o erro da hora, é que eu corro
e olho pra ela
sabendo que me atravessa a espinha
É que não olho muito
pro que fazer dela
o erro da hora é acabar
e eu tentar, me perder
mas nunca chegar
E depois ficar o desespero
o erro da hora que eu evito
ajustando o ponteiro,
em horas divididas
em sessenta medos
Fica tudo partido em cada tempo
que eu não alcanço
o erro da hora é a medida
que me põem nos regulamentos
da posição do Sol
incidindo na testa:
o suor de existir
o erro é que não importam as horas
eu espero, cismo, desanimo, me atino
o fio do tempo passando ou não
eu não me vejo e nem a você
é sempre tempo de solidão.
.
Someday I’ll Love Ocean Vuong / Um dia amarei Ocean Vuong [Ocean Vuong]
-
*Beautiful photomechanical prints of Lotus Flowers (1887–1897) by Ogawa
Kazumasa.*
Ocean, não tenha medo.
O fim da estrada é tão distante
que ela já ...
3 comentários:
Comentário por Bruno D'Almeida — 8 fevereiro 2009 @ 2:32
Os muros e as janelas de açúcar
Num destes dias em que a gente passa por um lugar da infância em que viveu e fica pensando, meditando, passando um filme pela cabeça, de quedas, lugares, pessoas, quedas, choros, descobertas e mais quedas (pois é, tenho ambliopia, doença de nascença que limita em dez por cento a visão do olho direito – até descobrirem eu vivia caindo e colecionando cicatrizes na cabeça). Eu vi o muro! Famoso muro de pedras em que eu pulava, juntamente com os meus amiguinhos do nada-tudo-por-fazer, em atos heróicos de exibicionismo e de alegria de criança mesmo.
Foi de imediato ao encontro do muro, esqueci até do que ia fazer naquele dia. Aliás, este momento se tornou o ponto máximo do meu dia. Eu ia ao encontro do muro como quem encontrava a infância, como quem tinha um encontro marcado consigo mesmo, onde poderia olhar pra mim e dizer “nossa, como você cresceu”. Olhei para o muro, aquele colosso dos meus primeiros anos não passava de um parapeito de escada. Agora ele era minúsculo, um pouco acima dos meus joelhos de adulto. Eu apenas sorria e não acreditava.
O muro foi um obstáculo na minha vida que parecia intransponível. Difícil de passar adiante como muitas outras coisas, como o medo de andar de ônibus sozinho, a descoberta de que um dia ia morrer, a primeira vez que me perdi de meus pais na praia e guardei durante todo tempo um pedaço de cachorro-quente, o dia que comecei e terminei a escola, todas as provas, todos os professores, todos os amores perdidos e encontrados, todos os medos. Parecia uma barreira insuperável o vestibular. Na faculdade, era uma batalha me formar. Formado, a briga era pra me firmar. E assim fui superando cada obstáculo.
A melhor maneira de medir o tamanho da dificuldade é medir o tamanho do muro. Pude me tornar maior do que ele, mas para superá-lo, tive que respeitar o fato de que, um dia, ele merecia um sacrifício imenso para realizar. Foi a minha Grande Muralha da China. Senti uma coisa estranha ao constatar, sentado no muro, de que as coisas na minha vida podem até ser difíceis agora. Aguardo ansiosamente o dia em que se tornarão janelas de açúcar, em que poderei abri-las e saboreá-las como doces finos de maracujá e de limão.
Fiz uma coisa fantástica naquele dia. Essas coisas que só a gente sente prazer e ninguém entende nada. Todos olhavam para aquele adulto sem noção de juízo que pulava feito bobo de um parapeito de escada ridículo. E eu era o sorriso mais singelo, mais sublime, que não se encontrava no rosto de ninguém que passava na rua naquele momento. Que venham mais muros, mais desafios e coisas importantes a conquistar nessa vida.
Bruno D’Almeida - comendocomfarinha.blog.terra.com.br
Comentário por Bruno D'Almeida — 8 fevereiro 2009 @ 2:35
Shintoni, no segundo parágrafo, uma correção: “FUI de imediato ao encontro do muro.”
Obrigado!
Comentário por Ana — 13 fevereiro 2009 @ 13:54
Lu:
Adorei sua poesia! Muito boa!
Mas… Cadê você? Não voltou mais…
Posta mais!
Um beijo!
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