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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Delírio - por Adir Vieira

É uma pequena padaria.
Dessas de bairro pobre, daquelas que, você adivinha, nunca vai se tornar confeitaria.
Foi, propositalmente, ali colocada. Ali, bem ao lado de uma escola de adolescentes, os maiores admiradores e consumidores de confeitos e sanduíches (se bem que daqueles bem frugais, pois os requintados vão, à noitinha, no encontro com o “ficante”, buscá-los em qualquer McDonalds ou Girafa’s).
É a terceira vez que por ali passo, mas hoje, como se houvesse no ar um ímã e me puxasse, fixo-me próxima ao balcão de pães de todos os tipos. Em pequenas quantidades, devido ao espaço para eles reservado, são de várias qualidades e espremem-se entre si para caberem naquele pequenino balcão aquecido. Até as abelhas, em busca do sabor doce do creme, disputam um lugar ali.
Observo que não seguem qualquer regra de marketing e doces com canela e açúcar, misturam-se aos pães salgados cheios de calabresa e queijo ralado, dando um colorido fantástico ao local.
A única regra que parecem seguir é a de higiene. A pele bronzeada da balconista sorridente se contrasta com o avental branco, impecavelmente limpo. Uma toalha, igualmente branca, também faz parte do seu adereço e ameaça e indica, aos menos cuidadosos, onde colocar copos já utilizados e guardanapos sujos.
Estou ali parada e fascinada, já há algum tempo, e só agora percebo a semelhança dessa padaria com aquela da minha infância. Também lá, os grupinhos da turma lanchavam a cada manhã, no intervalo das aulas.
Surpreendentemente, vejo-me, como no passado, isolada em um canto, transportando, só com o olhar, o sabor desejado do pão doce mais bonito para o meu sanduíche caseiro recheado apenas com açúcar.
.

Um comentário:

Anônimo disse...

Comentário por Ana — 29 dezembro 2008 @ 10:36 |Editar

Muito lindo! Mais um emocionante!
Estamos sentindo a sua falta!