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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Oferenda - por Clarice A.

Vivia perto do mar e ia com frequência, geralmente à tarde, não para banhar-se mas para sentar-se na areia e perder o olhar na linha do horizonte ouvindo as ondas que quebravam suavemente nos seus pés. Ficava afastada das outras pessoas porque tinha adquirido um hábito de conversar com o mar em voz alta, fizera dele seu confidente e contava-lhe as coisas de sua vida, coisas boas e principalmente coisas mais íntimas que não gostaria de contar a outras pessoas. Eram as melhores horas do seu dia e saía dali renovada.
Num desses dias de contemplação e confidências notou bem próxima a ela uma garrafa com algo dentro. Recolheu-a e viu que era um papel dentro da garrafa. Seria uma mensagem? Um pedido de socorro? Levou-a para casa, quebrou a garrafa e abriu o papel que estava um pouco amassado mas bem legível, a caligrafia parecia de homem embora seja difícil precisar isto. Era uma carta. Começou a ler:
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AO MEU AMOR
........Amo-te a cada dia mais e sinto imensamente a tua falta. O teu corpo já é parte do meu. A tua voz, o teu sorriso e o teu olhar me acompanharão por todo o tempo que eu viver. A tua lembrança faz as horas passarem mais rápido porque sei que em breve estaremos juntos vivendo o que de melhor temos em nossas vidas: o nosso amor. Pensar em ti é o meu alimento e o meu descanso, amar-te e ser amado por ti é a razão da minha vida. Sinto falta do teu aconchego, tuas mãos acariciando os meus cabelos enquanto contas como foi teu dia e ouves atenta como foi o meu.
........Breve nos reencontraremos. Beijo tuas mãos, teus olhos e tua boca com todo o amor que sou capaz de amar.
..........DO TEU AMOR
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Uma carta de amor! Mas uma carta sem nome de destinatário ou remetente? Era um amor real ou pretendido, apenas sonhado? Escrita talvez para espantar a solidão? E existirá um amor assim para toda a vida? Perguntas para as quais jamais terá respostas. Ela apaixonou-se várias vezes, casou, separou, e por uma vez achou que seria para sempre, mas acabou. Um amor assim é matéria para romances literários.
Quem sabe ele seria um homem do mar? As viagens e a distância, o combustível inesgotável deste amor. O cotidiano costuma minar o amor. Por outro lado, a distância também não afasta, propiciando novos encontros? O que faz um amor resistir a tudo? Mais perguntas, imprecisas respostas.
A carta a tirou do estado letárgico em que se encontrava. Estava entrando em terreno perigoso, da desilusão, desinteresse e melancolia com uma frequência já preocupante.
Precisa contar ao mar sobre a carta, espera ansiosa pelo entardecer e quando a tarde enfim chega dirige-se para a praia. Como se aguardasse uma boa notícia e tivesse se preparado para ela, o mar tem o tom de verde que ela mais gosta. Aproxima-se até que a água toque seus pés, conta-lhe da carta, começa a ler e, naquele instante, com a luminosidade natural que ainda resta, ouve sua própria voz falando docemente palavras de amor. As palavras parecem tomar seu corpo e sua mente e ela entende que vive um momento especial. Está em outra frequência, sintonizada no amor. Entrega-se àquele momento, não procura explicações metafísicas ou transcendentais, também não se limita às suas crenças. Apropria-se da carta, aquela carta de amor é para ela. Agradece a Netuno, rei dos mares, e à Iemanjá, rainha das águas, a oferenda que recebeu deles. Sim, fez a via inversa, recebeu uma oferenda. A oferenda pressupõe uma oferta por uma boa causa. Recebe dos deuses a mensagem de que para amar é preciso estar em sintonia com o amor, e o amor, isto ela sabe, é múltiplo, de vários tipos e várias intensidades. E embora tudo indique o contrário, confia que o amor será a nossa estrela guia, de preferência já, neste novo milênio.
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4 comentários:

_Gio_ disse...

Vou espalhar garrafas com cartas de amor pela praia, e rezar para que cheguem aos corações mais frios e machucados. Quem sabe o mundo começa a valorizar o amor de novo...

Clarice A. disse...

Boa idéia Gio.

Ana disse...

Gio:
Sabe que desde a adolescência eu penso em fazer isso? Acho o maior barato! Será que ainda farei isto? Vou reviver a vontade pra ver no que vai dar...
:)

Ana disse...

Clarice:
Como sempre, um texto lindo e inesperado! Muito, muito lindo! ADOREI!!!!
Beijo.