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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Apenas Ser - por Raquel Aiuendi

Escrever à posteridade
É escrever ao depois
Que ainda não chegou
(dããã)
Escrever à ancestralidade
É querer estatizar
O que já se reciclou
Sou contemporânea
Não imediatisticamente
Contemporânea
Sou, deixei de ser,
Como saber
O que serei?
Quero apenas: viver.

.

2 comentários:

Anônimo disse...

Comentário por Bruno D´Almeida — 13 janeiro 2009 @ 12:23

Engarrafamento de carros no meu lençol limpinho

Hoje recebi uma lição de vida de um cotoquinho de gente de quatro anos! E eu não senti vergonha, como quem fica desconcertado com as frases certeiras de uma criança. As crianças somos nós em um passado muito distante, que aprendíamos tão fácil que a expressão eu te amo vale muito e que podíamos arrotar e peidar na frente de todo mundo com toda naturalidade, com risos de orgulho até.

Cheguei do trabalho no automático, tão autômato celular que falei com ele com um beijo na testa, porque sabemos falar com gestos. Tomei banho, comi, escovei os dentes, não necessariamente nesta ordem e deitei na cama (esta sim, por último mesmo). Deitado, sorumbático, com o travesseiro arremessado no rosto, ouvi meu cotoquinho falar vou ficar aqui com você, papai.

Como um raio, lembrei-me daquele pestinha pulando na minha cama de molas, gritando mais alto do que qualquer silêncio de nervosismo pode fazer, correndo pelo quarto, brincando de astronauta, fazendo engarrafamento de carros no meu lençol limpinho, perguntando por que a cortina era verde, por que seu amigo Vasconcelos falava palavrão na escolinha, por que ele não podia comer duas balas depois do almoço, por que eu não levava ele pra comer uma pizza, por que a bunda dele tinha um carocinho, e tantos porquês inumeráveis com sinal de infinito. Mas João Fernando não disse nada disso. Ele ficou amuado, no cantinho da parede, agachadinho, mais lindo que uma conchinha do mar, e disse apenas eu fico aqui no cantinho calado vendo você dormir.

Eu deitado na cama olhando aquela criança me dizendo, da maneira mais tênue do mundo, que apesar do cansaço, da fadiga, da rotina, do exaurido, do torpor de um dia cheio de trabalho, ele me queria mesmo assim, no bagaço, somente para contemplação. Um pai que esqueceu, naquele dia, que ficar com aquela gotinha de luz recarregava qualquer bateria. Eu queria apenas um momento de sono. Ele queria fazer do meu silêncio uma companhia de contemplação que só ele, mais ninguém, teria o prazer de fazer. Sublime contemplação.

Nem precisei terminar de dizer venha cá, deite aqui comigo, para ele estar abraçadinho comigo. Meu pai, sabia que minha lapiseira é o planeta dos continentes? Eu balançava o rosto e sorria. Meu pai, sabia que hoje eu comi tudinho, e nem chutei minha vó quando ela me deu banho? Sabia que eu se comportei direitinho e nem mordi o braço de Bia na escolinha? Sabia que meu cocô saiu laranja? Sabia que laranja é minha cor preferida? E de tanto me falar coisas tão deliciosamente divertidas e sérias, ele foi dormindo, como se estivesse ninando os próprios pensamentos de debutante de aprendiz. Era eu quem aprendia com ele.

João dormiu e eu é que fiquei contemplando aquela criatura dormindo, com minhas feições, meu jeito de dormir e o jeito da mãe ao mesmo tempo. Ele me ensina o que eu já fui e é a prova do eu nunca devo deixar de ser. Quando dei por mim, estava deitado na mesma posição, só que de lado, tal que ele estava na parede do quarto. E eu torcia pra ele acordar e perguntar o que eu estava vendo. E eu louco de vontade de dizer que só queria vê-lo dormir. E era isso que ele fazia. Dormia.

Bruno D´Almeida (comendocomfarinha.blog.terra.com.br)

Anônimo disse...

Comentário por Ana — 20 janeiro 2009 @ 11:22

Raquel:
ADOREI o dããã!
Muito ótimo!
Toda vez que leio rolo de rir!