Dizes-te livre e todos os dias ages impelido por mil coisas. Vês uma mulher e ama-a, morres de amor por ela; serás livre de acalmar esse sangue que pulsa, de serenar essa cabeça ardente, de refrear esse coração, de aplacar esses ardores que te devoram? Serás livre de pensar? Mil cadeias te retêm, mil aguilhões te impelem, mil entraves te fazem parar. Vês um homem pela primeira vez, há um dos seus traços que te choca, e durante a tua vida sentes aversão por esse homem, que talvez tivesses amado se tivesse o nariz menor. Tens mau estômago, e és brutal para com aquele que terias acolhido com benevolência. E de todos estes fatos derivam, ou neles se encadeiam, também fatalmente, outras séries de fatos, de que outros derivam por sua vez.
In “Memórias de um Louco”.
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Um comentário:
Flaubert é demais, né, Penélope?
Adorei esta citação!
Beijo.
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