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Someday I’ll Love Ocean Vuong / Um dia amarei Ocean Vuong [Ocean Vuong]
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*Beautiful photomechanical prints of Lotus Flowers (1887–1897) by Ogawa
Kazumasa.*
Ocean, não tenha medo.
O fim da estrada é tão distante
que ela já ...
Um comentário:
Comentário por Joao Luis Amaral — 26 dezembro 2008 @ 9:54 |Editar
Pedido ao Papai do Céu
Querido Papai do Céu,
Hoje eu quero fazer um pedido especial: quando eu crescer, eu gostaria muito, muito mesmo, de continuar sendo criança. É o meu sonho. Por que ser grande é muito chato.
A gente aprende um montão de coisas legais quando é pequeno – ensinado pelos grandes, veja só – mas tem que esquecer tudo quando cresce.
Dá para entender? Eu não consigo.
Perguntei para a minha mãe, entre uma dobradura e outra no meu super barco de papel, se tem alguma razão para isso acontecer.
Ela tentou explicar, mas confesso que não entendi nada.
Falou que era por causa do trabalho, das obrigações do trânsito infernal, das intermináveis contas para pagar, da obrigação em acompanhar o noticiário diariamente (além de ter lido o jornal), saber como fechou a Bolsa daqui, como abriu a Bolsa de lá; onde está o dólar, quem está em guerra com quem, em quem votar na próxima eleição, o time do coração que não está nada bem, a sogra que virá no fim de semana, o presente do cunhado… essas coisas.
Ouvi tudo com atenção, mas voltei para o meu barco de papel sem responder coisa alguma.
Eu, hein? Prefiro ficar aqui, enquanto posso, fazendo tudo o que gosto:
Andando descalço pela grama
Jogando água na terra até virar lama
Fazendo castelo com pedrinhas
Tentando bater meu recorde de sete embaixadinhas
Jogando uma partida de vídeo-game
Acampando na sala com lençol, travesseiro e as cadeiras da sala de jantar
Plantando feijão no algodão e esperando brotar
Misturando banana com mel e aveia
Pintando papel com tinta a dedo
Recortando figuras das revistas e colando num outro papel, só para ver no que vai dar
Montando outro castelo, agora de cartas de baralho
Escrevendo escondido na parede atrás do sofá
Jogando a bolinha para meu cachorro trezentas vezes
Tomando picolé de frutas
Misturando sucrilhos com leite e nescau, à tarde, em frente à TV
Imaginando figuras engraçadas nas nuvens
Acompanhando o caminho das formigas pela parede
Jogando bola, queimada, vôlei ou qualquer outra coisa
Brincando de péga-péga
Montando uma casa de madeira na árvore
Tocando a campainha da casa do vizinho e fugir
Paquerando a filha do vizinho
Indo ao cinema no meio da tarde
Chupando manga tirada direto do pé
Andando de bicicleta sem capacete
Aprendendo a subir em árvore
Tomando água da torneira
Rindo à beça das trapalhadas que eu mesmo faço
Lendo um livro deitado no sofá
Aprendendo a fazer pão-de-queijo (e ficar olhando dentro do forno até crescer)
Tomando banho de esguicho num dia de sol quente
Descascando laranja tudo errado
Misturando coca-cola com sorvete
Queimando papel com uma lupa
Fugindo de abelha
Comendo doce de leite sem culpa
Tomando refrigerante
Jogando sonrisal na beira do mar e escorregando nele
Pegando jacaré
Passando requeijão no panetone
Jogando rouba-monte
Completando o álbum de figurinhas
Jogando bafo com as repetidas
Assistindo desenhos
Dormindo no meio dos filmes
Correndo atrás de borboletas
Sujando a calça no muro branco
Dançando alucinadamente no meio da sala
Cavocando a areia até achar água
Jogando pedrinhas no fundo da piscina e mergulhar para buscá-las
Tomando leite bem cedinho, tirado na hora da vaca, num copo com açúcar
Assistindo filme de terror no cinema e ficar com medo
Ralar o joelho e passar mertiolate
Está vendo? É tudo muito mais divertido. A gente cansa no final do dia, fica quebrado mesmo. Tão cansado que dorme antes da novela das oito, que hoje em dia começa às nove. Mas vale muito a pena.
Agora, Papai do Céu, vou tomar banho para jantar. Preciso tirar o terno e a gravata, colocar meu pijama e fazer lição de casa, senão meu chefe vai brigar comigo amanhã.
Amém.
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