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Eróticos.)




segunda-feira, 9 de março de 2009

Ressurreição - por Alba Vieira

Frio vento cortante, naquela praia deserta, onde o barulho das ondas violentas trazia o cheiro de maresia. Ele andava esquivando-se de pensamentos horrendos que o perseguiam desde o amanhecer e que haviam empurrado aquela alma atormentada até ali, naquela noite.
Sentia-se alquebrado, não que lhe doesse o corpo, mas o que quase ruía era a alma culpada pelo que tinha causado a quem tanto amava. A dúvida corroía seu coração. Seria mesmo verdade que ela tivera coragem de fazer o que lhe escrevera naquele bilhete que tinha recebido pela manhã? E será que de fato a amava, se não tivera a coragem de assumir um filho, fruto desta relação?
Só havia uma certeza: aquela frase curta que dizia “Pode sossegar, tirei o nosso filho.”, era como uma sentença para ele - morra!
Não desejava isto quando a notícia dada por ela na semana anterior desencadeara nele reações de revolta, egoísmo, desamor e covardia.
Só agora se dava conta do alcance de suas palavras insensatas e seu desaparecimento irresponsável, deixando confusa, desamparada e, sobretudo, tomada pela rejeição, aquela mulher que acreditava no seu amor.
Fizera isto por imaturidade e fugira até que se acostumasse com a ideia de que o futuro seria diferente dos seus planos individualistas.
Mas, de que importavam agora seus motivos, se tudo estava consumado? Era um assassino. Matara seu próprio filho. Não se achava digno de continuar. Ou de ao menos duvidar da veracidade da notícia escrita no bilhete, última gota de esperança capaz de evitar sua intenção momentânea.
Seus pés pisavam a areia, às vezes resolutos, outras vezes arrastando-se, e raramente seguiam em linha reta. Ia em direção às pedras.
O vento mais forte agora agitava seus cabelos sem ser capaz, entretanto, de colocar-lhe as ideias no lugar. Subiu ao ponto mais alto e olhou o mar. Aquela imensidão revolta, o cheiro de maresia, o barulho do vento...
Entendeu que das alturas era advertido agora. Não teve medo, porém. Queria misturar-se às águas, absorver, se possível, a força do mar ou perder-se de vez na sua grandiosidade.
Ia saltar quando, de repente, uma ponta de lucidez iluminou sua mente: não era verdade, seu filho estava vivo, sabia. O bilhete era só ameaça, ela não teria coragem, não era da sua natureza arrancar a vida de alguém. Ela amava a vida tanto quanto ele e era mais segura. Era mentira o que escreveu, estava certo disto.
Agora seu coração se agitava, esboçava no rosto um sorriso, ganhara nova vida, o vento frio não mais fustigava sua pele, o calor da alegria protegia seu corpo e lhe dava todas as forças necessárias para correr de volta pela praia.
Correu uma longa distância, a mesma que separava o ainda menino do quase homem feito. Estava diferente.
Voltou para a cidade e procurou sua amada naquela mesma noite. Estava certo. Quando ela lhe abriu a porta, seu olhar era de saudade e desejo, aplacados num abraço de encontro entre beijos molhados por lágrimas frias de ressurreição.



Texto cujos título e início foram utilizados para Ressurreição - As Nossas Histórias III.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Legal!