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domingo, 9 de agosto de 2009

Saudade, Meu Pai - por Adir Vieira

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Hoje é o “Dia dos Pais”.
Lembro do meu, já há nove anos ausente fisicamente.
Penso em lhe prestar uma homenagem, penso em falar do meu amor de filha e, automaticamente, várias são as lembranças que me vem à mente, como um filme que desobedece à ordem de começo, meio e fim.
A primeira lembrança é a da foto em que eu, um bebê, sorrio protegida pelos seus braços fortes e pelo calor do seu colo. Vejo-me como um troféu que ele exibe para a plateia de vizinhos, naquele domingo, naquela hora da manhã, tão cedo ainda...
Lembro de quando chegava do trabalho com as mãos repletas de balas e corríamos ao seu encontro, disputando o seu abraço e suas palavras afetuosas. Lembro que ele sempre foi explicitamente mais carinhoso do que minha mãe. Tinha aquela postura calma de apreciar os filhos e sentir-se realizado com sua prole de nove. Educar, chamar a atenção, proibir ou castigar, deixava para a mãe.
Revivo, nesse momento, o dia em que juntou quatro de nós, os menores, e fez paçoca. Aos nossos olhos atentos, moeu o amendoim com todo o critério do mundo e adicionou os outros ingredientes, enquanto esperávamos com ansiedade que o doce atingisse o ponto de ser colocado nos saquinhos de papel, primorosamente feitos por ele ali, naquela hora, em forma de funil. Sorrio ao reviver esse dia tão feliz de minha infância.
Lembro de sua atitude de confiança em Deus, sempre que ia nascer um filho – deitava na espreguiçadeira e simplesmente aguardava, confiante, o retorno da parteira. Não cogitava nunca de que algo ruim pudesse acontecer. Hoje percebo que não consegui aprender com ele essa forma segura de viver.
Lembro também das tardes de domingo, ele sentado na mesma espreguiçadeira, com um rádio de pilha junto ao ouvido para, em meio à nossa algazarra costumeira, não perder um pequeno comentário que fosse do seu time de coração, o Botafogo.
Lembro como reagia quando chegávamos em casa e alegremente dávamos a notícia de uma nota de prova escolar boa e ele, com aquele seu sorriso peculiar, dizia “Puxou ao pai.” - o que sempre deixava minha mãe irada.
Lembro de tantas coisas nesse momento em que penso em fazer-lhe uma homenagem e me arrependo de não ter podido demonstrar-lhe todo o meu amor.
Ao longo da vida, com suas atitudes, ele foi exemplificando, para nós, sensibilidade, autoconfiança, bom humor, prazer e, principalmente, alegria.
Hoje identifico isso com muita clareza.
Lembro de quando ficávamos só nós dois nas viagens de férias da família naquela casa grande. Ele já velho e cego se recusava a acompanhar os demais; eu trabalhava e nunca estava em férias nessas ocasiões. Mesmo cego, me acompanhava após o jantar enxugando a nossa louça e, sabendo do meu medo de fantasmas, sempre prometia só ir dormir quando eu já estivesse no décimo sono. A casa grande e vazia, não sei porque, sempre me atemorizava.
Ah, meu pai!... Tantas lembranças, muitas boas, muitas tristes.
Saudade, meu pai, e fique com Deus, onde você estiver.
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Um comentário:

Ana disse...

Que texto lindo, emocionante!... E que figura significativa!
Lindíssimo, lindíssimo!