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sexta-feira, 5 de junho de 2009

Na Sala de Espera - por Fatinha

Querido Brógui:

Juro que hoje eu não estava preparada psicologicamente. Você sabe que quando eu saio pra encarar algum serviço de corno, já vou cantando um mantra desde o portão de casa. Saio com todo o equipamento de sobrevivência na selva: mp3, livrinho, barrinha de chocolate, uma revistinha de palavras cruzadas e um tercinho. Mas hoje foi demais.
Eu sabia que ir ao médico, nesse país da CPMF, mesmo tendo plano de saúde, é um exercício de resistência física e emocional. Ou você se cura, ou vai logo comer capim pela raiz. O fato de você ter marcado hora é absolutamente irrelevante. Você vai esperar. Rindo pra secretária senão ela lhe sacaneia e diz que seu plano não cobre aquela consulta. Mas hoje foi demais. Minha façanha valia uma linha no Guiness Book. Foram sete horas de agonia.
Primeira parada, cardiologista. Nessa primeira parada, aproximadamente uma hora de espera. Penso que a consulta começa na própria ante-sala entupida de velhinhos. Os velhinhos e eu. O sofazinho é tão baixinho que é preciso fazer um esforço hercúleo para se sentar e outro dobrado para se levantar. Se o velhinho conseguir isso, meio caminho andado. Pra que prova de esforço na esteira? A dificuldade para se pôr de pé é semelhante a dar partida em um carro a álcool, modelo equipado com carburador, num dia de frio. Sabe aquele nhemnhemnhemnhemnhem quando a gente vira a chave na ignição? É igualzinho. Na terceira tentativa, o coitado se põe de pé, pisa no acelerador para permanecer de pé, puxa o afogador pra não deixar o motor morrer e os outros velhinhos aplaudem emocionados. O segundo teste para o coração é o tempo de espera. Se estiver bichado, parada cardíaca garantida ou seu dinheiro de volta. Passou nos dois primeiros testes? Nenhuma sequela? Seu coraçãozinho está bacana, nenhum problema.
Segunda parada, perícia médica, pra abonar as minhas faltas da semana passada. Tempo de espera: três horas. Nessa parada só não surtei e quebrei tudo porque encontrei a amiga de uma amiga e ficamos conversando. Graças a Deus ela é uma pessoa muito legal, senão eu teria dado um soco na cara dela, depois quebrado as cadeiras da sala na cabeça dos funcionários, depois metralhado os médicos. Nesse exato momento, ao invés de estar aqui escrevendo, estaria trajando uma camisa de força e babando como uma samambaia de plástico. O lado bom é que além de conseguir o abono das minhas faltas teria conseguido um afastamento bem longo pela psiquiatria, quiçá uma aposentadoria por invalidez com proventos integrais.
Terceira parada, ginecologista: três horas de espera. Como a essa altura do campeonato meu estômago já havia entrado em autofagia, devorei todo o pote de balinhas da ante-sala do inferno. A secretária estava tentando descolar uns convites para o baile do CRM. Fiquei três horas ouvindo o telefone, que estava no viva-voz, fazer: tu–tu–tu. Ocupado. Três horas ouvindo o barulhinho da discagem e depois o tu–tu–tu. Nessa última parada quase me descontrolei, mas depois lembrei que a médica vai estar dentro de poucos dias apontando seu bisturi para minha barriga e que eu estarei dormindo, indefesa. Vai que ela resolve se vingar largando um tufo de gaze dentro do meu abdômen? Ou um telefone? Ou um saquinho de balas?
Ok, sobrevivi, resolvi tudo direitinho, cheguei em casa, tomei um banho com caco de telha, comi duas empadinhas, dois croissants, uma fatia de bolo, três mini-risoles, um brigadeiro, fiz uma prece ao deus do colesterol e fui dormir.



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2 comentários:

escrevinhadora disse...

Definitivamente, sou tua fã. Você consegue descrever com muita propriedade a indignação da maioria de nós nessas situações bizarras da vida.

Ana disse...

Fatinha:
Ri baldes!!!!
Tu é demais!!!!!
Beijos!!!!!!!