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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tema do Mês de Novembro: Aquele Livro...

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Caríssimos amigos:
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Hoje foram publicados apenas os textos referentes ao Tema do Mês: “Aquele Livro...”.
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Participantes
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Ana
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Clarice A.
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Dália Negra
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Penélope Charmosa
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Soraya Rocha
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Muito obrigado a todos que colaboraram com esta “blogagem coletiva”!
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Um grande abraço!
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Aquele Livro - por Alba Vieira

Tantos livros foram importantes para mim que se tento destacar alguns me perco totalmente. É exatamente como ocorre com músicas. Passei a minha vida inteira cantando enquanto fazia outras coisas. Sempre tive ótima memória e aprendia as letras das canções com muita facilidade. Como as tarefas que eu fazia, tanto em casa quanto no trabalho me permitiam ficar sozinha por horas, eu aproveitava para cantar enquanto trabalhava. Cantava LP’s e depois CD’s inteiros sem me confundir com as letras. Mas hoje, se quero escolher músicas pra cantar, elas somem da minha mente. E acontece o mesmo com os livros que li, desde os seis anos, quando aprendi essa maravilhosa habilidade. Foram tantos que eu encontrei durante a minha vida! Tantos livros me marcaram, me modificaram, me esclareceram, me fizeram companhia, me desafiaram, me revoltaram com suas tramas verídicas, me encantaram, me seduziram, me permitiram descobertas e viagens incomparáveis.
Entretanto, quando desejo falar especialmente sobre algum deles, não consigo. Ou porque destacar algum é impossível ou porque são tantos igualmente significativos que ficaria escrevendo por muito tempo sobre eles e, nesse período, minha companheira inseparável tem sido a preguiça.
Descubro então que aquele livro para mim agora, é exatamente o que estou para ler, aquele que acaba de entrar no meu universo, que vai trazer o novo, que me acompanhará por um tempo, que representa a expectativa, mas ao mesmo tempo o momento presente.
Cada livro carrega em si um mundo de possibilidades. E o seu valor singular é ditado por uma série de características perceptíveis ou misteriosamente guardadas para serem desvendadas por cada leitor em especial no momento certo. E é exatamente isso que vai permitir que ele sobreviva para sempre (ou não) no escaninho da memória de cada de nós.



Visitem Alba Vieira
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Aquele Livro - por Ana

Aquele livro, peguei
Em meio à sujeira e ao pó.
Aquele livro, só meu,
Depois que te foste de nós.

Aquele livro tão lido
Por ti, a sós, isolado.
Aquele livro que encontrei
Totalmente abandonado.

Aquele livro fedia,
Jogado entre seus sapatos.
Aquele livro era velho,
Tão amarelo, tão gasto.

Aquele livro lambido,
Folhas dobradas, suado.
Aquele livro, tristeza...
Estava até chamuscado.

Livro que, sempre contigo,
Ninguém podia tocar.
Companheiro inseparável
Em toda hora e lugar.

Aquele livro, sem capa,
Para todos um enigma.
Aquele livro, tão teu,
Seria de história ou de rimas?

Sentei à mesa, tão quieta,
Sabendo o momento sagrado.
Enfim iria desvendar
Segredo tão bem guardado.

Folheei... tão grande espanto!
Aquele livro... teu guia?!!!
Meu avô, se eras ateu,
Por que lias tanto a Bíblia?
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Aquele Livro... - por Cacá

Era época de república estudantil, anos setenta e as leituras eram quase proibidas: livros, jornais e revistas, tudo muito vigiado. Chico Buarque usava o pseudônimo de Julinho da Adelaide quando queria passar alguma letra mais provocativa (ofensiva ou defensiva?). Usava-se e abusava-se das metáforas para dar um drible na censura que não possuía jogo de cintura algum e muito pouca inteligência, feito aqueles zagueiros que apelam para a botinada diante da falta de outros argumentos hábeis com a bola vindo em sua direção.

Não era raro sair às ruas pela manhã e encontrar uma banca de revistas totalmente incendiada ou destruída com pichações do CCC (auto intitulado Comando de Caça aos Comunistas). Pensar era permitido, mas se a fala decorrente desse pensamento fosse algo que estimulasse um tico qualquer de reflexão entre os interlocutores, já se configurava atentado à segurança nacional. Prisão, tortura e morte em muitos casos.

