Abandonados estamos de nós mesmos. Quantos de nós ainda nos olhamos com aqueles olhos benevolentes da descoberta? Quantos de nós, tomam conta do corpo, dos pensamentos... Quantos de nós se dedicam a si mesmos, como pessoa, única e exclusivamente. Não sei se por medo de ir fundo nas descobertas talvez desagradáveis que compõem até o ser mais preparado, ou mesmo se por desleixo por se considerar já pronto ou, apenas, por ter que cuidar da sobrevivência.
O que sei é que o abandono de nós mesmos já se dá desde muito cedo, quando abrimos mão de nossos mais ínfimos desejos em prol de outros, seja da sociedade que nos rodeia ou da própria família que nos exige cada dia mais concessões.
Estou aqui na janela do meu quarto e acabo de levantar. Em frente a minha janela, o pátio de garagem do prédio vizinho. São apenas seis horas da manhã, mas dois meninos gêmeos, de apenas sete anos, acompanham e são puxados pela mãe para o carro e mostram visivelmente que preferiam estar na cama sonhando sonhos azuis.
A mãe, ao mesmo tempo em que os força a entrar no carro com uma das mãos, com a outra penteia freneticamente os cabelos.
Dois tipos de abandono: o da mãe por si mesma em fazer valer sua sobrevivência e o dos meninos em deixar pra trás seus primeiros desejos de dormir e sonhar.
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Um comentário:
Como sempre, muito legal seu olhar para o mundo. Gostei de sua crônica e, principalmente, do título.
Beijo.
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