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sexta-feira, 24 de julho de 2009

A História do Burrico - por Adir Vieira

O sol estava a pino e pequenas e constantes gotas de suor cobriam meu rosto enquanto eu tentava desamarrar daquela árvore, ali no imenso pátio da chácara, o burrico manso que ficou ali esquecido pelo caseiro desde as onze horas da manhã.
Enquanto minhas tentativas não logravam êxito, eu lhe dava água e conversava com o bicho que, àquela altura, já a recusava, demonstrando que seu único desejo era correr pelos campos, haja vista tanto tempo ali ficou aprisionado.
O nó da corda era firme e exigia mãos fortes de um homem do campo para desatá-la e eu, com minhas mãos femininas e frágeis, percebi, ao longo de mais de vinte minutos, que jamais conseguiria.
Já eram mais de quatro horas da tarde e empregados das cercanias já tinham deixado seu posto. Àquela hora, moradores do local não costumavam estar presentes nas áreas externas, pois era comum se reunirem na grande sala de jantar para o lanche da tarde.
Caso eu chamasse alguém, não seria ouvida, pois minha voz se perderia naquela imensidão.
Como estava a caminhar pelas redondezas, não tinha comigo os apetrechos necessários, como tesoura e faca, para dar a liberdade ao burrico.
Agora, talvez sentindo que eu não o salvaria, desalentado, o coitado se estirava na grama seca e quente com choramingos característicos da dor que sentia por estar ali há tanto tempo.
Olhei ao redor e nada, sentei-me na grama e minhas roupas me protegeram, impedindo que eu sentisse a dor que o bichinho sentira. Pensei mil formas de libertá-lo, todas sem sucesso.
A cada tentativa, mais e mais o bicho se debatia, como a me pedir que não buscasse mais a salvação. Observei que naquele vai e volta perdi umas duas horas, quando me vi uma vermelhidão só, com o rosto em brasa. Tentando salvar o burrico, também trouxe para mim as mesmas dores e o sol não distinguia personagens naquela história.
De pronto esqueci o burrico, lembrando apenas de mim mesma e da minha tremenda ignorância.
Ato contínuo, danei a correr pelos pastos em direção a casa e em apenas quinze minutos me salvei e salvei o burrico, chamando o caseiro para soltá-lo.
Na maioria das vezes, na vida, buscamos formas complicadas de solução para os problemas, quando julgamos sermos capazes de solucioná-los sem ajuda.
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Um comentário:

Ana disse...

Adorei sua história!
Verdade inconteste e pouco explorada em termos de necessidade de autoconsciência! Muito boa a narrativa e o tema!
Parabéns!
Beijos!