Para o tema Abandono, nada mais forte e significativo do que esta poesia que nos traz a perplexidade diante da realidade atual. Perplexidade esta que deve se tornar ação, até que estes fatos não passem de lembranças más.
O HOMEM NO LIXO
(ANA)
Ontem, andando na rua,
Vi um homem adormecido
No meio de sacos plásticos.
A sua cama era o lixo.
Parei ao olhar praquilo,
Olhei e tudo parou...
Sequestrou-me o inusitado,
Minha cabeça pirou.
É o cimento da calçada?
O lixo é mais confortável?
Os sacos são travesseiros?
Mas... e o cheiro insuportável?
Eu não entendia niente,
Os neurônios não agiam,
Não enxergava mais nada,
Os meus pés não se moviam.
Não havia mais trabalho,
Ponto a bater, o horário,
Chefia, clientes, agenda,
Desconto no meu salário.
Éramos eles e eu:
Homem, lixo, catatonia,
Sono, sujeira, susto,
Cansaço, imundície, agonia.
Um esbarrão me acordou
Do estado de letargia,
Consegui dar alguns passos
Em direção ao meu dia
Que agora não era meu,
Era deles totalmente:
Mais que imagem, uma verdade
Paralisando a minha mente.
Fui zumbi até a noite
Na hora em que fui dormir.
Fui arrumando a cama,
Mas parei pra refletir.
Sentei no chão contra a parede,
Relembrando aquela cena:
O sono profundo e calmo
Numa face tão serena...
Ele teria bebido,
Tanto que nem percebeu
Onde descansava o corpo
Em uma noite de breu?
Pensei: só pode ser isso...
Ele estava sem noção,
Dormiu sem ter consciência,
Não agiu por opção.
Então eu dormi tranquila...
Não foi algo voluntário...
Ninguém agiria assim
De modo tão temerário...
Então, na manhã seguinte,
Me arrumei, comi, saí,
Me dirigi ao trabalho,
Nem pensava no que vi.
Até que, no mesmo local,
Não cri no que o olhar via:
No mesmo lixo de ontem
Uma família dormia.
.
.
.
O HOMEM NO LIXO
(ANA)
Ontem, andando na rua,
Vi um homem adormecido
No meio de sacos plásticos.
A sua cama era o lixo.
Parei ao olhar praquilo,
Olhei e tudo parou...
Sequestrou-me o inusitado,
Minha cabeça pirou.
É o cimento da calçada?
O lixo é mais confortável?
Os sacos são travesseiros?
Mas... e o cheiro insuportável?
Eu não entendia niente,
Os neurônios não agiam,
Não enxergava mais nada,
Os meus pés não se moviam.
Não havia mais trabalho,
Ponto a bater, o horário,
Chefia, clientes, agenda,
Desconto no meu salário.
Éramos eles e eu:
Homem, lixo, catatonia,
Sono, sujeira, susto,
Cansaço, imundície, agonia.
Um esbarrão me acordou
Do estado de letargia,
Consegui dar alguns passos
Em direção ao meu dia
Que agora não era meu,
Era deles totalmente:
Mais que imagem, uma verdade
Paralisando a minha mente.
Fui zumbi até a noite
Na hora em que fui dormir.
Fui arrumando a cama,
Mas parei pra refletir.
Sentei no chão contra a parede,
Relembrando aquela cena:
O sono profundo e calmo
Numa face tão serena...
Ele teria bebido,
Tanto que nem percebeu
Onde descansava o corpo
Em uma noite de breu?
Pensei: só pode ser isso...
Ele estava sem noção,
Dormiu sem ter consciência,
Não agiu por opção.
Então eu dormi tranquila...
Não foi algo voluntário...
Ninguém agiria assim
De modo tão temerário...
Então, na manhã seguinte,
Me arrumei, comi, saí,
Me dirigi ao trabalho,
Nem pensava no que vi.
Até que, no mesmo local,
Não cri no que o olhar via:
No mesmo lixo de ontem
Uma família dormia.
.
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.
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3 comentários:
Ana, seu poema, mais que somente beleza é um grito à consciência. Chega a emocionar. Lindo, lindo, lindo! Paz e bem.
Soraya:
É com muita emoção que agradeço sua lembrança. Snif, snif...
Beijos, futura oponente.
Cacá:
Puxa... Muito obrigada mesmo!
Emocionada fiquei eu, agora...
Snif, snif pra você também... rsrsrs
Um abraço.
:)
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