“Você ligou para a casa da família Souza. Se quiser falar com o Dr. Paulo, ligue para 3335-0102 ou para 5554-0203 ap. 74. Obrigado”. Que estranho, pensou Marília, o que será apartamento 74?
E, como num filme, viu claramente aquela reunião no hospital, uns 15 anos atrás.
Já trabalhava lá há 3 anos, após ter se formado com louvor na Faculdade de Medicina. Era apaixonada pelo que fazia e sua vida era o hospital e o hospital; nada mais...
Esguia, pele clara e cabelos castanhos curtos ondulados que, volta e meia, caíam sobre os grandes olhos verdes amendoados; era muito bonita, mas passava desapercebida pelo modo despojado de se vestir.
Apesar de estar concentrada e atenta a tudo que estava acontecendo, quando ele entrou, seu coração começou a bater mais forte e descompassado. O que era aquilo?? Nunca havia experimentado nada parecido, nem mesmo quando namorou um colega da faculdade que era completamente louco por ela.
Alto, pele morena e cabelos escuros bem cortados que realçavam os olhos pretos e os lábios finos; era muito bonito e por onde passasse chamava a atenção. Não deixou de notar aqueles olhos verdes observando-o.
Já na primeira troca de olhares, podia-se detectar um magnetismo e uma atração imensa entre os dois. Não foi necessário muito tempo e já estavam conversando animadamente.
Paulo era um advogado conceituado, sócio de um dos maiores escritórios de advocacia da cidade, e estava ali a convite de um amigo médico que queria uma opinião jurídica sobre um projeto ambicioso de saúde do hospital.
Marília e Paulo começaram a sair e logo já estavam falando em casamento. Apesar de viverem em mundos totalmente diferentes, o amor era tanto que desculpava a falta de tempo, os atrasos, os plantões e as constantes viagens de negócios.
Casaram-se e, como sempre acontece no início de um relacionamento, a vida ia passando e construindo uma rotina confortável e segura; Marília absorvida pelo trabalho no hospital e Paulo constantemente viajando para acompanhar os casos mais importantes do escritório. Vieram os filhos: um menino com os olhos verdes da mãe e uma menina com os olhos pretos do pai.
O tempo ia passando e o amor arrefecendo. Nem Marília nem Paulo se deram conta do que estava acontecendo.
Numa de suas viagens, Paulo conheceu uma advogada com quem teve bastante contato e muitas reuniões para avaliação de alguns casos que estavam sendo acompanhados pelos dois escritórios onde trabalhavam. Sônia, que se separara há um ano, estava carente e encontrou um ombro amigo em Paulo. Ele, que também estava carente, sentiu-se renovado ao ver que estava sendo muito importante para ela.
Certa vez, foi Sônia quem viajou para as reuniões com Paulo. Após uma delas, saíram para jantar e conversaram tanto que quando se deram conta, já era madrugada. No dia seguinte, quando acordaram, estavam no quarto de um flat, felizes, confusos, amedrontados, mas decididos: um não conseguiria mais viver sem o outro.
Paulo atravessou uma fase muito difícil em casa, tendo que inventar desculpas a toda hora, até que resolveu comprar um flat, onde se encontraria com Sônia e onde, com o tempo, passaria a viver definitivamente com ela.
Sabia que não teria coragem de enfrentar Marília para uma conversa sobre separação. Então, decidiu deixar uma mensagem na secretária eletrônica de sua casa onde mencionava o número de um apartamento – o seu flat com Sônia. Tinha esperança de que Marília, ao ligar para casa e ouvir o recado, ficasse intrigada e viesse conversar com ele. Aí, então, seria mais fácil explicar tudo para ela. Só que isso não acontecia e o tempo ia passando, impiedoso.
Por outro lado, Marília, acumulando o trabalho com o cuidado com os filhos, inconscientemente, ia se afastando cada vez mais.
Um dia, houve uma reunião no hospital para que o novo coordenador fosse apresentado ao corpo clínico. Marília estremeceu quando avistou seu primeiro amor de faculdade, Plínio, indo em direção ao palco. Quanto tempo!!! Ele continuava o mesmo: aqueles olhos azuis, aquele cabelo louro já com alguns fios brancos, aquela pele morena.
Após a apresentação, durante o coquetel, Plínio veio falar com ela. Foi como se o tempo não houvesse passado. Marília, sem se perceber carente, foi ficando íntima. Plínio, que não se casara e sempre alimentara a esperança de um dia reencontrar seu primeiro amor, acolheu aquela intimidade com prazer. Conversaram sem ver o tempo passar. Plínio levou Marília para casa e ficou de telefonar no dia seguinte. Encontraram-se no hospital para almoçar; saíram para jantar outras vezes e quando perceberam, estavam num motel amando-se como dois adolescentes. Marília ficou muito mal, sem saber o que fazer. Plínio, sabendo que o casamento dela já não existia realmente, insistiu que ela conversasse com o marido sobre separação. Marília sabia que não conseguiria encarar Paulo para uma conversa dessas.
Resolveu, então, que ligaria para casa deixando um recado evasivo, contando que Paulo, ao ouvir, achasse estranho e a procurasse. Aí ela explicaria a situação.
“Você ligou para a casa da família Souza. Se quiser falar com o Dr. Paulo, ligue para 3335-0102 ou para 5554-0203 ap. 74. Obrigado”
Que estranho, pensou Marília, o que será apartamento 74?
