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domingo, 17 de maio de 2009

O Dia em que Otacílio Pediu Demissão de Si Mesmo - por Bruno D’Almeida

Ele passa estalando os dedos solenemente pela sala dos professores e fixa um texto no mural de aulas:

Esta não é uma carta de despedida. Nem mesmo quem parte definitivamente e vai pro céu brincar de nuvem deixa de morar no coração da família. Por isso mesmo que deixo de coexistir ao lado de pessoas que me são tão caras, porém que nunca estarão ausentes, no mínimo porque sei que levarei comigo um pedaço de cada uma delas. Este é o verdadeiro significado da palavra presença: não necessariamente tudo que está ao nosso lado, mas tudo que habita em nós.

Eu, como tantas formigas neste açucareiro, tenho meus sonhos. Sou um escritor em tempo integral, e todas as atividades que faço derivam da exaustiva e prazerosa construção de palavras e de imagens. Saio para dar asas a este sonho: não quero mais apenas ler e corrigir os textos dos outros, nem ensinar aos outros uma língua que não está mais nos manuais de gramática. Meu maior desejo, inclusive, é o de sempre subvertê-la. Meus próprios textos me pediram, por favor, humildemente, e com todas as recomendações, de que não fossem mais silenciados. Gritem, meus filhos polissêmicos, que este mundo não é surdo. Alguém vai ouvir e me dar uma oportunidade.

Por isso a partir de agora quem quiser ver meus trabalhos e compartilhar esta delicadeza sutil de dizer o indizível, pode ler minhas crônicas, contos, poemas, ensaios, roteiros, filmes, comerciais de margarina, bulas de remédio, tudo que poder virar matéria, luz, câmera, ilusão, pensamento e sentimento. Estou me colocando para o mundo enquanto escritor e suas milhares de faces escondidas e escancaradas: cronista, redator publicitário, jornalista, roteirista, diretor e milhares de etecéteras.

Podem me encontrar discorrendo sobre os milhares de benefícios em acordar tarde, vejam meus filmes sobre a redescoberta da lua em um novo empreendimento imobiliário, entreguem meus poemas a um amor verdadeiro com um chocolate meio amargo. Leiam, sintam, emocionem-se, gritem, participem da minha vida com o que posso me dar de melhor, esta grande incapacidade de deixar de dizer o que sinto e penso sobre todas as coisas.

Não estou me despedindo de vocês. Estou saindo daqui ciente do que me espera lá fora, nesta nova jornada incerta de um mundo de finais felizes e de balas perdidas. Eu precisava cometer este erro grave, mas tão grave, em ser professor durante tantos anos, atividade que sempre fiz com tanta dedicação, para mudar de ideia com relação ao meu futuro e não errar no principal: não serei eu mesmo o maior erro da minha vida. Vou a procura de acertos e o principal deles é que não quero mais ser um sujeito passivo diante das palavras.

E foi exatamente com esse texto que aquele querido gordinho, com seus quase trinta anos de escola, publicou sua primeira crônica no jornal A Luneta, o mais prestigiado da região de Ribeira do Pombal.
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Nossas Palavras X - por Alba Vieira

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Se por cem dias fores paciente, não se permitindo um só momento de raiva, ainda assim não escaparás da tristeza.



Visitem Alba Vieira
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As Nossas Palavras X - por Clarice A.

Passaram-se pouco mais de cem anos e ela simplesmente viveu. Bons e maus momentos, dias de tristeza ou de alegria. Era paciente, não tinha acessos de raiva, não se desesperava, era de uma mansidão inacreditável. Para alguns, pessoa sem brilho, que não fede nem cheira, mosca morta, insípida, sangue de barata, simplória demais. Para os que a amavam, a melhor pessoa que conheceram. Ela nunca se preocupou com os julgamentos alheios, viveu de acordo com os conselhos que recebeu da avó ainda menina: se fores sábia, aceitares o mundo como é, e seguires as leis de Deus, muito viverás, só da morte não escaparás.
Em seu leito de morte, cercada pelos que ama, a vida a deixando, apagando-se como uma vela que queima até o final, volta à infância e resgata da memória aquele instante, no colo da avó que enquanto a aconselhava acariciava seus cabelos e lhe dava aconchego, o lugar mais seguro do mundo. Vislumbra a imagem da avó e retribui agradecida o sorriso amoroso, o pensamento que ao longo da vida sempre a acompanhou: vovó sabia das coisas.
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As Nossas Palavras IX - por Aaron Caronte Badiz