O meu problema era que gostava de ler e fui morar logo no meio de um bando de subversivos (assim chamados os que ousavam pensar com a boca aberta). Eu com 14, 15 anos e a turma toda já “de maior”, muitos estudantes universitários. Era normal circularem em casa jornais clandestinos, panfletos apócrifos e livros, muitos livros onde não se podia sequer colocar o nome do dono na contracapa para não se correr riscos caso fosse parar em mãos erradas. Às vezes, arrancam-se capas de livros tipo “O Pequeno Príncipe” e colavam-nas em cima da outra capa como disfarce para poder ler sossegado em lugares públicos.

Repúblicas têm um rodízio de pessoas ano após ano. Então o cara me aparece com um livro intitulado “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”. Puído, de tanto circular debaixo do braço. De vez em quando mudava de lado para suar por igual. Eu não sei se a intenção dele era usá-lo como manual de sobrevivência na cidade grande ou se tinha algum outro propósito mais nobre. Sei é que não saía debaixo do braço a não ser para tomar banho. Acho que até dormia com ele. “Cultura axilar”, segundo foi rotulado pelos colegas. Sei também que esse não era proibido. Um dia, enquanto ele tomava banho, olhamos para ver se a capa não era um daqueles “despistes” da censura. Não era. E me desanimei com qualquer curiosidade de ler o tal livro. O rapaz não conseguiu sequer fazer uma amizade durante sua curta estada entre os demais, quem dirá influenciar alguém com seu manual. Carrancudo e mal educado, sua lição, para mim só foi aprender um pouquinho mais a selecionar leituras. Boas maneiras eu já havia aprendido em casa de meus pais.


Visitem Cacá
Dale Carnegie, Antoine de Saint-Exupéry

Tátil - por Clarice A.

Considera aquele livro o seu primeiro livro. Seu. Para ela os livros didáticos não contam. Aquele foi o seu primeiro livro.Presenteado por sua madrinha para a primeira comunhão, o pequeno livro de capa de madrepérola e letras douradas fascinou a menina que cursava o primário. Tê-lo nas mãos, folheá-lo, sua beleza e delicadeza, um prazer inesquecível.
Muitos outros livros vieram depois, emprestados por amigos ou pelas bibliotecas, presenteados por amigos ou comprados por ela. Através deles viveu muitas histórias, viajou no tempo e no espaço, conheceu personagens, participou de tramas, conquistas pessoais ou de territórios, emocionou-se, instruiu-se, riu, conheceu a fantasia, exercitou sua imaginação, viveu um mundo paralelo ao seu, fecundo, mágico, enriquecedor. Tornaram-se parte dela.
Ontem menina fascinada pela forma, ainda muito pequena para dar o real valor aos conteúdos. Hoje mulher mantém aquele prazer tátil despertado na infância pelo seu livro de catecismo. Pegar o livro, folheá-lo, ler páginas aleatoriamente. Acrescentou conteúdo, continua a ser conquistada sensorialmente, e é muito bom quando convidada à reflexão.
Livros: capa contracapa, prefácios orelhas, ideias, vivências, observações, pensamentos, memórias, imagens, histórias, lugares, mensagens, orações, receitas, humor, guias, fantasia, preciosa e fiel companhia, fonte inesgotável de conhecimento e prazer.
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Aquele Livro - por Dália Negra

Aquele livro... viagem
Profunda pra dentro de mim.
A cada linha uma dor,
Desde o início até o fim.
Tristezas insuportáveis...
O mal do mundo, enfim...
Não poderia ser pior
História assim tão ruim.
É um relato doído,
Tragédia de folhetim.
Escrito com sangue inocente,
Vívido, jovem, carmim.
Aquele livro... minha vida
Que apenas foi lida por mim.
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Aquele Livro - por Esther Rogessi

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O peso da vida pesou-me... Não encontrei forças para prosseguir.

Vivi à procura de flores: margaridas, acácias, dálias... “Rosas-de-sangue” vi!...

Vi um bem-te-vi voando livre... Entoando repetidas vezes: Bem-te-vi... bem-te-vi!...

