Vivemos juntos há anos. Já fomos mais que irmãos, já fomos amantes, já fomos muito amigos, já fomos confidentes. Houve um tempo em que nós éramos um: a mesma forma de pensar; todos os medos expostos, você sempre buscando meu colo, se aconchegando no meu ombro para contar suas desventuras e seus dias; as noites em claro entre sorrisos e lembranças; as refeições temperadas a reflexões, divagações e análises existenciais.
Hoje continuamos aqui, juntos, mas somos dois. Eu sempre no escritório, você na cozinha. Ouvimos músicas diferentes; não assistimos aos mesmos programas; os relatos de seus dias são curtos; meu colo não te abriga mais; seus medos (se é que os tem), você os enfrenta sozinha; meu ombro está esquecido, apenas se curvando cada vez mais facilmente ao peso dos dias; as noites são de sono escuro e silencioso; as refeições são acompanhadas pelas notícias dos telejornais, que nem comentamos, pois refletem, monocordicamente, este mundo errado em que vivemos.
Então eu me pergunto e te pergunto: será que já nos conhecemos tanto e equilibramos tão bem dentro deste estado humano, que as palavras não são mais necessárias; ou será que, em algum momento de nossa jornada, sem sentir, nós nos abandonamos?
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Hoje continuamos aqui, juntos, mas somos dois. Eu sempre no escritório, você na cozinha. Ouvimos músicas diferentes; não assistimos aos mesmos programas; os relatos de seus dias são curtos; meu colo não te abriga mais; seus medos (se é que os tem), você os enfrenta sozinha; meu ombro está esquecido, apenas se curvando cada vez mais facilmente ao peso dos dias; as noites são de sono escuro e silencioso; as refeições são acompanhadas pelas notícias dos telejornais, que nem comentamos, pois refletem, monocordicamente, este mundo errado em que vivemos.
Então eu me pergunto e te pergunto: será que já nos conhecemos tanto e equilibramos tão bem dentro deste estado humano, que as palavras não são mais necessárias; ou será que, em algum momento de nossa jornada, sem sentir, nós nos abandonamos?
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Um comentário:
Eu também me pergunto: será que o amor se transforma em um costume? Será que o abandono voluntário é amor estacionado à espera de novidade? Belíssima a sua crônica, Aaron! Paz e bem.
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