Atrás de ti há uma sombra a chorar
A lamentar o que te fez sofrer
A correr daquilo que não quer encontrar
A fugir do passado que tenta esquecer
Sombra que, ao mínimo vento, te faz recordar

Atrás de ti há uma sombra rala
A lamentar o que foi ofuscado
A correr daquilo que não se cala
A fugir da mais leve menção do passado
Sombra que, ao mínimo vento, estala

Atrás de ti há uma sombra benigna
A lamentar aquilo que não fizeste
A correr do que te faz indigna
A fugir do passado que quiseste
Sombra que, ao mínimo vento, é maligna

Atrás de ti há uma sombra ardente
A lamentar aquilo que não existiu
A correr do que te põe doente
A fugir do passado que ruiu
Sombra que, ao mínimo vento, se acende

Atrás de ti há uma sombra escura
A lamentar aquilo que morreu
A correr do que te traz feiúra
A fugir do passado que te escureceu
Sombra que, ao mínimo vento, te faz pura
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Destinos Cruzados, Escolha Equivocada - por Alba Vieira

Enfim chegou o tão esperado dia, o dia em que iam todos à praia. Acordaram bem cedo e foi uma farra desde antes de todos entrarem no carro e, na maior bagunça, seguirem rumo ao mar.
A viagem era longa, vários quilômetros até lá. Precisavam sair bem cedo, para pegar o melhor do sol da manhã, porque eram cinco crianças e todas já quase pretas de tanta exposição continuada nas brincadeiras de todos os dias na piscina de plástico colocada no quintal, naquelas férias inesquecíveis. Nem queriam comer ou beber alguma coisa antes de sair. Estavam ávidos pelas brincadeiras. Só acordaram, molharam o rosto, fizeram xixi e trocaram os pijamas pelos calções e maiôs. Vinham correndo, descendo as escadas sonolentos, tropeçando nas toalhas, baldinhos, deixando cair pás, bolas e outros brinquedos.
O pai e a mãe os acompanhavam, mas principalmente o pai, não dispensava o café quente que tomava devagar, enquanto comia, se deliciando, o pão quentinho da padaria do bairro, trazido pela esposa que tinha muito mais energia que ele nas primeiras horas da manhã, tão habituada que estava com o excesso de disposição dos filhos que a consumia de manhã à noite, quando o último conseguia pegar no sono.
Seguiram então os cinco, se estapeando no banco de trás, gritando uns com os outros, reclamando a interferência da mãe para resolver questões entre eles, geradas por ciúmes ou birra mesmo.
Já estavam agora, acordadíssimos e ainda não eram sete horas. O trânsito ainda estava fluindo bem e já chegavam à estrada principal que os levaria ao tão sonhado destino, quando um barulho alto e repentino, seguido de um pequeno solavanco anunciou que um pneu havia estourado. Pararam no acostamento debaixo dos berros dos pequenos que queriam sair, todos ao mesmo tempo, pela mesma porta, apertando a mãe que ficava espremida pelo banco empurrado por eles antes que conseguisse levantar completamente. Olharam para o pneu murcho e souberam que isto atrasaria ainda mais os seus desejos inadiáveis de cair na água e rolar na areia. O pai, apesar do café, ainda sonolento, saiu incrédulo para averiguar o que ocorrera. Era mesmo um rombo no pneu. Ele não havia simplesmente furado e sim rompido, deixando um naco de uns dois centímetros na borracha. Passou a mão pela testa molhada, abriu o porta-malas e qual não foi a surpresa ao verificar que o estepe não estava lá. Desesperado pensou: como? O que teria acontecido? Puxou para o lado todas as bungingangas deixadas ali pela esposa e as crianças, na esperança de que o pneu estivesse escondido, fora de lugar. Qual nada. Tinha sido mesmo retirado de lá. Repassou na memória se teria deixado o carro para limpeza ou conserto em algum lugar, recentemente. Mas não. Estava certo de que não fizera isso. Mas e aí? Qual seria a explicação? Agora já começava a ficar vermelho, enquanto as crianças o puxavam pelo braço, gritando que trocasse logo a roda, que queriam seguir para a praia. Estava atônito. Voltou-se para pedir a ajuda da esposa que meio amarela, estava no extremo oposto e gaguejando, confessou que tinha retirado o estepe na semana anterior, para transportar algumas coisas na mala até a casa da irmã que ficava na mesma rua onde moravam e, por um desses caprichos do destino, tinha esquecido de repor o estepe no carro.
E agora? Não poderiam prosseguir até a praia. Não tinham como sair dali. Como comunicar isto às crianças? Como contê-las na sua ânsia? E como garantir a ordem, se ambos não sabiam dar limites nem a si mesmos?
Entreolharam-se com muita raiva, querendo um pular no pescoço do outro para reclamarem de tantas insatisfações mútuas acumuladas, enquanto em volta, as crianças absorviam aquele clima de tensão e se gadunhavam entre berros. Ele, arrependido por um dia ter desposado alguém assim tão desatento e irresponsável. Ela, maldizendo o dia em que conheceu um sujeito tão descansado, a quem pedia a mesma coisa inúmeras vezes seguidas, antes que se dispusesse a sair do lugar. Afinal, era ele quem deveria há semanas atrás, ter transportado os objetos para a casa da cunhada e não ela. Ele, bêbado de sono, preferiria estar ainda dormindo em casa, naquele sábado abafado, só tendo concordado com aquele passeio, tipo programa de índio, por insistência dela e dos filhos mal educados. Ela, gostaria de ter um marido que participasse mais,que como ela, apreciasse sair sempre, ter contato com a natureza, brincar com as crianças, tão livres quanto ela, ao invés de preferir passar os fins-de-semana dormindo no quarto, saindo somente na hora das refeições ou para assistir àqueles jogos insuportáveis pela televisão.
Queriam os dois sumir dali, um de perto do outro para sempre. Mas, como as crianças ignorassem o impasse em que se encontravam, arrefeceram os ânimos e enquanto ele telefonava para o reboque do seguro, ela fazia cara de emburrada, só quando olhava para ele. E continuava alegre, às risadas, brincando de pique-esconde com os filhos, em pleno acostamento de uma rodovia movimentada, até que finalmente, à tarde, foram socorridos pelo reboque, pondo um fim àquele pesadelo.



