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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




terça-feira, 23 de julho de 2013

Tempo - por Angel

Acordou com o grito das crianças que brincavam do lado de fora. O quarto escuro não permitia saber que já era dia. Abriu os olhos com dificuldade e segundos se passaram até que se lembrasse quem era e o que fazia ali. Tentou se levantar mas as forças lhe faltaram, segurou com as duas mãos em um dos lados da cama e um impulso se fez, na tentativa de se erguer. Não conseguiu, e sentiu o corpo ser tomado por uma dor insuportável que começou em seu peito e se espalhou por cada parte viva que existia. A dor foi tanta que mal conseguia respirar, e entre suspiros profundos se esforçou como nunca para permanecer viva.

Minutos eternos se passaram, o teto do quarto ganhou vida enquanto a dor parecia querer tirar-lhe a sua. Resistiu. Quando finalmente a dor cessou decidiu que sairia dali a qualquer custo. Estranhamente sentiu-se um pouco mais forte e aproveitando-se desse breve momento de firmeza, ergueu-se. Primeiro sentou sobre a cama, respirou fundo duas vezes e se levantou completamente.

Sentia as costas curvadas, uma fraqueza recorrente, os olhos pouco enxergavam mas acreditou que isso a claridade resolveria. Caminhou até o banheiro, fechou o armário sobre a pia que ainda estava aberto. Viu no espelho uma imagem sendo formada, não reconheceu. Uns poucos cabelos brancos que cobriam-lhe parcialmente a face, os olhos cansados, a pele seca e enrugada marcada com os inúmeros traços que a velhice lhe causou. O colo manchado e sem vida, as mãos disformes. Tocou o rosto na esperança de que fosse uma alucinação, um sonho ruim que ainda não terminara. Sentiu a realidade do toque e na mesma hora seu coração disparou.

“Não pode ser”, pensou.

Saiu do banheiro afobada e voltou para o quarto, e ouvindo as crianças que ainda gritavam foi de encontro à janela. Abriu parte dela e sentiu a luz do sol quase cegá-la, a cabeça despertando em dor, precisou de tempo até conseguir ver o que lá fora se passava. Não reconhecia nenhuma daquelas crianças, seus rostos estranhos, a falta de nomes, com certeza não eram suas.

Atravessou o quarto e foi até a sala, viu os móveis velhos e empoeirados. Sobre a escrivaninha, ao fundo, uma garrafa de vinho ainda pela metade. O cheiro de mofo machucou suas narinas e o cheiro de abandono machucou seu coração. Não havia mais ninguém ali, só ela. Procurou por sua família, imaginou que teria filhos, talvez netos, já que estava assim tão velha. Nenhum porta-retrato, nenhuma carta ou bilhete, nenhum traço de vida, o que só lhe permitia pensar que era mesmo sozinha. Ao lado da escrivaninha um outro espelho onde podia ver seu corpo inteiro, se colocou bem perto e de frente a ele. Não sabe quanto tempo ficou ali se vendo, nem quantas lágrimas rolaram.

“Como foi que isso aconteceu?”, falou.

E naquele momento se deu conta de que o tempo havia passado, não sabe como, mas havia... Não tinha lembranças, não realizara sonhos, não fora feliz.

“Como foi que eu deixei isso acontecer...?”, pensou.

Tarde demais para tentar entender o que se passou, agora só conseguia ver que não havia acordado a tempo, que a juventude lhe fora tomada e a saúde também, sem que sequer percebesse. Não conseguia pensar em mais nada, apenas, na vida que perdeu...
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Medo de Amar - por André Dametto

Quero
Imagino
Me aproximo
Deixo
Sinto
Desconfio
Racionalizo
Duvido
Comunico
Enlouqueço
Recomeço…
Medo de amar



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Trânsito no Rio - por Fatinha


Querido Brógui,

A segunda coisinha mais inútil (e previsível) do mundo é notícia acerca de como vai o trânsito na cidade. Só perde para aquelas previsões de final de ano feita por videntes.
Todo o santo dia, no horário de ida e de volta para o trabalho, em todas as rádios, ouço o repórter aéreo informar que a Radial Oeste está com o trânsito lento, por conta das obras no entorno do Maracanã. Há retenções na chegada à Praça da Bandeira e na altura dos Correios. O motorista também terá que ter paciência na Presidente Vargas na altura da Central do Brasil, na entrada para a Rio Branco e na Candelária. As obras de revitalização do Praça Mauá causam transtornos no viaduto da Perimetral e no Mergulhão da Praça XV, que está completamente engarrafado. Quem não é do Rio deve ter seus similares locais. Aliás e a propósito, desconfio mesmo da existência de um repórter aéreo diário. Deve ser tudo playback.
Não sei muito bem como funciona a cabeça de um engenheiro de tráfego (existe essa profissão?). Às vezes eles mandam uma bola dentro, como no caso das seletivas para ônibus. Cada macaco no seu galho, protegendo os pobres motoristas de carro particular das investidas dos motoristas de ônibus psicopatas. Outro dia fui perseguida por um deles, que conseguiu me dar três fechadas no curto espaço de um quarteirão. Estava o homicida em potencial em alta velocidade num horário que não dá pra passar de 20km/h, passando de uma faixa para a outra, espremendo todos os carros que se atrevessem a dividir a rua com ele. Um louco assassino. Queria eu ser tão louca como ele pra não desviar um milímetro e deixar bater. Mas como meu dinheiro não é capim e além disso eu iria causar mais um engarrafamento…
Se você pensa que com o carro parado minoram as chances de ser abalroado por um coletivo, engana-se. Redondamente. Quase tive um treco quando vi o retrovisor do meu veículo todo ralado. Provavelmente o motorista do ônibus resolveu verificar na prática se dois corpos conseguem ou não ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Não conseguiram.
Percebo também que, no mais das vezes, o que causa os malditos engarrafamentos não são as obras, nem acidentes, nem o excesso de veículos nas ruas, mas a mais pura e simples falta de educação e civilidade. Fechar cruzamento é um clássico. Costurar pra lá e pra cá como se isso fizesse alguma diferença, é outro. Todas as vezes lembro daquele desenho animado do Pateta motorista. Lembram? Quando ele entrava no carro, se transfigurava, virava um monstro? É a pura realidade. Quem não lembra, ou nunca viu, coloquei o link no “Fatinha viu e gostou” (Mr Walker e Mr Wheeler).
Beijocas, fique em paz.

