Chegando cedo para trabalhar, num tradicional hospital militar que, há alguns anos, mais parece um quartel, surpreendo-me a observar algo que é muito evidente para quem se dispuser a enxergar.
Passo pela portaria pequena, onde há pelo menos cinco militares de prontidão, dois deles apenas para tomar conta dos funcionários que chegam para trabalhar. A julgar pelas suas aparências, estão sempre de mau-humor e com um jeito ameaçador (também, o que poderíamos esperar de quem já acorda para fazer um trabalho tão relevante e criativo desses?). Mais adiante, vejo perfilada outra legião de militares, homens e mulheres que dispensam pelo menos trinta minutos preciosos dos seus dias para saudar de forma histérica o diretor quando chega, faça sol ou chuva. Todos eles igualmente tensos, com caras de poucos amigos e vejo que um deles, de patente mais alta, fica destacado, próximo ao ponto onde irá estacionar o carro que traz a ilustre figura do militar comandante. Este então, traz na fisionomia todo o peso e humilhação da tarefa diária a que deve se submeter por imposição da hierarquia.
Sigo estupefata, rindo por dentro de pensar que quanto menor a substância, maior a empáfia, quando percebo que existe ainda um outro militar ao lado de um cone, que permanece por horas a fio, de pé, apenas para impedir que carros que não pertençam à cúpula da direção atravessem. Este mostra sinais evidentes de cansaço e desalento, já a esta hora da manhã.
E enquanto os dirigentes dessa casa se importam somente com detalhes de limpeza e apresentação das fachadas e tratam como cachorros ou bandidos os seus funcionários, para encobrir as falhas de administração gritantes, calamitosas, que trazem um risco cada vez maior para os seus usuários que imaginam ter um bom plano de saúde, nada melhora para aqueles que são lúcidos, bons profissionais, têm responsabilidade e ética. E, por incrível que possa parecer, é sempre capaz de piorar com a evasão crescente de profissionais, sucateamento de equipamentos e deficiência de materiais de consumo básicos.
E cresce o número de óbitos a cada dia, enquanto nas reuniões a cúpula alardeia falsamente, que este hospital só tem qualidades e padrão classe A no atendimento.
Finalmente, encontro com uma figura sorridente, cheia de disposição, carregando mangueiras, pás, ancinhos e uma foice apoiada com o pescoço, que me cumprimenta efusivamente e segue com entusiasmo para trabalhar de verdade, já que os jardins desse lugar constituem a única beleza e espelham a ordem da natureza. Os demais funcionários continuam, tristemente, encenando as suas farsas cotidianas, uma vez que é difícil coadunar compaixão, espírito científico e ética com hierarquia.
Passo pela portaria pequena, onde há pelo menos cinco militares de prontidão, dois deles apenas para tomar conta dos funcionários que chegam para trabalhar. A julgar pelas suas aparências, estão sempre de mau-humor e com um jeito ameaçador (também, o que poderíamos esperar de quem já acorda para fazer um trabalho tão relevante e criativo desses?). Mais adiante, vejo perfilada outra legião de militares, homens e mulheres que dispensam pelo menos trinta minutos preciosos dos seus dias para saudar de forma histérica o diretor quando chega, faça sol ou chuva. Todos eles igualmente tensos, com caras de poucos amigos e vejo que um deles, de patente mais alta, fica destacado, próximo ao ponto onde irá estacionar o carro que traz a ilustre figura do militar comandante. Este então, traz na fisionomia todo o peso e humilhação da tarefa diária a que deve se submeter por imposição da hierarquia.
Sigo estupefata, rindo por dentro de pensar que quanto menor a substância, maior a empáfia, quando percebo que existe ainda um outro militar ao lado de um cone, que permanece por horas a fio, de pé, apenas para impedir que carros que não pertençam à cúpula da direção atravessem. Este mostra sinais evidentes de cansaço e desalento, já a esta hora da manhã.
E enquanto os dirigentes dessa casa se importam somente com detalhes de limpeza e apresentação das fachadas e tratam como cachorros ou bandidos os seus funcionários, para encobrir as falhas de administração gritantes, calamitosas, que trazem um risco cada vez maior para os seus usuários que imaginam ter um bom plano de saúde, nada melhora para aqueles que são lúcidos, bons profissionais, têm responsabilidade e ética. E, por incrível que possa parecer, é sempre capaz de piorar com a evasão crescente de profissionais, sucateamento de equipamentos e deficiência de materiais de consumo básicos.
E cresce o número de óbitos a cada dia, enquanto nas reuniões a cúpula alardeia falsamente, que este hospital só tem qualidades e padrão classe A no atendimento.
Finalmente, encontro com uma figura sorridente, cheia de disposição, carregando mangueiras, pás, ancinhos e uma foice apoiada com o pescoço, que me cumprimenta efusivamente e segue com entusiasmo para trabalhar de verdade, já que os jardins desse lugar constituem a única beleza e espelham a ordem da natureza. Os demais funcionários continuam, tristemente, encenando as suas farsas cotidianas, uma vez que é difícil coadunar compaixão, espírito científico e ética com hierarquia.
Visitem Alba Vieira
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Um comentário:
Tá mais pra hospício, Alba, muito mais pra hospício. Se eu fosse você, dava logo o fora daí, senão vai acabar batendo continência... rsrs
Beijos e boa sorte...
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