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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Abandono - por Edlúcia Ster

Brasil, 1914. Missionários salesianos chegam à Amazônia. Arrogam-se o direito de achar obscenos os corpos nus dos índios. Colocam roupas neles, sequestram as almas deles, apropriam-se da mente deles. Lançam sobre eles olhares que poluem, que transformam beleza em lascívia, pureza em pecado. Desde a chegada daqueles de além-mar, estamos à deriva, abandonados à nossa própria sorte. Foi catequese de um lado, escravidão de outro...
Abandonar a carne, tradução do termo latino que deu origem à palavra “carnaval”. Depois o significado seria invertido: abandonar-se à carne. Ou comer vorazmente a carne? Mergulhar na carne? Afundar-se na carne? Estar faminto como o carnaval que a todos devora? Devoramos carne, dia após dia: a carne exposta na violência, na sexualidade desenfreada (esvaziada, reduzida, simplificada, empobrecida, dessignificada)...
Abandonamos nós mesmos, abandonamos o outro. Colha o abandono: adote uma flor, um arco-íris, uma criança...



Visitem Edlúcia Ster
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Um comentário:

Ana disse...

É, Edlúcia... Neste texto você abarcou várias faces do abandono... Muitas coisas para refletir... Muito bom!
Seja super bem-vinda! Apareça mais por aqui!
Beijo!