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Ferreira Gullar de “Sapatos Novos” - Citado por Penélope Charmosa

A Situação estava razoavelmente sob controle: se minha condição de extramensalista do IAPC me sujeitava a um salário baixo, o cartão falso de estudante, que me permitia almoçar no Calabouço por dois cruzeiros, aliviava a barra. Uma vaga de quarto na pensão da rua Carlos Sampaio não custava muito. E ainda havia os trocados que pingavam da colaboração eventual no suplemento literário do Correio da Manhã ou do Diário de Notícias. O meu único terno, comprado a prestações num alfaiate da rua do Resende, estava pago. O problema grave no momento eram os sapatos, cujos solados gastos já me deixavam sentir diretamente no pé a aspereza das calçadas do Rio. Em bom português: estavam furados.
Por isso mesmo, não resisti ao ver, na vitrine de uma sapataria da Lapa, um par de sapatos por 150 cruzeiros. Maravilha! Hoje, após tantos cortes de zeros no cruzeiro e até a mudança do nome da moeda, será difícil para o leitor avaliar o preço desses sapatos. Mas eram baratos, sem dúvida alguma. Entrei, experimentei-os e decidi que devia comprá-los, embora estivessem um pouco apertados. Um pouco, foi o que disse a mim mesmo, porque aquela pechincha era minha salvação.
Estavam de fato muito apertados, tanto que, ao chegar à redação da revista do IAPC, onde trabalhava, ali na rua Alcindo Guanabara, meus pés ardiam em brasa. Com alívio, tirei-os dos pés e calcei de novo os sapatos furados que, providencialmente, trouxera comigo. Fui até o banheiro, molhei bem os sapatos novos e deixei-os ali, certo de que, quando secassem, estariam mais macios. Era verão e foi sob um sol de fogo que caminhei até o Calabouço para almoçar aquele dia. À tarde dei uma volta pelas livrarias, só pra ver os livros, e à noite tomei o meu cuba-libre com os amigos no então famoso Vermelhinho, em frente à ABI. Dormi pensando em meus sapatos novos.
Acordei pensando neles. Certamente ia poder calçá-los agora. Quase aflito, rumei para o IAPC, subi de elevador, abri a porta da repartição, dirigi-me ao banheiro onde deixara os sapatos sobre a pia. E lá estavam eles, secos, melhor dizendo: ressequidos, isto é, duros, rijos como casco de burro. Mesmo assim, tratei de calçá-los, o que só consegui com enorme esforço. “Pronto”, disse, terminando de lhes amarrar o cordão. Meu pé soltava faísca espremido ali dentro. Senti que não conseguiria dar um passo. Só há um jeito, pensei, e fui logo à prática: bati violentamente com o pé calçado no chão para forçar o couro a alargar-se. Foi uma patada só e o sapato explodiu.
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Uma Bela História de Amor - por vestivermelho

