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sábado, 24 de outubro de 2009

O Grande Mico que Paguei e Depois Chorei... - por Adir Vieira


Hoje já se passaram dois dias do ocorrido, mas ainda sinto lá no fundo uma ponta de mágoa pelo que fiz. Para que vocês entendam, vou relatar aqui e dividir com vocês.
Temos um profissional eletricista que já há uns dez anos nos atende. Há uns dias atrás, esteve ele aqui em casa para desinstalar um ventilador e instalar um outro. Calmo e eficiente, além de muito educado, o deixamos à vontade no seu trabalho, haja vista a grande confiança que sempre depositamos nele.
Dessa vez, no entanto, estranhamos o fato de estar demorando tanto e fomos ao local ver o que acontecia, quando o vimos andando de um lado para o outro com o manual de instruções nas mãos. Ele é um sujeito de pele clara que, naquela altura, estava vermelha como um pimentão.
Perguntamos o que estava havendo e ele, muito sem graça, explicou que não conhecia aquele modelo de ventilador de teto, novidade no mercado, e que tinha esquecido os óculos e não conseguia ler as instruções. Meu marido prontificou-se a ler para ele, mostrando os gráficos.
Lia, mostrava, lia, mostrava, mas ele não entendia e repetidamente perguntava:
- Onde ligo o fio cinza? Só preciso saber do fio cinza! - cada vez mais demonstrando estar nervoso.
Da cozinha, eu ouvia e estranhava o que estava ouvindo, quando pedi ao meu marido que emprestasse a ele os seus óculos para uma tentativa de, quem sabe, se os céus ajudassem, eles pudessem servir, por eles terem o mesmo problema ocular! Mais eu estranhei a negativa do meu marido que, firme, me olhava e dizia:
- Não precisa, deixa que eu vou ler para ele.
Dois medos tomaram conta de mim - uma instrução interpretada erroneamente pelo meu marido e a falta de confiança naquele profissional de ouro que, por ter esquecido os óculos, tinha se tornado profissional de lata. Daí, apressei-me a pegar meus próprios óculos e forçá-lo a colocar no rosto, para tentar enxergar. Muito sem graça, ele repetia:
- Com esse aí mesmo é que eu não vejo nada.
Fiquei nessa tentativa pelo menos uns dez minutos, fazendo com que ele experimentasse cinco pares de óculos.
De repente, eu mesma descobri etiquetas nos fios indicando os locais onde deveriam ser ligados.
Quando acabei de ler, o eletricista suspirou de alívio. E nós também!
Por fim, meia hora depois, o trabalho foi concluído com pleno sucesso.
O mico veio por conta do que meu marido contou após sua saída. Ele na realidade não tinha “esquecido” os óculos. Não lia porque era analfabeto.
Naquele momento me dei conta do meu “mico” e senti na pele a dor que ele deve ter sentido com minha insistência boba.



Visitem Adir Vieira
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Foi Marcante! - por Esther Rogessi

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Naquela noite estavam todos reunidos no pátio para uma devocional (momento de louvor e oração), o que costumava acontecer antes do início das aulas. Os meus olhos viciados em ti começaram a te buscar. Lá estavas... Tão simples, vestido em uma calça jeans, camisa de malha branca, sapatos “coiote” sem meias, bem à vontade. Deixavas transparecer cansaço. Passavas as mãos no rosto, como que para retirar o sono, o enfado.
Fiquei parada a te contemplar... Lindo! Simples, pele branca, emoldurada por fartos cabelos negros... O meu jasmim!
Levantaste o olhar e me viste ali... muda a olhar-te. Fiquei inibida. Parecia que eu era uma garotinha em falta, pega em fragrante... Escondi-me, por trás dos colegas.
Ah! Que alegria... Você ficou a me procurar com o olhar, insistentemente, a ponto de chamar a atenção da minha insuportável colega que, olhando para ti, procurou ver para onde e para quem estavas a olhar... Descobriu! Olhou-me, como a pensar: Ah! É para ela que ele está a olhar!...
O tempo passou! Ah! Passou... Porém, a simplicidade e singeleza desses momentos permanecem em mim... Onde você está? Lembras de mim?


