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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Tia Emília - por Jorge Queiroz da Silva

E vem aí, então, a primeira tia: “a tia Emília”. Não pensem vocês ser ela a mesma daquele programa infantil, do “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Ela era, com certeza, a figura da tia que mais me impressionou. Era tia de minha mãe, alta, esguia, sisuda, só vestia roupas pretas e com bordados em branco. Era uma viúva convicta, sempre de salto alto, sempre de chapéu e usava um véu no rosto, a perfeita dama antiga. Eu, ainda criança, ficava muito impressionado quando a minha mãe anunciava sua chegada. Eu, então, dava uma corrida até a porta e ainda tinha tempo de observá-la, toda cheia de pose, descendo do carro de aluguel que a trazia sempre que nos visitava. O clima da minha casa mudava, minha mãe me avisava:
- Olha lá, meu filho, não fale demais para não dizer muita coisa que ela possa ficar nervosa ou preocupada, ela é pessoa muito exigente, ela foi casada com meu tio Júlio, irmão do teu avô, que era um diplomata, que viveu no exterior, na embaixada brasileira na França. Ele foi o responsável pelo meu nome de batismo, “Hermance”, um nome de origem francesa.
E eu, então, muito comportado, pedia a sua benção e ficava de olho nela, observando ela retirar das mãos a luva de couro preta, pendurar a sombrinha no porta-chapéus, levantar o véu do rosto e me observar, dizendo:
- Ô, “Mancinha”, como este menino esta “magrinho”!
E olhando para mim dizia:
- Deixe-me ver as suas mãos.
E berrava com uma voz rouca:
- Que unhas sujas menino, vá lavar estas mãos! Se não, eu não te dou as balas que trouxe para você.
Eu já sabia o que ocorreria em seguida. Minha mãe me chamava e me dizia:
- Vai correndo até a padaria e traga um daqueles pães doces grandes e bonitos para eu servir um lanche para ela. Traga, também, duzentos gramas de queijo minas e um pacote de manteiga.
Lá ia eu, então, para trazer, feliz, as coisas que iriam compor o nosso lanche.
E, assim, durante todo o tempo em que ela lá estava, eu a admirava e observava sua postura, sua colocação de voz, seu jeito de sentar.
Era o tipo da mulher chique e vaidosa, a verdadeira emergente da elite social que ali se fazia presente e que, depois de conversar e saber de minha mãe, as novidades, abria a sua bolsa e me dava uma nota de dez mil réis, dizendo que era para eu comprar o que quisesse. Dito isso, pedia que eu fosse à esquina parar um carro de aluguel para que fosse embora. Antes de sair repetia sempre a mesma frase:
- Fique sempre assim, menino, muito bonzinho, para ser um grande homem!

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Um comentário:

alba disse...

Jorge, é um grande prazer ler um texto seu e este que trata de uma tia tão especial e que fazia visitas que mereciam recepção com pão doce e tudo, mais ainda. Voce nos traz muitas coisas que deixaram imensa saudade. Parabéns! Um beijo.