talvez não seja nenhum outro
talvez não seja esse o planeta
talvez você não soubesse
pensasse ser diferente
quando o escolheu.
Quem sabe erraram o destino
quem sabe você errou sozinho
ou erraram seu feitio
te deram coração mole
e um peito fraco e franzino
e o medo te veio cedo
te veio ainda menino
e há muito você o carrega
como carrega as mãos.
E é assim mal acabado
mal cabendo em seu conteúdo
é assim tão sem espaço
se resumindo em tão pouco
que você enfrenta a luta
se nem te avisaram da guerra
que você enfrenta o tempo
que te controla e reserva
um corpo mais ressequido
um maior cansaço na espinha
um reflexo ainda mais lento
e uma grande aceitação.
É assim que você se protege
atrás dessa espécie de ausência
atrás desses olhos turvos
e dos livros de ficção.
E o jeito que você se esconde
dos seus próprios pensamentos
na comédia de cada dia
com seus olhos de todo dia
o seu heroísmo engolido
com a manteiga no pão.
E você ainda se assusta
com as coisas que acontecem
com seus sonhos remoídos.
Que adiantaram suas teorias
que importa outra guerra na guerra?
Meu Deus, o que estão fazendo...
se ao menos você pudesse...
Você e seu minúsculo destino
pequeno, patético, sentado
diante da televisão.
Alguém se enganou, é certo
certamente você mesmo
você e sua certeza tola
e esta apatia crônica
e esta odiosa obediência
e este não ver saída
nem entender como entrou.
Você e seus inúteis debates
frente ao espelho do banheiro
e o conflito entre sua conduta
e o que deveria ser.
Você chega a ser engraçado
com tanto peso e tão magro.
In “No Ritmo Dessa Festa”.
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Um comentário:
Adoro essa Bruna!
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