris
em linha reta, com suas sete cores,
seus sete espectros.
Girando no céu a noite continuamente.

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Mundo de Alice - por Kbçapoeta

Ande como se estivesse pisando em ovos;
a umidade deixa a terra sensível,
principalmente após a chuva pacificadora.
Olhe para mim!
Estou trajando branco, gravata roxa
e chapéu hippie vietnamita.
Venha colher-me!
Estou aguardando sua boca.
Sujará seus pés na bosta da Zebu.
Fazer o quê?
Eu nasci aqui.
Colha-me, colha-me…

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