a chegada dessa hora crítica
cheia de impotências.
Eu sei que você acha
que tudo o que fez foi pouco
e que pouco restou a fazer. Eu sei.
Eu sei que você se admira
de como as coisas mudaram
de sua autoridade falida
de sua tentativa falida
desse insucesso tolo
que hoje o olha no espelho
e destas paredes eternas
que o prenderam num só ponto.
Eu sei que você se lembra
do entusiasmo que havia
da crença besta nas coisas
que resultou inútil.
Inútil até o tédio
até as grandes discussões
e toda a filosofia.
Eu sei que você pensa
que até pensar é inútil
já que diante do mistério
você se sentiu pequeno.
Eu sei que você não acredita
ou nem sabe se acredita
nos valores que lhe deram
para você transmitir
para o bem do conformismo
pra continuar o processo.
Mas dizer o que a seus filhos?
Ah, se você pudesse
poupar-lhes ao menos
esta hora da verdade
em que a vida presta contas
e a gente sempre fica
com um saldo negativo
e a experiência é eufemismo
e um amontoado de erros
e o resumo é um grito
se gritar você pudesse.
Mas eu sei que você grita
um grito mudo sem eco
lá de dentro da garganta
um grito que corta o peito
que dilacera e não sangra.
Eu sei que você carrega
há muito essa dor sem remédio
sem consolo nessa vida
que a vida não vale a pena
que aqui não valeu a pena
que qualquer caminho é o mesmo
e a escolha não adianta nada.
E já que é isso que existe
se é isso que acontece
o jeito é não dar nenhum jeito.
Melhor é a gente achar graça.
In “No Ritmo Dessa Festa”.
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Um comentário:
Ai, lindo demais! Adoro esta mulher! Como poetisa, claro! Porque como atriz... Argh! Argh! Argh!
Beijo, Penélope!
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