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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Post Inesquecível do Duelos - Indicado por Ana

Bem, não é segredo que sou fã do Leandro. E este poema demonstra o porquê. Você está fazendo falta por aqui, filósofo-poeta!
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O SAL DA VIDA
(LEANDRO M. DE OLIVEIRA)

Escuta que quero te falar em segredo
Escuta bem, quero falar baixo,
Porque o sussurro é tão mais belo que o grito
E a palavra dita com cuidado mais esmerada.
Ouve e guarda como um selo o que te digo.
Guarda em teu lembrar somente,
Porque o que direi não mudará nada,
Sequer a mim.
Escuta meu silêncio de planície,
Minhas mãos desertas, meu sonho perdido...
Nunca se muda aquilo que não se permitiu mudar.
Escravo caí de joelhos ante a rocha silenciosa
O oráculo hediondo se me afigurou,
E eu me vi moço e eu me vi desesperado.
Tempo tem seu próprio tempo,
E o tempo do tempo foi veloz demais
Para nosso passo vacilante.

Escuta as rugas de minha alma
Elas são vales e rios, montanhas e planícies.
Quero teu amor suicida!
Amor que se mata e torna a viver
E torna a sofrer e a morrer d’enganos.
Porque sob minhas asas
Não houve acomodação à tua dor,
E agora em meus olhos não há espaço
Senão para o teu vulto sorrateiro.

*********

Ignora minhas palavras, o verbo confunde.
Eu falo do que não foi vivido ou do que tenha sido há tanto,
Que não foi possível nenhuma sinapse de lembrança.
Aguarda no silêncio das colinas sombrias,
No oco das cavernas que somos nós.
Quero escavar a terra com os dentes,
Tragar o mar com minha boca e estômago,
Quero estuprar o útero da terra
Pra que eu a veja renascer dele.
Minha memória é uma nau perdida
A navegar oceanos de tempo e espaço.

Minhas velas desfraldadas
Buscam a esmo teu norte,
Minha boca de pasmo e exaustão
Já não sabe dizer o teu nome.

*********

Agora que tudo se perdeu em nós
O mundo soa remoto,
O ar soa espesso.
Se eu fosse um cão
Talvez teria mais afeições com a vida.
Mas sou homem
E dessa deficiência estou fadado.
Minha eterna amiga,
Meu corpo sem vida,
Minha vida sem termo.
Embora o mundo seja desfigurado
Ante o espelho, comigo sempre estás...

Escuta minhas palavras que não querem eco
Além do silêncio de tua ausência.
Escuta como a canção mais elevada
Como a dor de homem que homem não quer ser,
Como um beijo de fúria em teu peito
Resoluto.
Que essas palavras não valem nada,
Que essas palavras valem tudo.
Elas são o sal da língua
A semente da vida nova.
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Dedicado à minha grande amiga, dizem que partiu no dia 27 do último mês.
Mas como pode estar ausente, se está dentro de mim? Não sei se posso crer na morte
quando ainda existe tanta vida. Penélope, foi rápido demais... A você os meus carinhos
e as minhas alegrias perdidas. Te encontro breve, te encontro sempre...
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Postado, originalmente, em 08/07/09.
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Um comentário:

Ana disse...

Leandro:
Fui ao seu blog e escrevi a seguinte mensagem:
"Leandro, olá. Vim aqui te ler mais uma vez, pois senti falta de você lá no Duelos. Tanta tanta que indiquei um post seu sobre Morte para o Tema do Mês. Reli-o lá e reencontrei-o cá. Sempre uma viagem, sempre um mergulho, sempre um abismo. Seguimos em hipnose suas "letrilhas" e o mundo desaba a cada passo. Magnifíco este post. Volta ao Duelos, Leandro..."
Quando ia assinar Ana (Fã), vi que tinha que ter conta do google... Então deixo aqui a mensagem, desejando inspiradíssimo 2011 para você!
Um abraço.