Vale a pena ler de novo, se você já conhece, e é ótima oportunidade para conhecer, se ainda não leu este magnífico poema da Ana.
MANÁ DA SECA
(ANA)
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Desciam os abutres das nuvens
Em voos rasantes sobre nós:
Fileira crua de retirantes,
Muitos passos, nenhuma voz.
Só há um caminho à frente
Indo sei lá pra onde,
Vindo de lugar nenhum,
Talvez onde a morte se esconde.
Da convivência com ela
Tanto tempo, sem descanso,
Estamos a arriscar
Aportar em outro canto.
O que buscamos não sei,
Acho que aqui ninguém sabe...
Tantos dias sem comer,
O pensar já não nos cabe.
Andamos para outro lugar
Buscando apenas distância
De momentos entristecidos
Que dizimaram a infância
De um vilarejo esquecido
Entre o vazio e o nada,
Formado por alguns casebres,
Sem vegetação ou estrada.
Por isto não foi difícil
Abandonar o abandono,
Seguir para outro destino
Dentro do mesmo longo sono.
Sono perpétuo sem sonhos,
Sono que nos leva alhures,
Sono enviado da morte
Para alimentar os abutres.
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Someday I’ll Love Ocean Vuong / Um dia amarei Ocean Vuong [Ocean Vuong]
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*Beautiful photomechanical prints of Lotus Flowers (1887–1897) by Ogawa
Kazumasa.*
Ocean, não tenha medo.
O fim da estrada é tão distante
que ela já ...
Um comentário:
Concordo plenamente com você Alba. Esta beleza é imperdível.Se houver uma nova montagem ou filmagem de Morte e Vida Severina, este poema tinha que fazer parte do espetáculo para abrilhantá-lo ainda mais. Abraços a todos. Paz e bem.
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