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sexta-feira, 5 de junho de 2009

Perdão - por Alba Vieira

Sinto-me atordoada. Há tempos não saio de casa, exceto para o trabalho, percorrendo os mesmos lugares sempre. Vindo novamente a esse lugar, onde tantas vezes estive no passado, o percebo agora inteiramente diferente. As pessoas me assustam e caminho trêmula por estes corredores de gente que com suas auras esbarram na minha. Não sei se conseguirei voltar para casa sem me sentir tão exaurida, sugada nas minhas energias. Essa praça me traz a sensação de familiaridade, pois há exatos quatro anos, fazia parte do meu dia a dia. Agora, passando por aqui, penso que posso encontrar aquela pessoa que há tanto tempo eu espero ver, para tentar redimir a culpa que ainda sinto, mesmo sabendo que não se justifica. Tenho a impressão de estar perto de reencontrar o elo perdido. Só quero revê-la e tentar remediar, corrigir o que sem intenção eu causei. Parece que estou bem perto dela, embora não consiga encontrá-la. É como se seus radares internos pudessem captar a minha presença e, voluntariamente, fugisse de mim. Mas, talvez não a veja porque apenas sinta que está perto, que seja só a minha vontade a me impressionar. É como algo que ficou inacabado e não sai da nossa mente. Devemos cuidar de resolver na vida, todas as pendências do nosso coração. Mas, se é coração, pressupõe ligação e, consequentemente, outra pessoa envolvida. E aí é que a coisa degenera. Porque nem sempre o que é necessidade para nós atinge o outro da mesma forma. Questões que envolvem outra pessoa acabarão por ter que ser resolvidas dentro de nós mesmos.
A culpa é um entrave desnecessário na vida de qualquer pessoa, que efetivamente, não leva a nada, que só suga a nossa energia, faz doer e turva a mente, nos deixando num estado de estar sem estar ali, sempre, no lugar que se relaciona aos fatos que geraram esse sentimento limitante.
O que importa na verdade, é compreender os fatos, do nosso ponto de vista, vendo então onde acertamos e onde erramos, porque erramos, se naquele momento era só aquela opção que tínhamos ou se podíamos ter agido diferente. Em qualquer dos casos, terá sido o que conseguimos fazer. Devemos aceitar isto e nos perdoar, depois de reconhecer o erro e dessa forma, aprender com ele.
A outra pessoa não precisa nos redimir, ela terá condições de avaliar sozinha a questão e depois do tempo que for necessário para ela, também nos perdoar (ou não) e, principalmente, se perdoar por ter acreditado demais, de acordo com suas fantasias e desejos em relação a nós.
Eis a origem da traição. Na verdade, cada vítima de traição se trai a si próprio, por ter acreditado demais, às vezes seduzida pelo traidor em questão, às vezes pela própria fantasia.
De fato, os nossos acertos serão sempre apenas conosco mesmos.
Assim é que não era necessário para trabalhar esta questão, ter reencontrado aquela pessoa.
Foi tudo apenas impressão motivada pelo desejo de resolver essa culpa pendente e pela volta ao lugar que representava o elo com o passado.



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Um comentário:

Ana disse...

Alba:
Você, como sempre, fazendo pensar. E muito!
Beijo!