Começara no meio da tarde,
E não parou mais,
Começo da madrugada,
Parte da população dormia,
Parte vigiava preocupada,
De tanto que a chuva castigava,
Lá pelas 3 da matina,
Não dormia João nem Cristina,
As janelas altas não deixavam impressão,
De repente um barulhão,
Vinha lá de fora com certeza,
Era som de coisa caindo,
Que não parava de cair,
E quando João abriu a porta,
Não havia mais nada lá fora,
Não havia jardim, não havia portão,
Não havia rua, nem pontilhão,
Não havia vizinho,
Nem comércio
Nem pra onde fugir,
Era só ruína que se avistava,
Tudo em torno submerso,
Carro, telhado, colchão,
Deu tempo de Cristina dar a mão a João,
E tentar, sob a chuva que não parava,
No meio da escuridão,
Seguir a trilha dos desesperados,
Os poucos que ali estavam
Eram todos fugitivos da desolação,
Da água que derrubava a encosta,
Em turbilhão,
Agora era um “Deus nos acuda”
Era um “salve-se quem e se puder”
Era um não ter mais nada,
Era um contínuo deixar pra trás,
Eram seres humanos, todos na mesma situação
E o País assistindo pela televisão,
Atordoado,
Com desejo profundo de ajudar,
De cada um tirar um de lá,
De oferecer distância segura,
Afinal, todos os assistentes
E os sobreviventes,
Todos em pura comoção,
Com um sentimento único, comum,
A fé...
Deus, por todo esse povo,
pedimos compaixão...
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(Chuvas de JANEIRO 2011)
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