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O Novo - por Leandro M. de Oliveira

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Preparar, apontar... Morte ao tirano. Homens fuzilem-no! (1, 2...) Descansar armas. Ascendam a pira funerária ou deixem o corpo aos cães. (1, 2...) E algumas horas mais tarde, histeria coletiva... Saudações ao novo tirano! Ele já esperava pelo desjejum na sala de jantar. Sirvam-lhe carne e sangue se disso é composto o triunfo. Um cai e outro ascende, e esse também enfrenta a derrocada pra que um outro mais astuto venha. (1, 2...) Bola da vez, o eterno samsara do concurso mundial de vaidades. Seja rápido! Ou lento o bastante, pra que as sentinelas do caos te acertem no peito.
O problema humano não é político mas, antes de qualquer outro, um problema ético. Enquanto não houver um sentido de coerência de ação entre homens nada se fará tão pragmático como a inabilidade das buscas coletivas em produzir algo de bom ou justo. A consciência do senso comum é nascente como espelho da conjuntura em que se vive. Assim, há que se supor que enquanto o aviltamento do ser humano em seu sentido mais elevado for distribuído por meio de teorias, dissimulações e forja daqueles a quem cabe ditar um caminho na tecnocracia do mundo atual, todo o mais que se constrói a sua borda resultará inútil. A escola não ensina, a política não governa, o exército não protege, a TV não informa. As assim ditas redes de manutenção e formação da ordem social constituem só uma forma sofisticada do velho desejo de manter o homem médio anestesiado. Aquele homem bate mais uma vez à sua porta, vez em quando a capa do sacerdote, do candidato, do capitão, do professor ou do jornalista, vez em sempre o desejo frenético de te manter suficientemente submisso. Nada de novo pode ser produzido sem que o mestre ordene, isso seria uma subversão perigosa. Então a busca de um progresso inclusivo ofusca os olhos de teu amo. Morra como um cão! Ou vomite seu ressentimento na cara desses guias cegos. Eles te fizeram refém por muito tempo, é hora de acordar. O sol brilha lá fora, que ninguém nos cobre mais por esses raios. Expurgue de uma vez o seu medo e a sua escravidão, já é hora de tentar algo novo. E até que esse algo inédito apareça, nenhum comunismo, nenhum paganismo, nenhum filosofar profundo... Nada será capaz de restituir ao homem aquilo que desde sempre lhe sentiu usurpado. É preciso mergulhar mais fundo, vasculhar escombros, caminhar no subterrâneo de si próprio. Vá agora àquele quarto desabitado, acorde sua alma, chame-a pra dançar. Contemple em silêncio, comemore aos berros. És o soberano de teu próprio ser! Respire fundo, avance a passos confiantes. Siga até a fenda aberta entre o animal e o algo superior, costure-a com os dentes, reequilibre as partes. Una em si tudo o que é mundo disse impossível. Cuspa nos arremedos da vida, tenha a versão original. Um novo livro foi lançado, uma nova ideologia criada. Livros são suportes de palavras que são suportes de elevação a quem sabe usá-las. Ideologias são suportes de ideias que são suportes dos mais hábeis demagogos. Uma crença é semelhante a um instrumento de corte nas mãos de um homem, se ele é um cirurgião procurará curar com sua cirurgia, se é um açougueiro, maquinalmente decepará as partes que estiverem à sua frente. A questão fundamental está ligada àquilo a que cada um se propõe. Posso ser um socialista que não divide ou um capitalista que crê no altruísmo. Um homem-bomba que detona bombas de confete, um judeu que crê na humanidade como povo escolhido. E é isso que sou e é isso que podemos ser, habita em mim essa contradição vacilante. Um homem sem bandeira, credo ou partido. Que o vento seja gentil, que nossas velas inflem rumo ao desconhecido. E que nesse nos reconheçamos como criaturas livres. A noite passou como um vulto, enfim vem se aproximando a aurora. É hora de partir, é hora de ficar, é tempo de transcender.

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Luis Fernando Veríssimo em “Quem Sou Eu?” - Citado por Paulo Chinelate

Nesta altura da vida já não sei mais quem sou… Vejam só que dilema!!!
Na ficha da loja sou CLIENTE, no restaurante FREGUÊS, quando alugo uma casa INQUILINO, na condução PASSAGEIRO, nos correios REMETENTE, no supermercado CONSUMIDOR.
Para a Receita Federal CONTRIBUINTE, se vendo algo importado CONTRABANDISTA. Se revendo algo sou MUAMBEIRO, se o carnê tá com o prazo vencido INADIMPLENTE, se não pago imposto SONEGADOR. Para votar ELEITOR, mas em comícios MASSA, em viagens TURISTA, na rua caminhando PEDESTRE, se sou atropelado ACIDENTADO, no hospital PACIENTE. Nos jornais viro VÍTIMA, se compro um livro LEITOR, se ouço rádio OUVINTE. Para o Ibope ESPECTADOR, para apresentador de televisão TELESPECTADOR, no campo de futebol TORCEDOR.
Se sou cruzeirense, SOFREDOR. Agora, já virei GALERA (se trabalho na ANATEL, sou COLABORADOR) e, quando morrer… uns dirão… FINADO, outros… DEFUNTO, para outros… EXTINTO, para o povão… PRESUNTO. Em certos círculos espiritualistas serei… DESENCARNADO, evangélicos dirão que fui… ARREBATADO.
E o pior de tudo é que para todo governante sou apenas um IMBECIL!!!
E pensar que um dia já fui mais EU.


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