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sábado, 15 de agosto de 2009

Bruna Lombardi, “Como Se Fosse” - Citada por Penélope Charmosa

Nessa memória essa ela era eu
e não tinha luz de vela,
mas só muito depois (quantos anos?)
é que escureceu.

Foi então que eu soube de você menino
curto calção
e das histórias de assombração
que você aprendeu primeiro.

E eu te contava do medo
do escuro e do silêncio
que eu não perdi, acredite.

A gente ia pro moinho
escondido no meio do mato
e era você quem falava
você que tudo sabia
você que até já tinha
visto um javali

e era eu quem fugia dos bichos
e hoje continuo fugindo
de outros mais graves, mais feios
que me habitam.
E não há faca, espingarda
pedra ou caco de vidro
e nem grito nem veneno
que afugente essa ausência
ou que essa solidão tema.

E você era o valente
montava cavalo em pêlo
nadava na correnteza
desbravava mato cerrado
e de noite então, ia sozinho...

e me chamava gritando
do cimo do morro mais alto
.......e eu subindo devagar
.......(hoje eu desço)
desço à rua em movimento
e é sempre a mesma estúpida vertigem
fantasmas de pedestres em todos os sentidos
uma duplificância de ruídos demais
uma impressão de coisa já vivida
e é sempre o mesmo medo
de me expor, a mesma desproteção
sob a geometria caótica da rua.

E eu tentava imitar você
tentava tanto ser.
Mas você era dessas almas fortes
que circulavam livremente
e eu tentava... mas como?
de que jeito?
era como mudar a natureza
e a natureza já estava lá quando chegamos.

Com o facão de um só golpe
você cortava a cana
enquanto eu imaginava
num acidente tolo
o facão me desventrando
e tripas, sangue e cana misturados
com terra e roupa suja
e o meu chapéu de palha atirado longe
e o sol ardendo muito. O mesmo sol.

Depois você me ensinou a contar mentira
e eu fui aprendendo com grande habilidade
e desde então tenho me mentido muito.



In “No Ritmo Dessa Festa”.
.
.

Um comentário:

Ana disse...

Muito bom, Penélope!
Tô adorando!
Beijo!