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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Renascimento: Descoberta - por Alba Vieira

Pedro e Maria, colegas de faculdade. Atração, desejo, descobertas, proximidade, rotina, compatibilidade. Fim de curso. Novos rumos. Saudade. Vontade de viverem juntos. Famílias próximas. Casamento. Felicidade. Primeiro filho. Primeiras dificuldades. Outro filho. Maior aproximação. Prosperidade. Afabilidade mútua. Sentimentos mornos. Mais outro filho. Retorno do carinho. Afastamento sexual. Mais trabalho. Envolvimento com filhos. Maria mais presa ao lar. Pedro mais maduro, assoberbado pelos compromissos na empresa. Rotina. Cansaço. Desinteresse mútuo. Afabilidade. Sentimentos frios. Carinho. Respeito. Ambos voltados para a criação dos filhos. A vida segue. Pedro e Maria quase nunca sós. Férias esparsas. Fins de semana cheios e voltados para a família. Não trocam mais olhares cúmplices. Não se amam mais. Pedro calado, afável, distante quase sempre. Maria ocupada, certa da felicidade familiar, segura na solidão a dois. Filhos criados. Um dia, um fato: Pedro está diferente. Quase não para em casa. Esconde, por trás do jeito sério, um sorriso quando volta. Maria repara nele e se pergunta o que há. O tempo passa. Pedro diferente, com ela ainda é o mesmo, exceto por um distanciamento corporal crescente. A dúvida: terá outra? Tudo então se acende em Maria, retornam os sentidos aguçados. Outra vez ele povoa seus pensamentos. Seus olhos buscam os de Pedro, que se esquiva. Fareja novidade, interroga-se sem resposta. Repara, procura, investiga. Maria passa a seguir Pedro. Às vezes recorda-se de que ele desejava conversar e ela adiava. Mas tudo voltou a se aquietar e a conversa ficou pra depois. O medo. De longe, Maria segue os passos de Pedro. Enfim, a descoberta: Pedro tem outro. O susto.
Atônita, arrasada, humilhada, se esquiva e volta para casa. Chora, revolta-se, reflete sobre os sinais que Pedro lhe dava e ela não enxergava. A constatação: traída pelo marido com outro homem. Seu mundo despenca, sua cabeça roda, seus olhos derramam lágrimas inesgotáveis. Dorme sozinha, curvada como um feto. Sonha e liberta-se. Acorda e o primeiro pensamento é: por que um homem? Reflete. Aceita? Passa o tempo. Pedro e Maria conversam. Ela fala, grita, interroga, desatina, chora, berra, sofre e cai até que a lucidez retorna. Sozinha, pensa nas poucas palavras de Pedro: estou seguindo meu coração e meu desejo. Esforça-se para compreender. Gosta dele, tem respeito por ele. Tenta absorver tudo aquilo. Corre o tempo. Maria entende que não é algo pessoal, é o destino dele. Aceita, finalmente, o fato: seu marido é homossexual. E ela? Por que se casou com um homossexual? Tenta entender. É um longo processo.
Separam-se sem litígio. Os filhos participam de tudo. Nada fica escondido. A verdade é íntegra. Há desequilíbrio. Há ajustes.
Agora, passados muitos meses, ainda se veem. Maria olha Pedro que agora é outro. Encanta-se, desconcerta-se. Ele é mais solto, criativo, mais pleno, mais vital. Apaixona-se. Não pelo ex-marido, mas por Pedro agora renascido, intenso, profundo, inteiro, revitalizado, feliz. Sabe que ele não é mais seu. Compreende tudo. Agradece a oportunidade que a vida lhe deu.
Parte em sua própria busca, plena de possibilidades.
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