E, como num filme, viu claramente aquela reunião no hospital, uns 15 anos atrás.
Já trabalhava lá há 3 anos, após ter se formado com louvor na Faculdade de Medicina. Era apaixonada pelo que fazia e sua vida era o hospital e o hospital; nada mais...
Esguia, pele clara e cabelos castanhos curtos ondulados que, volta e meia, caíam sobre os grandes olhos verdes amendoados; era muito bonita, mas passava desapercebida pelo modo despojado de se vestir.
Apesar de estar concentrada e atenta a tudo que estava acontecendo, quando ele entrou, seu coração começou a bater mais forte e descompassado. O que era aquilo?? Nunca havia experimentado nada parecido, nem mesmo quando namorou um colega da faculdade que era completamente louco por ela.
Alto, pele morena e cabelos escuros bem cortados que realçavam os olhos pretos e os lábios finos; era muito bonito e por onde passasse chamava a atenção. Não deixou de notar aqueles olhos verdes observando-o.
Já na primeira troca de olhares, podia-se detectar um magnetismo e uma atração imensa entre os dois. Não foi necessário muito tempo e já estavam conversando animadamente.
Paulo era um advogado conceituado, sócio de um dos maiores escritórios de advocacia da cidade, e estava ali a convite de um amigo médico que queria uma opinião jurídica sobre um projeto ambicioso de saúde do hospital.
Marília e Paulo começaram a sair e logo já estavam falando em casamento. Apesar de viverem em mundos totalmente diferentes, o amor era tanto que desculpava a falta de tempo, os atrasos, os plantões e as constantes viagens de negócios.
Casaram-se e, como sempre acontece no início de um relacionamento, a vida ia passando e construindo uma rotina confortável e segura; Marília absorvida pelo trabalho no hospital e Paulo constantemente viajando para acompanhar os casos mais importantes do escritório. Vieram os filhos: um menino com os olhos verdes da mãe e uma menina com os olhos pretos do pai.
O tempo ia passando e o amor arrefecendo. Nem Marília nem Paulo se deram conta do que estava acontecendo.
Numa de suas viagens, Paulo conheceu uma advogada com quem teve bastante contato e muitas reuniões para avaliação de alguns casos que estavam sendo acompanhados pelos dois escritórios onde trabalhavam. Sônia, que se separara há um ano, estava carente e encontrou um ombro amigo em Paulo. Ele, que também estava carente, sentiu-se renovado ao ver que estava sendo muito importante para ela.
Certa vez, foi Sônia quem viajou para as reuniões com Paulo. Após uma delas, saíram para jantar e conversaram tanto que quando se deram conta, já era madrugada. No dia seguinte, quando acordaram, estavam no quarto de um flat, felizes, confusos, amedrontados, mas decididos: um não conseguiria mais viver sem o outro.
Paulo atravessou uma fase muito difícil em casa, tendo que inventar desculpas a toda hora, até que resolveu comprar um flat, onde se encontraria com Sônia e onde, com o tempo, passaria a viver definitivamente com ela.
Sabia que não teria coragem de enfrentar Marília para uma conversa sobre separação. Então, decidiu deixar uma mensagem na secretária eletrônica de sua casa onde mencionava o número de um apartamento – o seu flat com Sônia. Tinha esperança de que Marília, ao ligar para casa e ouvir o recado, ficasse intrigada e viesse conversar com ele. Aí, então, seria mais fácil explicar tudo para ela. Só que isso não acontecia e o tempo ia passando, impiedoso.
Por outro lado, Marília, acumulando o trabalho com o cuidado com os filhos, inconscientemente, ia se afastando cada vez mais.
Um dia, houve uma reunião no hospital para que o novo coordenador fosse apresentado ao corpo clínico. Marília estremeceu quando avistou seu primeiro amor de faculdade, Plínio, indo em direção ao palco. Quanto tempo!!! Ele continuava o mesmo: aqueles olhos azuis, aquele cabelo louro já com alguns fios brancos, aquela pele morena.
Após a apresentação, durante o coquetel, Plínio veio falar com ela. Foi como se o tempo não houvesse passado. Marília, sem se perceber carente, foi ficando íntima. Plínio, que não se casara e sempre alimentara a esperança de um dia reencontrar seu primeiro amor, acolheu aquela intimidade com prazer. Conversaram sem ver o tempo passar. Plínio levou Marília para casa e ficou de telefonar no dia seguinte. Encontraram-se no hospital para almoçar; saíram para jantar outras vezes e quando perceberam, estavam num motel amando-se como dois adolescentes. Marília ficou muito mal, sem saber o que fazer. Plínio, sabendo que o casamento dela já não existia realmente, insistiu que ela conversasse com o marido sobre separação. Marília sabia que não conseguiria encarar Paulo para uma conversa dessas.
Resolveu, então, que ligaria para casa deixando um recado evasivo, contando que Paulo, ao ouvir, achasse estranho e a procurasse. Aí ela explicaria a situação.
“Você ligou para a casa da família Souza. Se quiser falar com o Dr. Paulo, ligue para 3335-0102 ou para 5554-0203 ap. 74. Obrigado”
Que estranho, pensou Marília, o que será apartamento 74?
Visitem Daisy
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2 comentários:
Dayse,
Gostei muitíssimo. Final surpreendente. Beijo.
Muito bom mesmo, né, Alba?
Adorei, Daisy! Demais! Por sinal, adoro o que você escreve! Pena que você apareça tão pouco por aqui...
Beijo!
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