Clamor do horror na China, na Índia... A máxima da crueldade vi!

Bem te vi... voando à procura das rosas... O que nelas buscas, não se encontra nos jasmins!

És... tal qual pombas, dependentes do “Ser Supremo” que naquele livro li...

Se não falta para as pombas o alimento... Livramento,

Ó Deus! Dependem de Ti!... Acolhe as pombas e não esqueças os bem-te-vis...

Rega de vida as rosas da China,

Lava o sangue que na Índia vi!

Faz desabrochar os botões da Índia,

Por elas clamam... gemem os bem-te-vis...

A vida que é bela... Feia se faz!

Ó Gaia... Mãe terra! Geratriz... cessa a guerra!

O matador da China, o horror!

“Botões de rosas”, ramalhetes, deixados ao léu, às lágrimas vertentes dos olhos inocentes,

Gritos de dor para dentro de si... Causa morte, obscura sorte: nasceu rosa... dália... E não jasmim!

Um dia, Raquel clamou por seus filhos indefesos... Às suas vidas por um fio perderam, pelas espadas, pelo fio frio calaram!

“Aquele livro” nos mostra um tempo de horror...

Matança hoje tão presente... Feras pensantes, genocídio de inocentes!
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Aquele Livro... (Mentiras no Divã) - por Gio

Nunca tinha sentido isso antes. Já havia admirado, desejado. Já havia gostado, adorado e amado. Já me prendi horas, dias, e até meses; mas nunca tive um sentimento tão forte, uma reação como essa. Foi um mês intenso, horas por dia, a semana inteira. Amor de verão. Quando chegou ao fim, me abracei nele e não queria soltar.

“Mentiras no Divã” é o nome do livro que me provocou a reação acima. Já gostei de vários livros, mas acho que nunca tive uma reação tão forte ao ler algum antes. Uma estória bem construida e personagens extremamente interessantes, humanos de carne e osso, que nos causam identificação. Mais que isso: a mente humana desvendada em suas mais variadas formas, e seus mais diferentes raciocínios.

Mais do que um ótimo livro, “Mentiras no Divã” serviu para aguçar o meu interesse sobre a psicologia e a psicanálise. Como o último é quase inviável, o primeiro subiu na lista de prioridades sobre o próximo curso que pretendo fazer. Claro, primeiro preciso terminar essa loucura chamada Engenharia de Computação...
 

Visitem Gio
Irvin D. Yalom

Aquele Livro (Brasil: Nunca Mais) - por Lélia

Eu comecei a ler aquele livro num dia de chuva, triste mesmo. E o livro era mais triste ainda. Tantas desgraças, tantas injustiças, tantas verdades duras. Fui lendo cada vez mais devagar, às vezes parando para refletir; fechava o livro, deixava sobre o colo, pensava em outras coisas, recomeçava a leitura ainda mais devagar. Até que levantei, coloquei-o sobre a mesa e ali ele ficou por meses, esquecido, eu querendo esquecer dele e de suas histórias difíceis de encarar. Um dia ele foi guardado e um outro dia ele sumiu da estante, alguém deve tê-lo levado. Acho que fiquei aliviada. Jamais esqueci daquele livro: foi o único que não li até o final. E não lerei. “Brasil: Nunca Mais”? Nunca mais...
Dom Paulo Evaristo Arns

A Morte de Carlos Drummond de Andrade - por Lisa Alves

Acordar e ver o quarto tão cinza que mesmo ao abrir a janela nenhum efeito dos raios solares contribuem para diminuir o efeito do último incêndio.
Pela terceira vez ela ameaçara incendiar os livros. “Pobre tem que trabalhar!” “Essas escrituras envenenam seus pensamentos.” “Só os ricos podem se dar ao luxo de ler.” “A louça está suja.” “Nenhum homem vai querer casar com você.” Eu tinha pena dela, também tinha ódio, às vezes receio, às vezes respeito. Por fim não relutava, pedia licença a Drummond e saía às seis da manhã para procurar emprego. Trabalhei em linhas de produção, contaminei meu organismo com baterias de celulares e foi ali que constatei a poesia de Maiakovsky: “Grita-se ao poeta: ‘Queria te ver numa fábrica! O que? Versos? Pura bobagem’.”
Sentia o quanto eram falsas as palavras de minha mãe, pois nos livros existiam descrições perfeitas da vida lá fora, embora a vida lá fora não tivesse tempo suficiente para compreender os livros. A vida lá fora vendera seu tempo, minha mãe vendera sua vida e eu estava prestes a vender minha alma. Meu emprego era um lugar onde pessoas entravam e saíam a cada segundo, ninguém permanecia ali por muito tempo, o pagamento era bom, mas como não havia plano de saúde noventa por cento do salário entrava nos bolsos dos médicos. Um mês era o suficiente para um cidadão de bem suportar aquilo, eu fiquei ali por quatro anos. Nos intervalos (quando aconteciam) escrevia para os meus autores testemunhando a veracidade de seus escritos.