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Ensaios Pra Quê? - por Andrea Custodio

Definitivamente as pessoas ainda pensam que a vida é apenas um ensaio e que dia após dia temos que decorar nosso texto, pensando que um dia possamos exibi-lo com toda a perfeição, mas... lamento informar que é pura ilusão, e que talvez o dia da estreia nunca chegue, porque o mundo está cheio de pessoas covardes que nunca irão estrear, nunca terão coragem de sair de trás das cortinas e aparecer com suas imperfeições à frente do palco.

“O teatro é uma forma de manifestação artística em que uma história e seu contexto se fazem reais e verídicos pela montagem de um cenário e a representação de atores em um palco, para um público de espectadores.”

Esse é o conceito real, porém nossas vidas devem estrear todos os dias, mesmo que não haja texto decorado, mesmo que não haja cenário, mesmo que não exista um diretor, muito menos plateia, precisamos nos inventar seja com melodrama, comédia, farsa, pantomina, moralidade, romance e apenas seguirmos nosso “script”, e nos sentirmos os protagonistas de nossas histórias, e nunca os coadjuvantes.

Cada dia que vivemos, devemos expressar nossas mínimas ações e expressões, transmitir nosso significado mais intenso, criar nosso próprio cenário, nossa trilha sonora, e tudo aquilo que nos enche de satisfação e orgulho de nós mesmos.

Ensaios? Para quê? Somos totalmente capazes de estrearmos nossa mais linda peça, apenas guiados por nosso coração, e emocionar quem quer que esteja por perto, e no final ainda sermos aplaudidos.

Seja autor(a) da sua própria história, eu sou da minha, sem edições, e você???


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Sobre Pessoas Econômicas - por Ana Maria Guimarães Ferreira

Antigamente eu acreditava que pessoas econômicas só fossem aquelas que economizam dinheiro, nada mais.
Contudo com o tempo aprendi, convivendo com tanta gente que passou pela minha vida, que as pessoas podem ser econômicas de carinho, de palavras, de sorrisos, de tudo, até de luto.
Tem aquelas pessoas que escrevem em uma linha e querem que a gente consiga entender toda uma vida às vezes numa única frase.
Não quero dizer que gosto de pessoas prolixas.
Não! não é isso.
Falo daqueles que parecem ter preguiça de usar os dedos no teclado, a cabeça para pensar, a mente para usar…
Outras, são tão econômicas que beijam de leve rapidinho como se fosse uma borboleta que roçou no seu rosto e quando você percebeu ela já tinha ido…
Existem pessoas que mandam e-mails tão curtos que você acha que no teclado do computador delas estão faltando letras e por isso elas economizam tanto…
E os economizadores de sorriso? Já conheceu algum? ele ri pela metade. É como se fosse rir e de repente parasse. O sorriso fica assim no meio do nada, desconcertado, inquieto, incerto.
O econômico de afetividade é assim, um meio sorriso, um abraço pela metade, um carinho pairando no ar mas que nunca chega em você, uma ligação onde só se ouve o alô e ela cai, o abraço que vinha e desistiu no caminho…
Porque será que as pessoas estão assim? Será que é reflexo da bolsa americana? da quebra dos bancos? do medo? da insegurança? do amanhã?
E pensar que quanto mais você dá, mais você recebe. Talvez seja isso… As pessoas econômicas dão menos porque não querem receber muito.
No skype elas aparecem sempre como ocupadas, no msn off line e na vida ocupadas demais para se dar aos outros.
Existem até os econômicos do luto: choram por segundos e param em minutos…
Sofrem por minutos e esquecem num segundo…
Ah…. que coisa sou tão perdulária nos meus abraços, nos meus carinhos, nos meus afagos, na minha saudade, na minha dor e no meu luto….
Sou perdulária na minha forma de ser, de me dar, de receber.
Efetivamente não nasci para ser miserável no amor…
Descobri que nas letras e no afeto eu sou gastadora, perdulária, incontida, irreverente sou assim gente como a gente.

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Sorrateira - por Ana Lucia Timotheo da Costa

Ajeitou a cadeira
como a esperar
um convidado de honra.
Como estava precisando!
Dias se passaram
mas ela não arrefeceu.
Tinha a intuição de que
era questão de tempo.
Começou a modificar-se.
O primeiro passo
foi consentir-se
abrir as portas
da esperança.
Um dia, quando menos esperava,
lá estava ela – clara, concreta,
palpável, ao alcance da mão.
Emocionou-se.
Aos poucos foi se entregando
e agradecendo.
Sabia que a sorte
chegara para coroar a sua vida
trazendo mudanças.
Há tempo certo para tudo.
Importante é nunca deixar de sonhar…


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