Sentado ali via aquele pequeno aviãozinho se movimentar nos céus manchados da cidade grande. Bolhas e pequenos rastros. Tudo estava ali parado disjunto e sem qualquer significação. E ali, sentado a olhar.
Olhar sempre me apareceu como estratégia. Tinha inveja dos autistas. Confesso-lhes que ainda a tenho em outras proporções. Sempre que podia exercitava o meu talento nato de olhar e me tornar alheio ao mundo. Mesquinhez que as pessoas têm de ser feliz. Mania atestada e abestalhada de querer coisas só pra poder querer mais depois. Eu não. Ali enquanto olhava com meus olhos de meninices – nunca entendi bem esse termo, mas meu avô sempre dizia: “pare de meninice” – e me tornava ausente, matutava com meus botões, não aqueles botões de ligar e desligar as coisas, aqueles botões que a gente tem dentro da cabeça, e que liga alguma coisa do cérebro e se desliga sozinho quando a gente dorme, sabe como é? Pois sim, estava eu com meus botõezinhos cerebrais tentando entender porque se perde tanto tempo reproduzindo alguma coisa. Sempre quando eu parava pra brincar com minhas coisas imaginárias, tinha alguém pra dizer “esse menino vai ficando maluco, coisa besta de enxergar ‘trens’ que não existem”. Nem sabem eles que tenho medo de trem. Nunca inventei um trem. Inventava outras coisas que já existiam. Inventava dentro da minha cabeça e quando eu tirava de lá ficava lindo, eram sempre perfeitas as minhas invenções. Parecia maluquice de criança, mas não era não. Eu enxergava, sentia e dava vida a todas as minhas invenções. E elas eram minhas, só minhas. Nunca gostei muito dessas coisas de compartilhar.
Quando eu inventava coisas que já existiam, as pessoas achavam maluquice, mas quando as pessoas perdiam seu tempo inventando coisas que já existiam, era coisa de gênio. Avião... Rum... Jeitinho mais feio de imaginar um pássaro grande. E se eu inventar um avião? Nunca que ele vai ser feio e malfeito daquele jeito. Não invento aviões não, prefiro inventar outras coisas. Certa vez inventei um barquinho. Chamo de barquinho por que era barquinho mesmo. Era cara de barquinho de papel que se parece com chapéu de soldadinho de chumbo, mas inventei-o pra me caber dentro e andar devagar sobre as coisas. Nada de avião: nem de papel, nem de nada. Até os de papel são rápidos demais, aí não dava pra olhar as coisas direito. E como sou um olhador nato, não gosto de inventar coisas que não me deixem olhar direito. Avião é pra gente grande, não pra gente alheia. Talvez eu tenha medo de avião, mas não é medo de cair não. É medo de coisa rápida mesmo. Igual trem. Se a gente se põe a correr, tem sempre alguém que vem atrás pra entender por que, mas se você fica quietinho? Ninguém mexe. Não mexe mesmo. Gente quietinha assusta outras gentes. Eu sei como que é, sempre fiz isso...
Continua...
Olhar sempre me apareceu como estratégia. Tinha inveja dos autistas. Confesso-lhes que ainda a tenho em outras proporções. Sempre que podia exercitava o meu talento nato de olhar e me tornar alheio ao mundo. Mesquinhez que as pessoas têm de ser feliz. Mania atestada e abestalhada de querer coisas só pra poder querer mais depois. Eu não. Ali enquanto olhava com meus olhos de meninices – nunca entendi bem esse termo, mas meu avô sempre dizia: “pare de meninice” – e me tornava ausente, matutava com meus botões, não aqueles botões de ligar e desligar as coisas, aqueles botões que a gente tem dentro da cabeça, e que liga alguma coisa do cérebro e se desliga sozinho quando a gente dorme, sabe como é? Pois sim, estava eu com meus botõezinhos cerebrais tentando entender porque se perde tanto tempo reproduzindo alguma coisa. Sempre quando eu parava pra brincar com minhas coisas imaginárias, tinha alguém pra dizer “esse menino vai ficando maluco, coisa besta de enxergar ‘trens’ que não existem”. Nem sabem eles que tenho medo de trem. Nunca inventei um trem. Inventava outras coisas que já existiam. Inventava dentro da minha cabeça e quando eu tirava de lá ficava lindo, eram sempre perfeitas as minhas invenções. Parecia maluquice de criança, mas não era não. Eu enxergava, sentia e dava vida a todas as minhas invenções. E elas eram minhas, só minhas. Nunca gostei muito dessas coisas de compartilhar.
Quando eu inventava coisas que já existiam, as pessoas achavam maluquice, mas quando as pessoas perdiam seu tempo inventando coisas que já existiam, era coisa de gênio. Avião... Rum... Jeitinho mais feio de imaginar um pássaro grande. E se eu inventar um avião? Nunca que ele vai ser feio e malfeito daquele jeito. Não invento aviões não, prefiro inventar outras coisas. Certa vez inventei um barquinho. Chamo de barquinho por que era barquinho mesmo. Era cara de barquinho de papel que se parece com chapéu de soldadinho de chumbo, mas inventei-o pra me caber dentro e andar devagar sobre as coisas. Nada de avião: nem de papel, nem de nada. Até os de papel são rápidos demais, aí não dava pra olhar as coisas direito. E como sou um olhador nato, não gosto de inventar coisas que não me deixem olhar direito. Avião é pra gente grande, não pra gente alheia. Talvez eu tenha medo de avião, mas não é medo de cair não. É medo de coisa rápida mesmo. Igual trem. Se a gente se põe a correr, tem sempre alguém que vem atrás pra entender por que, mas se você fica quietinho? Ninguém mexe. Não mexe mesmo. Gente quietinha assusta outras gentes. Eu sei como que é, sempre fiz isso...
Continua...
Visitem Laila Braga
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2 comentários:
Laila:
Você é demais! Muito bom! Adorei ler! Mas... e a continuação? Fiquei até triste... rsrs
Beijo.
Ah, Laila...
Libera aqui também...
Beijos.
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