Querido Drummond, minha mão também está suja, não a escondo dentro dos meus bolsos, pois não posso contaminá-los de radiação.

Caríssima, Clarice! Escrevo-lhe com borrões vermelhos de sangue, minhas unhas não suportam os movimentos repetitivos, as baratas possuem uma vida melhor.

Sr. Gabriel García, a solidão que acompanha essa gente durará centenas de milhares de anos. Leve-me para Macondo!

Quatro anos e nenhuma resposta. Na caixinha do correio apenas propagandas dos mercados e contas a pagar. A vida ficou mais difícil, eu estava completamente contaminada com as suas doutrinas. Não havia mais tempo para os livros, chegava cansada, ligava a TV e mastigava algum alimento fácil. Minha mãe já não era a mesma, até beijava meu rosto, arrumava meu quarto e limpava a pequena biblioteca. Os livros já não eram mais perigosos, tornaram-se enfeites na estante da sala. O vazio dentro de mim era descarado, gritava no meu espelho, tremia as paredes, perturbava os meus sonhos. Cheguei ao ponto de ter um verdadeiro nojo das palavras escritas, depois das palavras ditas e por fim fiquei muda. O trabalho tornou-se desinteressante, antes existiam intervalos, antes eu era a espiã de Clarice, Drummond e García Márquez, mas agora minha missão tinha terminado. Assim que fui promovida pedi demissão, não queria mais fazer parte da história daqueles autores, esse mundo era feio demais, inútil demais, não havia sentido viver na descrição de uma vida tão penosa.
Voltei para casa e contei a boa nova para a família, chamaram-me de louca, minha mãe trancou os livros caso eu tivesse a intenção de voltar a lê-los. Ameaçou queimá-los (novamente tornaram-se perigosos). Disse a ela que não se preocupasse, eu não os queria mais, não tinha mais curiosidade de conhecer o mundo inventado por eles. Peguei um fósforo e queimei Drummond. “Morra com sua mesa, morra no meio do caminho, morra com as mãos sujas!” Drummond incendiou todo o resto. Clarice gritava em meus ouvidos: “Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias.” Eu não tive pena, o mundo precisava de novos autores, o mundo necessitava de uma nova visão.
E foi assim que deixei a espionagem para criar um mundo diferente. Hoje trancada no quarto cinza, decorado pela minha ira, escrevo a nova gênese. Lá fora o mundo adormeceu no fogo, eu sabia que tudo era uma grande ficção. Ainda não sei como tudo isso vai começar, só sei que a espécie humana foi extinta da história e uma nova espécie surgirá das cinzas.



Visitem Lisa Alves
Clarice Lispector, Gabriel García Márquez, Vladimir Maiakovski

Fiódor Dostoiévski e Aquele Livro - Citado por Penélope Charmosa

Deixa-me dizer-te, meu caro, pode bem acontecer que vás através da vida sem saber que debaixo do teu nariz existe um livro no qual a tua vida é descrita em todo o detalhe. Aquilo do qual nunca te deste conta antes, vais relembrando aos poucos, assim que comeces a ler esse livro, e encontras e descobres... alguns livros tu lês e lês e não lhe consegues encontrar qualquer sentido ou lógica, por mais que tentes. São tão “espertos” que não consegues perceber uma palavra daquilo que dizem... Mas esse livro que talvez esteja logo debaixo do teu nariz, tu lês e sentes-te como se tivesses sido tu próprio a escrevê-lo, tal como - como é que hei-de dizer? - tal como tivesses tomado posse do teu próprio coração - qualquer que este possa ser - e o tivesse virado do avesso de forma que as pessoas o consigam ver, e descrito com todos os detalhes - tal e qual como ele é!
E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porque, de fato, porque é que eu próprio não escrevi este livro!



