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domingo, 13 de fevereiro de 2011

PPV - Passos de Areia - por Gio

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Depois de infinitos trabalhos, incontáveis preocupações e horas despendidas que jamais serão recuperadas – embora não tenham sido gastas em vão –, só me restava uma opção: descansar. Sabendo que não poderei conjugar esse verbo muitas vezes durante o ano que se segue, optei por fazer isso de maneira completa e total, com todos os pleonasmos a que tenho direito.

Mas a paixão não some, e a saudade é grande, então resolvi tirar a poeira disso aqui enquanto não reassumo o posto de vez. Está instituído o PPVPost Perdido no Verão –, que não tem dia e nem número de vezes definido para aparecer. Divirtam-se (ou não)!
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Caminhava sozinha na areia, perdida em seus pensamentos. Tais pensamentos pareciam desenhar-se em sua mente tão incertos e sem rumo quanto o pó de pedras que o vento arrastava pouco acima do chão. Era um dia de vento forte na praia, e aquela pequena cortina bege parecia cortar seus pés na altura dos tornozelos. Sensação falsa, desconforto verdadeiro.

Já nem se lembrava há quanto tempo não parava para pensar assim, acompanhada apenas de si mesma. Há muito que estava ocupada demais para pensar, seguindo passos e cumprindo objetivos. E era boa nisso. Estudou, passou, lutou, venceu, e ainda viveu para contar. Seguiu o caminho traçado para uma boa vida, mesmo sem saber bem quem o traçou, e fez tudo aquilo se esperava de alguém com, como chamavam?, juízo na cabeça. Como prêmio, passou a ostentar o título de Pessoa Bem-Sucedida, troféu dado a quem conseguia ter desenvoltura para usar as regras desse jogo a seu favor.

Podia ser pior. Poderia ter recebido, em vez disso, o título de Pessoa de Bem, uma espécie de medalha de “honra ao mérito” dada aos jogadores que, embora não costumassem ganhar muitas rodadas, seguiam jogando sem trapacear. O que era engraçado, já que muitas das Pessoas Bem-Sucedidas não preencheriam esse pré-requisito necessário a uma Pessoa de Bem. Era uma das poucas a não seguir esse caminho, embora sua formação a tenha ensinado a pensar somente nos resultados.

Saiu da areia seca, que já revestia suas pernas até pouco abaixo dos joelhos, para a beira d’água. O calor escaldante foi trocado pelo frio da terra úmida. Mudança brusca, pensou, não sabendo se estava se referindo ao solo, ou ao rumo de sua vida. Um belo dia, acordou e cansou de tudo aquilo: o emprego dos sonhos do pai, a casa dos sonhos da mãe, um estilo de vida que era o sonho de todos os que não viviam nele. Vendeu a casa, largou o emprego, e se mudou para o interior, a fim de arriscar uma nova profissão. Não sabia mais como seria o dia de amanhã, e nem queria saber: era a dúvida que a fazia seguir em frente.

Contou as conchas que avistava perto de seus pés, e se perguntou se algum dia alguém seria capaz de contar todas as conchas do mundo. Mas que pergunta infantil, repreendeu-se, mas logo emendou: E qual é o problema? 16, 17, 18... Talvez até o fim do dia ela tivesse uma estimativa.

Agora, livre de tudo, experimentava a sensação de liberdade que só a incerteza proporciona. Só que a incerteza não trazia segurança, e isso a incomodava. Passou a vida inteira tendo seus passos guiados e sua vida programada, que, agora que andava com as próprias pernas, não sabia o que fazer. Sentiu-se perdida. Será que eu fiquei louca? Como pude deixar tudo para trás? Será que um dia eu vou me arrepender? ...Ou já estou me arrependendo? Pela primeira vez, sentiu uma dor de cabeça debaixo daquele sol de 40 graus.

Caminhava sozinha na areia, perdida em seus pensamentos. Pensamentos traiçoeiros, é verdade, mas ainda assim eram pensamentos. E o mais importante: dessa vez, eram seus.
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