“A Metamorfose” é uma profunda dor, é uma angústia
desesperadora que se arrasta por páginas de tristeza e inexorabilidade. Não há saída, não há escolha, apenas uma
aterradora constatação: Gregor Samsa tornou-se um inseto. Repugnante, indesejável... um inseto. Repudiado pela família, envergonhado em sua
natureza, apavorado com a possibilidade de contato social, ele é a cada dia
mais e mais esmagado por sua nova condição.
É um livro que fala sobre a dificuldade de se viver
a diferença. Sendo uma diferença
pejorativa, então, é alvo de incompreensão, agressões, isolamento, podendo
chegar ao exílio (imposto por si mesmo ou pelos demais). Fala da impossibilidade de se lutar contra a
natureza (mesmo que seja esta fantástica de Kafka) que nos aprisiona
vitaliciamente. Fala das relações
condicionadas pela aparência, pela igualdade física, pela semelhança, pela
capacidade produtiva; relações que se dissipam diante do que é estranho,
desigual, improdutivo. Fala da
vulnerabilidade diante dos outros, dos olhares externos que determinam a sua
vontade de manter ou abandonar a vida. Fala
da feiura do ser humano, os não-metamorfoseados, aquela feiura interna, irmã da
insensibilidade, do desprezo, da violência.
É um livro sobre o esgoto humano, que apenas inicia
uma reflexão sobre o que existe de pior no ser humano, pois não a esgota.
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