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sábado, 16 de fevereiro de 2019

SABEDORIA


Nascer.
Vir do conforto absoluto para o ambiente hostil do mundo.
Hostil, no sentido de contraste.
Ao ar livre, já não depender
do oxigênio em via líquida
que nos chegava pronto.

Chorar.
Chorar para aprender
que a vida não é fácil
e para aprender a respirar,
tirar do ar o mesmo oxigênio
que nos chegava pronto...

Chorar,
porque de repente a fome se manifesta,
um vazio ardente que antes não existia nos invade.
E sugar o leite porque,
se não movimentarmos os lábios
por nossa própria conta,
ele não vem.

Chorar,
quando algo sai de nós e incomoda,
queima a pele e cheira mal,
nas coxas pelo lado interno e nas nádegas...
Chorar até a aparição reconfortante
daquele risonho semblante,
que aparece preocupado em nosso campo de visão
pra nos limpar e acalmar.
O mesmo que nos tinha alimentado...

Chorar,
quando essa visão reconfortante
do nosso porto seguro está distante;
e ansiamos que ela volte pra nos carregar...
E vai nos carregar cada vez menos...
Falar, andar, interagir...
Entender esse mundo hostil fora do lar,
cada vez mais
e mais urgentemente.

Acordar,
um dia e de repente,
já sabendo tantas coisas,
conhecendo tanta gente.

Estudar,
querendo saber mais
do passado e do pra frete...
Observar o mundo ir diminuindo,
progressivamente,
enquanto ficamos maiores,
mais espertos,
presumivelmente...

Amar,
já não mais só o amor geral,
ou familiar,
mas descobrir um outro ser
com quem você quer ficar
alguns momentos ou pra sempre...

Voar, 
achando que já sabemos tudo,
desprezando o passado
como se houvesse só o presente.
Achar que a maturidade pode ser entusiasmante
e, sem perceber,
ir ficando displicente...
Desperdiçar tanta energia importante
em coisas sensacionalmente superficiais;
ou tão irrelevantes
que chegam a ser sensacionais...

Viver
tantas realidades mescladas de ilusão.
Olhar pra trás confiante,
cheio de sabedoria e sensação.
Mas,
um belo dia vai chegar,
encararemos nossas próprias mãos.
Será o dia de pesar prós e contras,
ruins e bons,
respirar imaginando se valeu a pena,
avaliando ações, sentimentos,
luz e sons.

Aspirar
uma tranquilidade de paisagem a contemplar,
sem responsabilidade.
Na verdade
é outra ilusão...
A necessidade de saber e de agir nunca cessa;
vai durar
até o dia desse nosso ciclo se fechar.


[Adhemar - São Paulo, 16/02/2019]