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quinta-feira, 5 de março de 2009

Sonha, Dor... - por Ana

- Acorda Tom, vem ver
Que a vida não melhorou
Acorda Tom, vem ver
Deixa de ser sonhador

- Já vô, pai, eu já tô indo...
Deixa eu sonhar mais um pouco...
No sonho eu compro sorvete
E ainda fico com o troco.

No sonho não tem urubu,
Não tem lixo, tem chuveiro,
Eu sei ler e vou às aulas,
Tenho cama e travesseiro.

No sonho não brigo com cães
Pelos restos de comida,
Não sinto este cheiro ruim
Que domina minha vida.

No meu sonho, pai, me ouve,
Você era um cara bacana:
A gente ia passear
Todo final de semana.

Não me tratava a pedrada,
Não me dava pescoção,
Não judiava de mim
Me afogando no lixão.

Eu tinha mãe e irmãos,
Ria, corria, brincava,
Quando fazia a lição
Todo mundo me ajudava!

Eu era o filho menor,
Todo limpo, arrumadinho,
Tinha bola, tinha pipa
E um monte de carrinhos.

Ouve, pai, mais um pouquinho
O que eu quero te dizer:
No sonho eu te dizia
Que gostava de você.

E no sonho a gente era
Gente mesmo, não era bicho,
A gente tinha uma casa
E não dormia no lixo.

Não sei como tô falando
Tanta coisa pra você...
A gente nunca conversa...
Não tem nada pra dizer...

Você não me faz um carinho,
Nunca olha para mim,
Eu também nunca te olho
E vamos vivendo assim...

Mas falar e te contar
Meu sonho é muito bom.
Quero dizer outra coisa,
É importante...
.....................- ACORDA TOM!


Inspiração e primeira estrofe de..................................................
Escravos Urbanos”, de Casé Uchôa...................................................
.

3 comentários:

Anônimo disse...

Puxa, Ana, que bacana.
Ficou lindo, mesmo.
E o final... caramba, grande idéia.
Isso é que é interagir!
Valeu mesmo...
Grande abraço!!!

Anônimo disse...

Que bom que você gostou!
Fiquei com receio de que você não fosse gostar do perfil do pai... Fui escrevendo e, quando vi, ele já era malvado... rsrs
Obrigada mesmo pelo elogio.
Um abraço também.

Anônimo disse...

é que uma hora dessas a chuva passa
o sol sai
e a gente vai
deixa aquela mala cheia de poesia
deixa aquelas páginas escritas
deixa os por fazeres
deixa o sentir no pote de nescafé
guardado feito doce da vovó
fecha as gavetas e sai
arruma a bagunça
abre as janelas de um novo lar
o ar novo
respirar
e ai a gente respira um novo lugar...
[Laiz Mara Meneses Macedo]