Não sei costurar, mas não consigo me desvencilhar de uma antiga caixinha de costura, presente delicado de uma amiga bem mais velha, como mimo de Natal. Pergunto-me o porquê de, a cada final de ano, quando os armários da casa são colocados de pernas para o ar na busca incessante do que transformar em lixo para a renovação das energias do local, não conseguir abrir mão de uma coisa que, sem sombra de dúvidas, passa o ano todo ali, fixada naquela prateleira, fechada e à mercê da dona que sequer a abre. Ela é equipada com tudo de necessário, como botões coloridos, linhas de cores diversas, agulhas de várias espessuras, presilhas, carretéis, elásticos, tesouras, tesourinhas e até mesmo uma fita métrica acoplada a um dedal. Não a utilizo, mas tê-la faz-me sentir segura. Parece-me que estarei livre de ficar desnudada por aberturas que mostram o corpo, por decotes invadidos por botões que podem se quebrar, por costuras desfeitas ao movimento do corpo. Parece apenas, não é real. Continuo investigando e buscando causas para a sua utilidade, a sua permanência e chego à conclusão de que o que me prende a ela é a lembrança efetiva do carinho de quem me presenteou e, assim, a faço ali permanecer.
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