Sábado, noite fria sem nada para fazer fiquei em casa, fiquei na sala vendo a quantidade de livros que tinha a minha disposição, romances, ficção, livros com capas duras, outros com sua capa bonita em um colorido que não combinava com outros livros, mas eram mantidos em uma ordem perfeita.
Teria que ler algo para poder ficar sem pensar, pois estava com uma dúvida: como seguir a minha vida? Estava só, meu querido amigo, até então, somente meu amigo... estava viajando. Sempre o acompanhei, mas nessa viagem não fui, queria pensar, solucionar... o que sentia por ele. Era só amizade, me acostumei ou tinha me apaixonado?
Peguei um livro achei pelo título que seria interessante ler...
Apanhador no Campo de Centeio (Catcher in the Rye)
Autor: J.D. Salinger (EUA, 1919).
Ano de edição: 1951.
Original escrito em: Inglês.

Lembrei de uma nota desse livro... O maluco que matou John Lennon estava com este livro no bolso quando atirou.
Resolvi ler, me acomodei confortavelmente em sua cadeira, sempre quis sentar, mas ele, quando está em casa é o dono da cadeira. Não era um sofá nem cadeira, sinceramente não sei dizer, mas que dá uma boa impressão e vontade de se aconchegar...
Sentei e senti seu perfume, uma mistura de doce e forte, como ele... forte e doce... Senti saudade, me aconcheguei, fiquei virando páginas do livro, não estava com vontade de ler... Apenas senti que tinha algo dele no ar.

O livro narra um fim-de-semana na vida de Holden Caulfield, jovem de 16 anos vindo de uma família abastada de Nova Iorque. Holden, estudante de um reputado internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno, depois de ter recebido más notas em quase todas as matérias e ter sido expulso da escola.
No regresso a casa decide fazer um périplo, adiando assim o confronto com a família. Holden vai refletindo sobre a sua curta vida, repassa sua peculiar visão de mundo e tenta definir alguma diretriz para seu futuro. Antes de enfrentar os pais, procura algumas pessoas importantes para si, como um professor, uma antiga namorada, a sua irmãzinha, e tenta explicar-lhes a confusão que passa pela sua cabeça... Adormeci pensando no rapaz...
Acordei com o sol iluminando com seus raios a sala, percebi que o livro tinha caído e esparramado umas folhas no chão.
Fui até a janela ver como estava o dia lá fora, um lindo jardim com lindas flores que ele cuidava com carinho, roseiras com lindas rosas, uma linda trepadeira de brinco de princesa, algumas florzinhas do campo coloridas davam um ar romântico ao pequeno e bem cuidado jardim.
Coloquei o livro no lugar. Ele jamais iria me perdoar deixar algo em desordem. Mas, e o papel? Peguei e comecei a ler... lendo, vi que era uma coisa muito particular, mas ao mesmo tempo muito minha, era a resposta ao que eu me perguntava: gosto ou somente estou acostumada com ele...
Olhei na sala, procurei e vi... uma chave; era ela, tinha certeza que era, uma chave com um pequeno chaveiro em forma de coração.Peguei e fiquei olhando e beijei e abracei com todo amor do mundo, porque tinha certeza que era a chave do coração dele...
Eu podia entrar e admirar toda grandeza de amor que ele tinha para me dar...
Estou agora sentada em sua cadeira esperando ele chegar... e dizer:
- Meu Ogro, eu te amo...