In “Pobre Gente”.
Fiódor M. Dostoiévski

Papillon - por S. Ribeiro

achei-o como se acha um brinquedo velho
estava num lixo de adultos
num quintal que cheirava a limoeiros e maconha.
achei-o e estava de qualquer jeito
diverso, separado, rasgado, frito
embora tenha vindo comigo.
de todo estava sujo e descobri lá pela página duzentos/quatrocentos e poucas, que lhe falta
(até hoje)
uma página
e impossível encontrar esta página assim
como o encontrei
(contava a história antes da morte de Clousiot).
um novo? talvez. ele é único apesar
de antigo e quebrado.
ainda permanece guardado, só o li duas vezes;
ele é que tem o gosto da tarde de um poeta que já foi livre.
foi o que sobrou de mim aqui.



Visitem S. Ribeiro
Henri Charrière
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Aquele Livro - por Soraya Rocha

Somos amigos há tanto tempo... Nem sei dizer...
Conversas nas madrugadas, até o amanhecer...
Dores passamos juntos, não tínhamos a quem recorrer...
Cúmplices nesta vida, coisa de não se esquecer...
A nossa profundidade ninguém vai compreender...
Tantas coisas dividimos sobre a vida, o morrer...
Mas aquele livro, meu caro, você vai me devolver!
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O Livro - por vestivermelho

Um livro tem em suas páginas tantos mistérios.
Não importa sua capa, seu tamanho nem mesmo sua cor.
Descobri a beleza de um livro quando tinha cinco anos, apenas os via em estantes ou mesmo em lugares que jamais alguém os colocaria.
Estava vendo no jardim uma linda joaninha, sou fascinada, tão pequena mais tão perfeita, com suas asas e sua bolinhas.
Quando vi um livro, sujo, mas que ainda tinha capa e folhas,
Limpei e comecei a ver o que ele tinha, ainda não sabia ler perfeitamente, mas imaginei serem coisas boas, pelas imagens.
Uma linda imagem de uma abelha, aparecia a letra A enorme. Na outra página uma enorme barriga, com a letra B...
Fiquei ali vendo e esqueci da joaninha; quando percebi, ela estava entre uma página e outra do livro, abri e ela saiu voando, tão alegre que fiquei feliz, percebi que ela voava
E voltava para perto do livro.
Entrei feliz na sala e na enorme estante de livros coloquei meu primeiro livro, entre tantos que depois li e reli.
Quando vejo o livro depois de tantos anos ainda sinto a presença da joaninha...
Ele está entre os meus preferidos na enorme estante de livros famosos...
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Que Livro é Esse? - por ZzipperR

Hora sorrindo, hora chorando e toda essa emoção provém da ponta do dedo que percorre as linhas das páginas de um livro velho, que mesmo sem saber o final continuo lendo e me emocionando.
Fascinante transmissão de emoções numa relação de prazer com uma sensação maravilhosa de palavras bondosas, mesmo quando me fazem chorar.
A cada dia que leio este livro me surpreendo com seus detalhes inesperados e, por mais que tente, não consigo desvendar os seus segredos e sou pego de surpresa.
Pensando reflexivamente na história que relata detalhes de uma vida, descrevendo perfeitamente os espaços nas cores, cheiros, pessoas, tempo e personagens que chegam fazendo parte do contexto e outras que partem e nunca mais voltam fazendo sua própria história.
Há horas que estou lendo o livro e paro, transportado para um flashback que me leva a uma viagem ao passado, folheando páginas do começo da leitura, como se estivesse lendo agora, num momento presente, e fico imaginando: se fosse hoje, a leitura poderia ser diferente e aqueles personagens ainda poderiam estar presentes e não definitivamente ausentes do texto.
O tempo é o escultor e à medida que passa a sua mão na arte, modifica o personagem, dando uma figura aparente de sabedoria e serenidade, porém o grande artesão nem sempre consegue transmitir felicidade em sua obra.
Que livro é esse que leio há tanto tempo, dia após dia, e não consigo chegar ao final? Quem escreveu esse livro tão longo, com tantas páginas, tantas emoções, tantos segredos e eu não consigo parar de ler?
O livro é uma viagem no mundo real de um pensador sonhador, que sabe o começo da história, num passado feliz e gostoso. O presente ainda estou lendo e tentando entender o que se passa na cabeça do personagem principal. Mesmo sabendo tudo sobre ele não consigo desvendar como será o final dessa história escrita por um grande escritor, penso que seja o melhor de todos, pois escreveu a minha vida, assim vivo cada detalhe das páginas.
Um dia ele escreverá o final e todos ficarão sabendo, mas isso é um segredo que está nas mãos dele.
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Zip...Zip...Zip...ZzipperR


