Era o que pretendia ser o primeiro banho do neném. No quarto, esperavam a avó paterna e a tia avó materna, quando a mãe chegou com o pequerrucho no colo, que sentindo a aproximação do local do “sacrifício”, já botou a boca no mundo. Foi conduzido até uma pequena mesa, onde deveria ser colocada uma banheira e deitado lá, para em seguida, lhe tirarem a roupinha e a fralda. Mas cadê a água? A avó correu para trazer uma pequena bacia com água morna, enquanto a mãe pegava um chumaço de algodão que umedecia e passava pelo corpinho do bebê que, vermelhinho de tanto gritar, continuava reclamando, enquanto era virado para limpar as costas e as nádegas. Nada de sabonete, nada de cheirinho de neném. Que frustração! O umbigo era protegido por uma compressa de gaze para receber a limpeza com álcool. E depois,colocaram a fraldinha, a camisinha de pagão, a calça comprida, as meias e a blusinha de manga. Enquanto faziam este ritual, mãe e avó cantavam uma música estranha que falava de um reizinho que chegava na casa, sob os olhares incrédulos da tia. E o banho? O bebezinho agora já estava aninhado no colo da mãe, já abrindo a boquinha naquele reflexo de sucção em busca do leite para saciar a sua fome e desproteção.
Enquanto recolhia as roupinhas usadas, fraldas, gaze e algodões, deixando o quartinho outra vez todo arrumado, a tia se lembrava de como eram os banhos de nenéns em sua casa onde a enorme família era comandada por sua mãe, uma mulher forte, rosada, gordinha e sorridente que com sua mão protetora sempre dava o primeiro banho em todos os bebês da família, inclusive na mãe desse bebezinho, sua neta. Sempre era escolhido o quarto da frente da casa, mais iluminado. Sobre a cama era colocada a bacia rosa ou azul, a toalha colorida e felpuda, roupinhas limpas, cinteiro e fralda, talco e sabonete do bebê. Os familiares formavam a plateia embevecida. Um era encarregado de trazer a água morna, outro ajudava a despir o bebê. Então a matriarca erguia a criança sustentando as costas com a mão, deixando a cabecinha pender recostada ao braço e descia lentamente até a água que molhava os pezinhos, as pernas e então o corpinho que ficava submerso até o pescoço enquanto com a outra mão lavava a cabecinha deixando a água levada pela mão em concha escorrer pelos cabelinhos, com o cuidado de não deixar entrar nos ouvidos. Em seguida, era lavado o rosto, o corpinho, pernas e braços. Era um banho rapidinho que só era iniciado depois de fechadas todas as janelas para impedir que houvesse corrente de ar que poderia, segundo ela, provocar uma pneumonia galopante na criança. E os bebês adoravam. Seus corpinhos eram lavados assim como as suas auras ficavam limpas pela água morna. Enrolados na toalha felpuda e apertados junto ao corpo da doce avó, ficavam quietinhos enquanto ela enxugava cabelos, rostinho e corpo. Logo eram vestidos com a ajuda de tias e tios sob exclamações de orgulho e comparações com outras crianças da família. Saía do quarto só depois de ser perfumado, acarinhado e receber um tantinho de talco nas costinhas para evitar alergias, sob os protestos desta mesma tia que estava estudando Medicina e reprovava o uso de talco. A fraldinha era colocada depois de besuntar o bebê com Hipoglós. Seguia-se a disputa da família para ver quem seguraria o bebê, inclusive a mãe, depois do banho. A avó, orgulhosa, recolhia os utensílios no quarto e saía triunfante, tendo ensinado a mais uma marinheira de primeira viagem como era dar banho no bebê.
Visitem Alba Vieira
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Um comentário:
Gracinha um bebezinho...
Fofíssimo o primeiro banho...
Ai, que lindinho...
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