Leiam e vejam como ele é lindo e que sempre procurou o amor...



“Há muito tempo eu não entrava no meu quarto de despejo. Por necessidade entrei lá.
As lembranças doeram-me, à vista dos meus livros antigos, dos meus discos, dos brinquedos de meu filho. Vejo lembranças de prateleiras, bibelôs, enfeites antigos, restos de fotografias, escritos, manuscritos, cadernos de estudos, livros de música, quadros e gravuras antigas. Todas são fortes lembranças de afetos, de desafetos, de sonhos e ilusões não realizadas.
Paradoxalmente, escuto o silêncio que reside ali dentro do quarto de despejo e escuto o vazio que vem dentro de mim, à vista, principalmente, do invisível aos olhos.
Quantas lembranças me passam quando vejo um simples caderno de notas.
São vários. Pego um deles, aleatoriamente. Abro-o e vejo rabiscos que ajudaram a construir minha essência. Relembro as minhas fraquezas da época, meus sonhos de então, meus temores do mundo que viria. Alguns ainda mantêm notas, cálculos, desenhos. Quantas expectativas na construção de uma carreira...
Meus livros permanecem com os mesmos mistérios.
As histórias ali contadas fizeram-me desejar ser alguém poderoso, sábio, belo, rico e forte. Com eles pude imaginar amores, namoros, pude superar minha insegurança e minha falta de talento para encantar e atrair amores que mantive em silêncio.
O adulto não se tornou mais bonito com os livros que leu. Nem mais belo, nem mais rico, nem mais formoso.
Mas tornou-se mais compreensivo consigo mesmo e ajudou a aceitar com mais naturalidade seus próprios defeitos.
Os livros ali expostos, e olho-os com gratidão, ajudaram-me a construir o prazer da leitura, a arte da correta grafia. As histórias de encantamento e lirismo ainda me fazem desejoso de possuir talento para impregnar o papel com histórias, poesias de amor, encantar alguém...
Olho as prateleiras que, de forma silenciosa e muda, como companheiras fiéis, guardam o tesouro de todas as minhas memórias. Minha vida e meu passado estão ali, ao alcance de meus olhos e minhas mãos. Acaricio delicadamente as prateleiras amigas. Agradeço-as pela fidelidade com que guardam todas essas lembranças, aguardando o encontro do presente e passado.
Levanto os olhos e vejo alguns dos meus brinquedos do tempo de infância. Tempo de pura inocência, de crédito em super-homens, super-heróis, animais falantes, monstros amigos, carros invencíveis.
Alguns jogos e brinquedos passaram pelas mãos de meu filho. Juntos criamos as mesmas histórias que criei com meu pai. Brincamos e dividimos momentos agradáveis e inesquecíveis, na criação de garagens espaciais, monstros voadores, animais poliglotas. Hoje, nem mais consigo conversar com ele. Já é um homem, com novos sonhos, novos amigos, novas expectativas... trocou os brinquedos pela tela do computador. Já não o vejo com livros, nem mais me procura para ouvir história. Isso faz parte da construção de seu futuro.
Pego um caderno de meu filho. Recados de amigos, anotações escolares, exercícios, erros e acertos, notas de pé de página... que amores ele poderia ter construído em sua infância?Amigos dele que se distanciaram em nossas inúmeras mudanças, várias cidades em que ele nem pode ter construído amizades duradouras. Será que fui um bom pai, mudando-me várias vezes de cidade na tentativa apagada de dar-lhe melhor condição financeira que tive? O que será das antigas amizades de meu filho? Onde estarão aqueles que deixaram notas e belas mensagens em seu caderninho de recordações?
Abro um álbum e vejo as fotos antigas. As lembranças transformam-se em lágrimas furtivas e que insistem descer. Olho em redor. Deixo as lágrimas caírem, molhando-me as mãos e a camisa. Faz-me bem chorar e cumprir esse ritual de auto-análise.
As lágrimas lavam-me os olhos e o espírito e me confortam o fato de não ter sido um bom pai.
Olho as telas e pincéis que, um dia, imaginei preencher com idéias, paisagens e personagens. As telas em branco e os pincéis ainda virgens são desafio que ainda preciso ter coragem de encarar, nessa vida tão tumultuada. Ou será mesmo a certeza de falta de talento?
Olho as fotos da família. Sorrisos, instantâneos, poses, parentes que já se foram, crianças que hoje são adultos... a vida passa, inexoravelmente.
O tempo muda tudo e todos. O tempo amigo ou inimigo, dependendo daquilo que construímos para nós...
Olho mais uma vez o quarto de despejo. Lanço um olhar agradecido a esse meu passado que me ajuda a construir-me e reconstruir-me diariamente.
Minhas lembranças são minhas. São inteiramente minhas. E elas fazem-me acreditar que o futuro será o passado hoje.
E esse exercício de humildade que hoje faço aqui dentro servirá para me dar mais força para que eu ajude a construir pessoas melhores, desde que eu me faça melhor a cada dia.
Fecho a porta do quarto de despejo. Hoje também faz parte de minhas lembranças. As lágrimas ficaram lá dentro, ajudando a molhar o chão de minhas memórias.
Mas as lágrimas de meus olhos devem vir do coração, a cada instante e sempre que as memórias insistirem em vir à tona.
Fecho a porta com a chave.
Obrigado, meu quarto de despejo. Voltarei aqui sempre que o adulto insistir em pegar a mão da criança que se foi.
Afinal, a chave está aqui comigo, pendurada na fio das minhas lembranças, do meu eu indivisível.”
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Conexão Saúde: como ativar as energias positivas do seu organismo e ter saúde perfeita, de Deepak Chopra - por Alba Vieira