Aquele Livro (O Cortiço) - por Alba Vieira


Eu era adolescente e, nessa época, pegava para ler todo livro que aparecesse por perto. Na minha casa, não eram muitos. Mas havia uma oferta razoável. Foi quando surgiu “O Cortiço”, que eu devorei em poucas horas.
Até então, tudo que eu lera tinha uma atmosfera de sonho e encantamento. Figuras românticas passeavam por cenários deslumbrantes com personalidades idealizadas e, por isso mesmo, inverossímeis.
Então, ao começar a ler “O Cortiço”, tive um choque! Tudo era tão real, eu parecia conhecer aquelas personagens de carne e osso, com as suas vivências possíveis, seus dias tão perfeitamente dimensionados numa realidade tão próxima. E, a despeito da crueza da narrativa, havia a beleza da profundidade do olhar do autor. A identificação dos leitores com os sentimentos das personagens e suas experiências era certa.
Este livro me marcou profundamente e destaco como a passagem mais interessante, aquela que descreve a primeira menstruação da personagem Pombinha. Não é possível deixar de sentir o que ela vive, quase experimentando a nível corporal cada uma das imagens sugeridas. É pura sensação!
Eu me apaixonei por esse livro que para mim é o melhor representante do Realismo.
Quem ainda não leu, está perdendo uma experiência indescritível.



Visitem Alba Vieira
Aluísio Azevedo

Aquele Livro - por Esther Rogessi

Há coisas que marcam a nossa vida. Trago recordações da minha infância que me servem de bálsamo por muitas vezes... recordações de uma infância em que eu contava os meus primeiros anos de vida, incrivelmente, estão bem dentro de mim. E, muitas das vezes, me pergunto: como posso lembrar-me de algo tão remoto? Dos meus primeiros anos de vida... chega docemente à minha memória a minha primeira cartilha, na qual aprendi a soletrar... Logo após veio “aquele livro”... Muito colorido, com um cheiro bom, de papel novo, que eu pressionava e ia soltando aos poucos, com o nariz bem pertinho, para sentir o cheiro de livro novo.
Veio a minha adolescência... Quantas boas e más lembranças... Ainda bem que prevaleceram as boas!
E, dentre elas, alguns livros... que me acompanharam por muito tempo! Até que o meu irmão mais velho chegou com “aquele livro”, o livro que me deixou encantada... que ilustração linda e convidativa à leitura... Quantas folhas! Oitocentas e... Ah! Não lembro quantas mais! Sei que era muito grosso! Porém isto não me desanimava... Quanto mais eu o lia, mais queria lê-lo! Com espanto, todos me viram concluir a leitura que, para eles, seria impossível...
Eu vivia a história, me preocupava em guardar o nome dos personagens, torcia e sofria junto com eles... Por muito tempo fizeram parte de mim... Eu lhes chamava pelos nomes: Ellen O’Hara, Melaine Hamilton, Ashley Wilkes, Rhett Butlley... Ah! Rhett... Eu amava Scarllet O’Hara, mas fui má para com ela... eu sonhava com você! E, muitas vezes, quando eu fechava aquele livro, deitada em minha cama, eu viajava em teus braços, Rhett... Ao despertar dizia para mim mesma, saindo daquele êxtase platônico: “Amanhã pensarei no assunto!”
Cresci, amadureci... Tudo ficou para trás, as doces lembranças ficaram...
Porém o tempo passou... E O VENTO LEVOU!
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Margaret Mitchell