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(Aviso: Os textos em amarelo pertencem à categoria
Eróticos.)




terça-feira, 14 de abril de 2015

EXISTÊNCIA

Ser poeta é pensar poeticamente em tudo que se vê.
Ouvir o barulho dos pratos estilhaçando
e o tilintar dos talheres
caindo no chão e se espalhando.

Ser poeta é ocupar o pensamento
com todos os apelos visuais e sonoros
para transformá-los em versos
impressos a sangue, suor e outros fluidos.
É dizer o que se espera quebrando o esquema,
mudando o desenlace e improvisando o desfecho.
É fingir tão completamente que,
como dizia Pessoa,
"chega a fingir que é dor a dor que deveras sente".
É ser tão verdadeiro nas mentiras
que a própria verdade se envergonhe
de sua nudez e crueza.
É expor-se tão inacreditavelmente
que ninguém se atreva a invadir a sua publicidade.
É não fazer marketing, nem propaganda,
mas espalhar-se como o amor, boca a boca.
É ser, mais do que estar;
é partir mais do que ficar;
é sentir, mais do que existir.

Ser poeta é complicar o resumo da história,
tirar da pedra a sua essência
e gritar na praia, mais alto do que o mar.
É ter areia nos olhos e, mesmo assim, enxergar;
abrir os braços ao vento como se fosse voar.
É voar em pensamento e, ao cair, se estatelar.
Ser viajante no universo,
mas tripulante ao invés de passageiro.
É eternizar cada instante,
seja falso ou verdadeiro.
É deflagrar revoluções,
andar pra trás pra avançar.
É pegar uma cadeira e se sentar;
é ter tudo diante de si, sobre a mesa,
em frente a um papel branco.
É ficar tonto ante as palavras revoluteando em sua mente
e desmaiar,
inédito de espanto.


[Adhemar - S. Paulo, 28/11/2004]