“Apresenta, de forma simples, facilmente entendida, a concepção da física quântica e sua aplicação à saúde. Aborda a capacidade que todos nós possuímos de gerar uma nova realidade.
De forma geral, mostra que o homem faz parte da natureza, que existe uma inteligência por trás de tudo que há e que este é o ponto de ligação entre o homem e a natureza. É o que a física quântica chama de campo e que os terapeutas chamam de Self. No nível da consciência estamos ligados em teia a tudo. Quando estamos em contato com esse estado, esse nível de consciência alterada, somos capazes de criar a realidade.
Sabe-se que toda realidade é partilhada. Se a natureza é perfeita e fazemos parte dessa natureza, à medida que mais seres se conectarem com essa consciência, será possível alterar os estados de doença naturalmente e isto progredirá até que esta capacidade seja absorvida para todos os seres que, a partir daí, irão expressar esta possibilidade: mecanismos auto-reguladores, mecanismos de auto-cura.
A realidade depende do observador. Se nosso sistema de crenças admite a perfeição, ela passará a fazer parte da realidade.
Para atingir este estado de consciência que é natural, não temos que fazer esforço. É um estado além da vigília, do sono e do sonho. Para alcançá-lo devemos buscar o silêncio, o espaço entre os pensamentos, o vazio que é o mundo das possibilidades.
Esse caminho pode ser facilitado através da ioga (união), da meditação transcendental (usando por exemplo mantras como veículo) e de técnicas de hipnose. Só se conectando com este nível de consciência que é gerado a partir da consciência do universo é que podemos ser criativos e promover o que hoje ainda é dito fantástico: as curas espontâneas.
Mostra ainda como a medicina Ayurvédica se encaixa nessa nova realidade.
A nossa realidade é formada por aquilo em que acreditamos. Mas só mudamos nosso sistema de crenças atuando neste nível mais profundo, que não corresponde à consciência ordinária (que atua através da vontade).
Amplia esta visão para além da medicina.
É um excelente livro, de fácil leitura, bastante agradável e profundo.”
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E você? Que livro considera excelente?
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