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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os Meninos e as Pipas - por Adir Vieira

Da varanda de minha casa vejo um grupo de meninos, uns crianças ainda, outros bem maiores, em cima de uma laje, num burburinho e agitação que me prende a atenção. É distante, mas aquele grupo de pelo menos dez, agita minha curiosidade. Busco um binóculo de longo alcance e posso observar o vaivém ritmado do trabalho grupal na confecção de pipas ou, como alguns dizem, papagaios. Uns cortam bambus de vários tamanhos, outros enceram os mesmos pedaços de pau, outros preparam as armações, outros separam folhas de papel colorido por tonalidade, outros recortam esses mesmos papéis, outros imprimem desenhos por sobre as folhas, outros colam e arrematam sobras de papéis que envolvem as armações. Lá no fundo, um deles fabrica as rabiolas. São papéis ondulados que, fixos no chão, dançam ao mexer das mãos daquele menino. Fico ali, presa e obcecada por aquela fábrica de sonhos. É verão e os céus começam a exibir aquelas formas coloridas em duelo. A correria das crianças para obter aquelas "voadas" em virtude de cerol mais agressivo do mais esperto pode ser vista por todo o bairro. Não temem os choques elétricos quando tentam resgatar a linha presa aos postes, não temem os carros quando atravessam a via pública e seu olhar está sempre no alto, seja nos movimentos alucinantes para fazê-la voar, seja no percurso que a "voada" fará. Assim, por mais uns três dias sigo aquela fábrica de sonhos e constato que aqueles que fazem não brincam com o objeto de sua produção. Remonto, com esta observação, a um passado não muito longínquo e vejo meu irmão repetindo aqueles mesmos gestos, aos quinze anos, quando fabricava pipas sentado no chão da cozinha e as vendia a um armarinho próximo de nossa casa para ajudar no nosso sustento.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Comentário por Ana — 2 janeiro 2009 @ 10:46

Este foi o texto mais emocionante que você postou… Muito lindo e sensível!