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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Lembranças de Minha Avó - por Ana Maria Guimarães Ferreira

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Em tempos de globalização ficamos muito parecidos uns com os outros e percebo, cada vez mais, como é importante resgatar e manter a memória de nossa história de vida, pois é através dela que conseguiremos fazer com que nossos descendentes possam vir a conhecer de verdade a pessoa única e diferente que fomos e que existe dentro de cada um de nós...

Gostaria de deixar aos meus netos as lembranças maravilhosas das coisas que vivi, que sonhei, que criei... para que um dia, se um deles quiser saber mais de suas raízes, possa encontrá-las através das minhas histórias de vida...

Quem sabe assim poderá sobreviver ao tempo e à globalização a imagem da mulher que fui, com todos os fatos de uma vida mesclados com todos os sentimentos que tive de amor, paixão, vontade de viver, adocicados pela imaginação de alguém que viveu na época da bossa nova, que viu a revolução sexual, que conseguiu fotografar na memória as mudanças do mundo nesses anos 60, 70, 80, 90. Anos em que vivi e que foram cenários de muitos fatos e de muitas recordações.

Como, por exemplo, as minhas lembranças da infância.
Sempre esteve presente em minhas lembranças a imagem de minha avó como alguém muito querido, alguém cujo colo me confortava nas férias escolares. Que fazia doces de jaca, de banana, bolinhos de chuva, alguém com quem eu ouvia as novelas no rádio e que me fazia vestidos de grandes laços. Seus doces e seus lanches eram muito, muito melhores que os da Tia Anastácia do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

As histórias dela eram um adentrar no mundo da fantasia. Com ela conheci As Mil e Uma Noites, conheci príncipes e princesas, reis heroicos, rainhas más e sempre com um final feliz.
Conheci, pelas novelas do rádio, o Jerônimo, o Herói do Sertão e Aninha, os heróis de minha avó.

Com ela aprendi a repassar essas histórias a meus filhos, que também ouviram de minha mãe os relatos que iam sendo repassados de geração em geração, que vinham com um valor afetivo enorme e, é claro, um valor histórico maior ainda.

Lembro de seus grandes cabelos negros com entrelaçados brancos que viviam presos num coque e que a minha maior glória era quando ela soltava, à noite, aqueles longos cabelos e os penteava. Não sei o que eu pensava ou sonhava quando isso acontecia, mas eu esperava sempre ansiosa o momento de tocar naqueles longos cabelos e afagá-los como se eu enfiasse a mão numa nuvem.
Meus pequeninos dedos pareciam mergulhar naquela imensa cabeleira e pareciam afundar num mar calmo de onde não queriam sair...

Sentia-me amparada e sem medo naquele colo macio e grande em que cabiam tantos netos.
Dividia com meus irmãos e primos aquela imensidão de colo, aquela imensidão de amor, sem ciúmes.
Não me lembro, quando ela morreu, o que meus pais me disseram.
Não sei sequer se sabia avaliar a morte como separação para sempre, mas me lembro que as idas à Gávea nas férias deixaram de acontecer e que meu coração criança começou a sentir aquilo que mais tarde eu iria saber o nome – aquele sentimento de dor, de vazio, de nunca mais, da ausência do colo, do afago, dos cabelos longos soltos e presos – saudade!
Foi isso que conheci como dor primeira e que senti sem saber porque doía tanto... .

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Monteiro Lobato

Um comentário:

Ana disse...

Muito lindo, Ana Maria, muito lindo mesmo...
Beijo!